Embrapa discute com produtores demandas de pesquisa para o Semiárido
A cada ano, a Embrapa Semiárido reúne todo o seu corpo técnico para avaliar os resultados de pesquisa obtidos no ano anterior, bem como discutir seus rumos futuros. Em 2016, a empresa decidiu inovar e convidou também o setor produtivo para apresentar suas demandas durante a XII Reunião Técnica Anual, realizada nos dias 10 e 11 de maio na sede da unidade, em Petrolina (PE).
Além dos cerca de 100 pesquisadores e analistas de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Semiárido, o evento contou com a participação de dois representantes dos produtores de áreas dependentes de chuva – os pecuaristas Mário Borba, criador em Juripiranga (PB), e José Caetano Ricci de Araújo, de Ipirá (BA) – e dois de áreas irrigadas – Ricardo Henriques, que trabalha com uvas para vinho em Lagoa Grande (PE), e Newton Matsumoto, que produz uvas para mesa e suco em Petrolina (PE).
Com um breve relato da sua história de vida, José Caetano deixou clara a importância do papel da pesquisa para os produtores rurais da região. “Eu passei 30 anos errando mais do que acertando”, conta ele sobre as tentativas e ajustes que precisou fazer para ter sucesso na criação de gado Sindi no Semiárido. E deixou seu recado: “Se existe alguma demanda nossa, é que os senhores percebam quantos erros podem ser evitados se vocês estiverem mais próximo dos produtores”.
Para Mário Borba, que além de criador de gado Sindi é também vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o que o Semiárido precisa, nas áreas que não são irrigáveis, é de educação e capacitação, que devem ser alcançados por meio de políticas públicas e programas de governo. Ele aponta sugestões para que a pesquisa possa contribuir nesse sentido, tendo a pecuária como maior potencial, mas também abordando temas como a agregação de valor aos produtos da Caatinga, controle biológico e desenvolvimento de novas variedades resistentes a pragas que atingem cultivos importantes para a região.
Para os produtores de uva, as expectativas quanto ao trabalho da Embrapa vão no sentido de melhorar a competitividade da produção do Vale do São Francisco. Newton Matsumoto aponta para a necessidade de estudos do balanço de carboidratos de videiras (que influenciam as reservas da planta para que ela possa começar um novo ciclo de produção) e tecnologias para contornar problemas encontrados especificamente nesta região, entre eles os fitossanitários, além do desenvolvimento de novas variedades apropriadas para áreas irrigadas do Semiárido.
Já o enólogo Ricardo Henriques avalia que o Vale tem grande potencial para a produção de vinhos, e principalmente para abastecer o mercado nacional de espumantes. Para isso, considera essencial a realização de pesquisas com novas variedades, sistemas de condução da videira, produtividade, rendimento, porta-enxerto, trabalhos para retardar a maturação de uvas e testes de extração, entre outros.
“É muito bom ouvir esses relatos para ver que nós não estamos desconectados das demandas dos produtores”, avalia o Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Semiárido Flávio de França Souza. Para ele, “essa interação permite fazer os ajustes necessários na nossa programação de pesquisa, além de ser uma sinalização de que queremos estreitar essa parceria e melhorar nossa sintonia, afinal a pesquisa que fazemos visa propor soluções justamente para o setor produtivo”.
A iniciativa também está de acordo com alguns dos principais desafios assumidos pela Embrapa no seu planejamento estratégico: a comunicação e o fortalecimento das alianças. “Vôo solo não faz levar a parte alguma”, refletiu o presidente da empresa, Maurício Antônio Lopes, durante a abertura da Reunião Técnica. Segundo ele, “a sociedade tem uma expectativa cada vez maior e mais complexa em relação a nós, e precisamos aprimorar nossa capacidade de comunicar, prestar esclarecimentos e contribuir no debate e na interação com a sociedade”.
Maurício Lopes destacou ainda a Inteligência Territorial Estratégica como um “espaço nobre” de atuação da empresa, especialmente nos centros ecorregionais, como é o caso da Embrapa Semiárido. Para ele, um dos grandes passivos do nosso país é a carência de um planejamento unificado do processo de desenvolvimento, e a Embrapa pode contribuir para o desenvolvimento da região, organizando e fazendo um bom uso do imenso volume de informações que as nossas instituições geram.
O presidente da Embrapa, bem como os diretores-executivos Ladislau Martin Neto (Pesquisa e Desenvolvimento), Waldyr Stumpf Júnior (Transferência de Tecnologia e Vânia Castiglioni (Adminstração e Finanças) fizeram a abertura da Reunião Técnica Anual, na manhã do dia 10 de maio, por meio de videoconferência. Também participaram o chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), Celso Moretti, o chefe de gabinete, Gerson Barreto, e a assessora da presidência Myrian Tigano.
Workshops – Outra inovação da Embrapa Semiárido nesta edição da Reunião Técnica Anual foi a realização de oito workshops preparatórios, em que os grupos de pesquisa foram reunidos por temas. “Nesses encontros foram feitas as discussões mais densas, e delas saíram as sínteses que foram trazidas para a reunião”, explicou o Chefe de Pesquisa e Desenvolvimento, Flávio de França.
O primeiro dia da reunião foi dedicado aos trabalhos voltados principalmente para área de sequeiro, contemplando os grupos temáticos de produção animal, sistemas agrícolas dependentes de chuva, desenvolvimento territorial e recursos naturais e biodiversidade. Já no segundo dia foram trazidos os resultados da área irrigada, com os temas da vitivinicultura, mangicultura, diversificação da fruticultura e olericultura. Todas as apresentações foram seguidas de debate entre os pares.