Nesta entrevista exclusiva ao A TARDE, o senador demonstra estar atento tanto ao cenário político quanto eleitoral. Wagner garante que Lula está com a saúde em dia e reafirma que o presidente é o plano A para disputar a reeleição. “Olhando hoje, eu não vejo necessidade de nenhum plano B. Na minha opinião, o candidato será ele”, afirmou.
Sobre o panorama na Bahia, Wagner considera natural a formação de uma chapa liderada pelo governador Jerônimo Rodrigues, acompanhada por dois ex-governadores: Rui Costa e ele próprio. Confira os detalhes na entrevista a seguir.
Em 2024, o governo Lula tem números positivos para mostrar na geração de emprego, controle da inflação, crescimento do PIB, mas ainda assim o ano terminou com dólar subindo 27% e juros nas alturas. Essa desconfiança do mercado em relação à capacidade do governo de controlar gastos tem um viés mais político e ideológico ou está relacionado a fatores estruturais da economia?
Sinceramente, não consigo deixar de enxergar um viés político nessas avaliações que se proliferam na mídia e nas redes sociais. Como você disse, criamos um ambiente onde o desemprego está lá embaixo, o fim de ano nas lojas estourou, tinha lugar de turismo que faltou gelo, faltou isso, faltou aquilo. Ou seja, há um consumo das famílias. E a justificativa para fazer com que o dólar suba é: eu acho que vocês não vão conseguir cumprir o que estabeleceram. De novo, botaram a previsão de crescimento do PIB para 2%, se não me engano. Ano passado botaram 2% e acabou dando 3,6% de crescimento. Previsão de economia é um pouco de aposta no risco. Porque quem aposta no pré-fixado ou no pós-fixado está querendo que dê certo o que apostou. Ainda assim é meio estranho essa coisa do dólar subir porque você acha que, no ano que vem, não vai conseguir cumprir a meta. Eu não sei de onde tiram isso. O atual ministro da Fazenda já foi prefeito e deixou as finanças da prefeitura de São Paulo, que tem o terceiro maior orçamento do país, arrumadas. Lula foi presidente por oito anos e não me consta que tenha cometido nenhuma irresponsabilidade fiscal. Ao contrário: sempre manteve as finanças do país no prumo e nunca foi gastador. Agora, ele não pode chegar ao governo e deixar de fazer os investimentos sociais que estavam praticamente zerados no governo anterior. É óbvio que a gente remontou a rede social de proteção e os números estão aí para provar. Milhões de pessoas saíram da extrema pobreza. Não consigo enxergar como se fosse só um puro jogo de mercado, de avaliação econômica. Para mim, há um processo de construir um ambiente negativo em relação à projeção do governo do presidente Lula. E é fácil até de entender isso. É só olhar o que está acontecendo pelo mundo. Quantos líderes mundiais da estatura do presidente, com a visão que ele tem da área social, existem hoje para puxar esse movimento? Sinceramente, só enxergo ele. Pode ter mais um ou outro. Agora tem o presidente do Uruguai, mas é óbvio que o país tem uma dimensão muito menor, não é a mesma coisa.
O pacote fiscal do governo foi aprovado pelo Congresso no final do ano passado e já foi sancionado pelo presidente. O senhor acredita que ele é suficiente para fazer com que o governo não exceda nos gastos? A essência do pacote foi mantida pelo parlamento?
