Elmar teria ‘ameaçado’ aliados ao saber da PEC da reeleição na AL-BA: “Diga a eles para esquecer as emendas”
Por Carine Andrade
Se nas fotos o clima parece amistoso e de entrosamento, por trás das lentes das câmeras “o pau estaria quebrando”, como diria um bom baiano, no ninho do União Brasil. O motivo seria um recado, um tanto indigesto, enviado pelo deputado federal Elmar Nascimento aos deputados estaduais que assinaram a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em defesa do terceiro mandato do atual presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), Adolfo Menezes (PSD), à frente do legislativo estadual. Nascimento e Menezes são ferrenhos opositores na cidade de Campo Formoso, no Piemonte Norte do Itapicuru, que já foi comandada por Menezes e, hoje, tem Elmo Nascimento, irmão de Elmar, como prefeito e candidato natural à reeleição. Adolfo, por sua vez, já confirmou que sua esposa, Denise Menezes, ou sua irmã, Rose Menezes, serão candidatas à sucessão municipal pelo PSD.
A reportagem do Bahia Notícias descobriu que, assim que tomou conhecimento da investida, o líder do União Brasil na Câmara dos Deputados teria mandado avisar aos aliados para “esquecer as emendas”. Ao BN, uma fonte do entorno revelou, com exclusividade, que Nascimento teria prometido enviar um apoio federal, através da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), no valor de R$1 milhão em emendas, para cada deputado da oposição. O presidente da autarquia, Marcelo Andrade Moreira Pinto, é aliado do deputado federal.
“Um assessor dele falou com o assessor de um deputado que os deputados que assinaram a PEC deveriam esquecer as emendas”, contou um interlocutor ao Bahia Notícias. A mesma fonte confirmou que, da legenda, somente Júnior Nascimento, Robinho e Marcinho Oliveira não assinaram a PEC, que já conta com mais de 50 nomes, “por que são diretamente ligados a Elmar” e que Manuel Rocha “estaria em dúvida, se assina ou não, porque é um deputado flutuante”. Os oposicionistas Penalva (PDT), que foi o deputado apoiado por Elmar Nascimento em Salvador, e Pancadinha (Solidariedade) também resistem em assinar o documento.
O Bahia Notícias ouviu um segundo interlocutor para tentar entender mais a fundo a raiz do desgaste, que foi confirmado. “Essa história foi verdade, eu fiquei sabendo. Um assessor dele [Elmar] falou com o assessor de um deputado. Quando esse deputado soube do recado mandou o assessor dele responder ao assessor de Elmar que ele não podia perder aquilo que não tinha. Essa história de emenda foi só promessa, ninguém recebeu nada, foi só falácia”, revelou. O BN entrou em contato com o deputado federal Elmar Nascimento nesta terça-feira (14), e na tarde de ontem, mas ele não atendeu às ligações.
INCOERÊNCIA?
Na opinião de um deputado do União Brasil, a PEC da reeleição é “irreversível e um assunto vencido”, uma vez que a oposição não conseguiu fechar questão e indicar um voto único da bancada. “A PEC já passou. A briga de Elmar em Campo Formoso não vai ser resolvida na Assembleia”, disse. A liderança também enfatizou que “neste momento, não existe nenhuma força contrária que possa mudar o voto de qualquer deputado”.
Perguntado se não seria incoerência apoiar Adolfo Menezes, uma vez que o partido foi contrário à reeleição, na mesma legislatura, de Geraldo Júnior (MDB) para presidência da Câmara de Vereadores de Salvador no biênio 2023/2024, o interlocutor explicou que o União Brasil não foi contrário à reeleição e, sim, a forma como o processo foi feito. Geraldo Júnior renunciou ao cargo e tomou posse, em 1º de janeiro deste ano, como vice-governador do Estado.
“A reeleição na Assembleia é em 2025 e nós começamos a discutir um ano antes. Na Câmara, tudo foi feito a toque de caixa, na calada da noite. Ele [Geraldo Jr.] publicou às 11h30 chamando a eleição para 2h30 depois. Ele pegou todo mundo de calça curta, inclusive mudando o regimento interno e colocando o 1º vice para assumir a presidência se a investida não desse certo. O União Brasil foi contra a metodologia, que não foi nem um pouco transparente, o que não é o caso da reeleição da alba”, cravou.
(BN)