Nós vivemos numa democracia e fica parecendo que tudo que saiu do forno foi como o Executivo queria. Em geral não é e nunca será. Quando chega ao Congresso Nacional, ele tem o direito de interagir com aquilo que foi feito. É evidente que o pacote não está como a gente desejava. Mas aí não adianta botar essa responsabilidade em quem não a tem, que é o Executivo. O Congresso reagiu, como reagiu às decisões do ministro do STF, Flávio Dino, sobre emendas parlamentares. E todo mundo sabe que, só no ano passado, foram mais de R$ 53 bilhões em todos os tipos de emendas. Isso representa uma parcela significativa do orçamento discricionário, deve dar, mais ou menos, 40%. Quando eu digo discricionário é porque transferência sobre despesa obrigatória – salários de servidores, aposentadorias, etc – você tem que tirar. Orçamento discricionário é tudo que sobra para um presidente da República, eleito com milhões de votos, dizer, eu quero fazer esse ou aquele investimento. E 40% disso é usado pelo Congresso. Não estou nem falando do mau uso do dinheiro público. Estou dizendo só que o protagonismo sai das mãos do presidente. E o incremento de emendas que foi feito aí, pelo amor de Deus. Outro exemplo: o Congresso prorrogou o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Serviços) e as desonerações tributárias em cima de uma série de setores sobre folha de pessoal. Só essas duas juntas deram R$ 45 bilhões. E R$ 45 bi foi o gap que nós tivemos, o que eles chamam de dívida. Essas coisas não são da responsabilidade do governo, mas tenho que respeitar o Congresso Nacional. O Congresso incrementou emendas, incrementou um leque de renúncias fiscais e depois a responsabilidade do equilíbrio fiscal é só do governo. O Executivo é uma parte, mas muita despesa é sugerida ou criada pelo próprio Congresso. O pacote para mim é um sinal, principalmente se pegar ele no original, de que o governo tem consciência que precisa estabelecer regras e controlar gastos. Agora, o governo não joga sozinho na democracia.
O senhor citou a decisão do ministro Flávio Dino que barrou o pagamento das emendas parlamentares, gerando ainda mais tensão entre STF, governo e Congresso. O senhor acredita que vai ter impacto na relação entre os poderes?
Ninguém quer sair da zona de conforto. Na verdade, o Congresso, nos quatro anos do governo anterior, ganhou um protagonismo muito grande, porque o presidente anterior não gostava de fazer política. O que ele fez foi dar conforto ao Congresso com a distribuição de emendas. Agora, a decisão do ministro Flávio Dino tem a ver com responsabilidade fiscal, transparência de para onde vai o dinheiro, quem é que está gastando. Não é razoável que se gaste o volume de dinheiro que se gasta com emendas e que os caminhos de parte delas estejam obscuros. E foram vários os escândalos que apareceram ao longo do ano, de cidade miúda recebendo um volume de dinheiro absurdo, de contratos inexplicáveis. Não vou acusar ninguém, porque eu não sou Polícia Federal, nem Ministério Público, e não me cabe ficar fazendo investigação. Agora, as decisões do ministro Flávio Dino pretendem dar mais transparência ao uso do dinheiro público. Aliás, um dos pré-requisitos que o Tribunal de Contas da União analisa é o bom uso do dinheiro público. E seguramente, se fosse analisar algumas das utilizações das emendas, não me parece que foi a melhor utilização para o dinheiro público, principalmente se falando em responsabilidade fiscal. É preciso que as pessoas não façam discursos e tenham uma prática totalmente antagônica. O que eu mais ouço no Congresso é responsabilidade fiscal, mas o que eu mais vejo é renúncia fiscal, programas para ajudar setores específicos, que comprometem o equilíbrio do orçamento.
Mas o senhor acha que essa decisão pode, de certa forma, elevar a tensão entre governo e Congresso?
As relações na democracia sempre serão tensas. E há uma queda de braço principalmente em torno da questão das emendas. Como disse, ninguém quer sair da zona de conforto. Quem se acostumou a ter um volume de emendas muito alto, quando vê algum tipo de cerceamento, reage. Agora, a decisão não foi do governo, é do Supremo Tribunal Federal. Nós fizemos um acordo entre as três partes, o Congresso, o governo e o Supremo. O presidente, inclusive, assinou o projeto de lei que desceu para o Congresso com o acordo feito. Ele foi modificado no Congresso e depois houve, eu diria assim, uma reação do Supremo que endureceu mais ainda o jogo. É preciso que as pessoas tenham a disposição de cumprir o discurso da responsabilidade fiscal.
Havia muitas críticas, a exemplo do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, e até do próprio presidente Lula, em relação à articulação política do governo no Congresso. Esses projetos aprovados mostram que a articulação está mais azeitada?
Eu acho que a crítica é injusta, de falar que a articulação política não estava bem. Essa é a retórica que se tenta vender para fora. A articulação política enfrenta dificuldades, porque não é mais o mesmo governo que tinha e que soltava a mão de emendas de qualquer jeito. Óbvio que é outro governo, outra concepção, outro projeto político. Por exemplo, no caso do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), ele tinha que apertar. E quando ele aperta tem uma reação. Mas a opinião pública não concorda com a gastança das emendas, com o que está acontecendo no Congresso. Por isso que o ibope do Congresso não está nem tão elevado. Essas críticas estão relacionadas à mudança de governo e ao estilo de governar. O presidente Lula é um animal político, que gosta de fazer política. Para ele, a política não está reduzida a uma troca de interesses, o que o governo quer, o que o Congresso quer. Ele exercita a política realmente. Quando a gente começou a apertar o volume de emendas, que realmente era e ainda é um exagero, eu não tenho dúvida que isso dificultou. As pessoas reagiram a isso. É preciso saber qual é o objetivo da articulação política. Se for para abrir o cofre, qualquer articulação política vai bem demais. Mas se for ter uma articulação política com responsabilidade fiscal, você sempre vai ter dificuldades com o Congresso.
O senhor falou de como o presidente gosta de fazer política, e as eleições de 2026 daqui a pouco estão batendo à porta. E, quando se fala na eleição, sempre vem à tona a questão da idade de Lula. Com o acidente doméstico recente que ele sofreu, essa questão voltou novamente. Lula continua sendo o plano A para ser candidato à reeleição?
Eu falei com o presidente agora no dia 31, para desejar um bom ano, e ele tinha acabado de fazer um novo exame. Está tudo bem. Perguntei como ele estava. Ele disse que estava 99%, chegando aos 100% já, já. Eu não vejo, por enquanto, nada contra, nem vontade política, nem energia física, nem condição de saúde. Ele é um cara que todos os dias, às 6h da manhã, está em cima da esteira, pega peso, joga bola. Teve esse incidente doméstico e Graças a Deus está tudo superado, por mais que a gente tenha passado um susto, porque foi na cabeça. Olhando hoje, eu não vejo necessidade de nenhum plano B. Na minha opinião, o candidato será ele. Recentemente, eu tive que fazer uma cirurgia no pé. Se o caboclo quiser pegar isso para dizer, olha, Wagner já não está com a saúde tão boa. Não tem nada a ver. Eu digo a você que a cabeça dele continua com a mesma memória, a mesma energia. Hoje em dia você sabe que a guerra de comunicação é muito intensa. Mais até do que pelos veículos, vamos chamar assim, tradicionais, mas pelas redes, se prospera uma mentira, que dita sei lá quantos milhões de vezes, vai tendendo a ser verdade. Hoje, por exemplo, eu estava ouvindo um comentário. É uma coisa curiosa. Na Covid, o desemprego estava muito mais alto. Pelo óbvio, o PIB era muito menor e se tinha uma confiança de futuro, sei lá, de 58, 60%. Agora o desemprego está lá embaixo, o fim de ano mostrou uma energia na economia, o PIB cresceu mais de três pontos e, no entanto, o grau de confiança é 47%. Há uma influência construída que a gente vai ter que saber lutar contra ela.
O senhor citou a comunicação e o presidente já sinalizou que vai mudar essa área no governo. O que o governo vem errando nessa área e que pode fazer para melhorar?
Eu não sou especialista, mas acho que a gente tem muito mais coisa feita do que comunicada. Tem um gap de comunicação que precisa ser esclarecido. Ou nós estamos utilizando mal, ou não estamos sabendo como focar. E essa eu diria que é a sensação do presidente, porque ele sabe tudo o que o governo fez em dois anos e vê que a gente não está conseguindo botar isso para fora. Então, é preciso realmente mudar. Não sei te dizer qual é a fórmula, mas a gente precisa azeitar mais essa comunicação para poder botar para fora. Não sei se é pela via da rede, pela via da propaganda, vou chamar assim institucional, mas a verdade é que nós temos uma construção desse tamanho e uma comunicação abaixo dela.
Falando em mudança, o presidente também já sinalizou, não sei se uma reforma ministerial, mas pelo menos para ajustes no primeiro escalão do governo. Como o senhor está vendo essa possibilidade?
A última vez que eu conversei com ele sobre esse assunto foi antes do acidente. Ele quer fazer mudanças, mas sem essa conotação de reforma. Não terá a dimensão de reforma. A área de comunicação acabou ficando muito exposta que ele quer mudar. Seguramente deve ter outras áreas que ele acha que não estão performando, que pelo menos não estão conseguindo transmitir para fora aquilo que está sendo feito. Acho que o presidente vai fazer alguma mudança. Eu só vou estar com ele na segunda ou na terça-feira da semana que vem. Mas, repito, não acho que ele vai fazer uma coisa com cara de reforma política. É óbvio que, em toda mudança, pode ter alguma acomodação política de um partido ou outro que queira se movimentar dentro do tabuleiro do governo. Mas não vai ser uma coisa grandiosa, não.
Já estão praticamente confirmados os nomes do deputado Hugo Motta e do senador Davi Alcolumbre para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Está otimista em relação aos dois?
No caso do Senado, que é o que eu cuido, a relação com o senador Davi é bastante boa. Ele já teve algumas conversas com o presidente da República e já foi presidente do Senado. Ele costuma usar uma frase que, na minha opinião, está correta: quem ganhou a eleição, governa. Quando nós perdemos a eleição para Fernando Henrique, eu disse para a turma do PT, olha, quem ganhou foi o projeto dele. Não adianta a gente querer ficar empatando ele de governar. É melhor a gente minimizar os danos e tentar consertar aquilo que não acha positivo. Agora, não dá para ficar querendo interditar. O Davi tem um pouco essa concepção. Quem ganhou a eleição foi Lula e acho que a nossa obrigação é ajudar ele a governar. Então, naquilo que é central para o governo, acredito que não teremos dificuldade. Em relação à Câmara, eu não tenho nenhuma intimidade com o deputado Hugo Motta, que tudo indica será o próximo presidente. Mas o que todo mundo me fala é que é uma pessoa de trato afável e é bom de conversa. Também acho que não teremos problemas.
Indo para o cenário político baiano, muito se comenta sobre mudanças no governo Jerônimo. Qual a sua avaliação sobre esses primeiros dois anos? Já dá para perceber qual a personalidade, ou a marca, da atual gestão?
Eu acho que inevitavelmente a marca do governador será a educação. Até porque ele foi secretário de Educação e criou junto com o ex-governador Rui Costa todo esse quadro de escolas novas de tempo integral. Em algumas cidades, essas novas escolas viram até motivo de visitação. Tem município que a escola é o prédio mais bonito da cidade. Eu não sei se o nome vai ser escola bonita, escola ideal, que nome vai ter, mas é um espetáculo o programa. São escolas cheias de área para as crianças, em terrenos de 10, 12, 15 mil metros. Ele também acabou de abrir um concurso para professor universitário, oferecendo mais vagas do que eu ofereci em oito anos, mais do que o Rui ofereceu em oito. É muita a cara dele, que foi professor universitário, e da mulher, que foi vice-reitora da Universidade Federal do Recôncavo. Inevitavelmente, a educação será a marca do governo de Jerônimo. Rui trabalhou muito na área de saúde, eu acabei virando o desbravador, e também fizemos muito, oito mil quilômetros de estrada. São áreas que ele vai fazer também, mas pode ser que não ganhe o destaque que vai ganhar, quando chegar perto do final do governo dele, o volume dessas escolas modernas que a Bahia nunca teve. Teve com Anísio Teixeira a Escola Park, na Caixa d’Água. Depois foram escolas de dimensão, eu diria, mais restrita. Portanto, para mim, o que vai ficar consolidado como marca do governo Jerônimo será essa marca da educação. Além das características pessoais que são, sem dúvida nenhuma, um forte dele. Jerônimo é uma pessoa extremamente humilde, é muito bom na rua, conversa com todo mundo. Isso dá às pessoas a sensação de que temos um governador que é gente como a gente. Essas duas questões são fundamentais. O desempenho pessoal, que todo mundo conhece. Como disse, ele é uma pessoa simples, humilde, que ouve e abraça as pessoas. E creio que nessa área de execução, sem dúvida nenhuma, a educação vai pontuar.
Uma característica do governo Jerônimo é a jovialidade. São muitos jovens ocupando cargos de secretários e de alta gestão, muitos em sua primeira experiência na gestão pública. Mas essa a imagem de um governo jovem está mais associada ao novo carlismo na prefeitura. Por que o senhor acha que isso acontece?
A renovação de quadros é uma obsessão minha. Eu acho que as empresas fazem, a direita faz, e nós temos que fazer também. Eu impulsionei muito isso. O presidente do PT estadual hoje é um jovem, a direção do PT tem muitos jovens. Realmente me agrada muito quando você olha para uma reunião do secretariado de Jerônimo e vê uma moçada extremamente jovem. Você pode pecar por ter menos experiência, mas ganha em vitalidade. As instituições estão tendo que se modernizar porque a dinâmica, inclusive da tecnologia, é muito grande. Eu pessoalmente bato palma para esse secretariado dele de gente jovem, que é um estilo que eu venho sempre trabalhando dentro do PT. Em torno do meu mandato também tem muita garotada, como eu chamo. A virtude é você saber juntar a experiência dos que já erraram mais, porque já caminharam mais, com a vitalidade dos que erraram menos porque são mais jovens. Você ganha com a experiência de um lado e a vitalidade do outro.
Poderia ser uma característica a ser mais divulgada pelo governo dele?
Eu acho que sim, mas na verdade, isso depende também da questão da comunicação. Tem que botar essa moçada mais jovem para aparecer na mídia. Eu diria até que o pessoal de direita foi mais rápido nisso. Mas agora a gente está entrando.
O senhor acredita que dá para compor uma chapa com um governador e dois ex-governadores do mesmo partido, com Jerônimo, Rui e Wagner? 24 anos depois da chapa com Paulo Souto, César Borges e ACM, ainda cabe uma chapa majoritária que exclua aliados?
Sem aliados a gente nunca vai fazer, mesmo na chapa majoritária. Lembre que ainda tem o vice. Agora, eu acho que essa chapa, você poderia batizar de trio do sucesso. Porque são três governos que fizeram a Bahia prosperar e muito, se modernizar e muito, mudando as relações políticas dentro do Estado, entre o Estado e a sociedade, Estado e a imprensa, Estado e os movimentos sociais, do Executivo com o Judiciário e o Legislativo. Estou dizendo que acho bem possível que uma chapa com esses três. Querendo ou não, é quem representa o Executivo. Quem comandou esse processo o tempo todo foi esse trio e eu diria que é um trio de sucesso . E acho que seria ou será uma chapa muito forte. A gente vai acomodar todo mundo. Vou repetir, não apostem em racha, porque não vai haver. O grupo como um todo, a família como um todo, já tem maturidade suficiente para entender o jogo e a gente vai saber encaixar todas as nossas peças. Jerônimo tem o direito à reeleição dele. Rui, que ficou até o final no governo como eu fiquei, tem todo o direito de pedir uma vaga de senador e eu também. Mas, repito, tem uma vaga ainda de vice. Hoje nós temos um vice que não é do PT. Mas eu diria que, pelo peso dos nomes, é muito natural se tivermos uma chapa com três governadores. O Jerônimo é candidato à reeleição, é muito natural eu ser candidato, como óbvio seria natural o Coronel também ser candidato. Mas à medida que Rui demande, porque ele ainda não deu a declaração explícita que pretende ser, não tem muito como contestar. Há uma naturalidade. E eu digo sempre que a política convive com a naturalidade das coisas.
Falando em 2026, vimos a expansão da oposição ao governo do PT nas maiores cidades da Bahia. Especialistas apontam a capacidade dessas cidades, como polos regionais, influenciarem o eleitorado das cidades menores, que foram fundamentais para a vitória de Jerônimo. Como evitar essa tendência?
Esse é um desafio nosso. Realmente nas grandes cidades a gente reconquistou Camaçari, reconquistou com o aliado Juazeiro. Mantivemos Itabuna com um aliado, perdemos Ilhéus e Lauro de Freitas.Ficou uma situação semelhante à que estava. Juazeiro era uma cidade polo que a gente ganhou e não estava na nossa mão. Conseguimos, com os aliados, vencer em 340, 350 municípios. Então, acho que a gente chega forte em 2026. Agora, eu concordo com você. Há uma interrogação para entender porque agora não conseguimos reconquistar um número maior de cidades médias e grandes. É uma coisa que o pessoal nosso que trabalha com essa área de interpretação, de pesquisa tem que mergulhar. Porque, em 2022, o presidente Lula ganhou em praticamente todas essas cidades. Acho que ele só perdeu em Luís Eduardo Magalhães, mas das grandes ganhou em todas. Em 2024, em Feira, por exemplo, batemos na trave, como se diz. Aqui em Salvador foi pior. Em Vitória da Conquista também não foi bom. Em Ilhéus também batemos na trave. Se você me perguntar se eu queria que fosse melhor, vou responder, lógico que eu queria. Eu queria ter conquistado um número maior de cidades médias e grandes. Porém, a gente ganhou na maior cidade da região metropolitana, que é Camaçari. Uma cidade extremamente importante, pelo polo industrial, pelo orçamento que tem. E ela influencia muito a região. Ganhamos em Juazeiro, que é um polo industrial, que tem uma influência muito grande. Perdemos Ilhéus, mantivemos Itabuna. Diria que na região Sul está equilibrado. Perdemos Conquista, que é uma cidade que influencia o entorno. Mas ganhamos em outras cidades da região. Eu acho que a gente chega bem. Mas toda eleição tem que ter muito trabalho. E a gente tem que começar a se debruçar sobre isso e preparar o time para a disputa de 2026.
A economia baiana segue hoje dependente da indústria do petróleo e petroquímica, em um mundo em transição de modelo econômico. O senhor que iniciou a implantação da energia eólica em nosso estado, pode dizer como a Bahia fará a transição da sua economia?
Na verdade não é bem petroquímico, porque o polo nasceu petroquímico, mas hoje ele é um polo industrial. Acabamos de receber a BYD, que vai gerar nos próximos anos muitos empregos e muita renda para o estado, porque ela se multiplica com as empresas que vão trabalhar no entorno disso aí. Conseguimos trazer ainda no meu tempo uma nova unidade da Basf, que foi extremamente importante. E nessa área de energia limpa nós capitaneamos energia eólica e solar também, pela característica que a gente tem como natureza. O estado é muito grande e tem três biomas. Três sistemas de clima diferentes. No oeste com o agronegócio, a agricultura familiar também vem crescendo muito. A gente deu muito incentivo a qualificação da agricultura familiar. A economia baiana é muito plural. Você tem a indústria do turismo, que pode ser muito amplificada. Tem o hidrogênio verde, que a gente tem muito potencial. Estamos atrás de novas empresas. Temos obras importantes que finalmente estão começando a sair do papel como a ponte Salvador-Itaparica. É óbvio que o projeto foi abalroado pela Covid. Além de parar tudo, houve uma mudança de preços de insumos muito grande. Mas vai, sem dúvida, ser a maior obra do estado junto com a Ferrovia Oeste-Leste. Nós temos muita mineração para crescer no estado. A própria Bamin, ali em Caetité, tem uma tendência a ser incrementada porque foram descobertas outras minas. A Bahia, junto com esse momento que o Brasil está vivendo na economia, vai continuar crescendo.
Raio-X
Líder do governo no Senado, Jaques Wagner nasceu no Rio de Janeiro em 1951. Filho de imigrantes judeus poloneses, iniciou a militância política no movimento estudantil da PUC-Rio em 1969. Perseguido pela ditadura militar nos anos 1970, deixou o curso de Engenharia e se mudou para a Bahia em 1974, onde atuou na indústria petroquímica em Camaçari e presidiu o Sindiquímica-BA. Fundador do PT e da CUT na Bahia, foi deputado federal (1990, 1994, 1998), governador da Bahia (2006, 2010) e ministro de Dilma Rousseff (Defesa e Casa Civil). Em 2018, foi eleito senador, com mandato até 2026.