Enem, passaporte para o futuro

Patrícia de Raposo, editora chefe da Folha de Pernambuco

Patrícia de Raposo, editora chefe da Folha de PernambucoFoto: Folha de Pernambuco

Aos 20 anos, o Exame Nacional do Ensino Médio, o popular Enem, deve ser celebrado como um grande avanço na educação brasileira. A despeito das críticas que já recebeu, seja pelo vazamento de provas, pela má impressão das mesmas ou pelas discordâncias na forma de correção das redações, o Enem é uma quebra de paradigmas, sobretudo, por avaliar a qualidade do ensino médio nacional.

Com o exame foi possível constatar que as escolas públicas com melhor desempenho são as técnicas e as militares, e que, embora não tenha eliminado a seletividade na educação superior, possibilitou que mais pessoas acessem diferentes instituições de ensino no País. Nesse sentido, o Enem favoreceu, principalmente, os filhos das classes menos abastadas, que não dispõem de condições para prestar dezenas de vestibulares Brasil afora em busca de vaga.

Quando foi criado em 1998, o exame tinha por objetivo avaliar as competências dos alunos concluintes do ensino médio. A participação era voluntária e naquele ano só atraiu 157 mil inscritos. Com a isenção de pagamento da taxa de inscrição para alunos da rede pública, em 2001, houve um salto extraordinário: 1,6 milhão de estudas fizeram o Enem.

A adesão ao Enem seguiu crescendo com o surgimento do Programa Universidade para Todos (Prouni) – que oferece bolsas para estudantes de baixa renda com base na nota do exame -, e com o SiSu (Sistema de Seleção Unificada), que igualmente seleciona os candidatos às vagas das instituições públicas de ensino superior pela referida nota.

Em 2011, a utilização das notas no Enem como requisito para a solicitação de financiamento das mensalidades através do Fies levou a um recorde de 6,2 milhões de inscritos. Em 2017, esse número chegou a 7,6 milhões, volume menor do que o alcançado em 2016, quando 8,6 milhões fizeram as provas. A queda foi consequência de o Enem ter deixado de valer como certificação do ensino médio, que voltou a ser concedida por meio do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).

É como se o ensino médio bastasse para um milhão de alunos. O diploma sempre foi, na sociedade brasileira, um símbolo importante para a carreira de qualquer profissional. E muitos continuam a buscá-lo. Se, de um ano para outro, um milhão desiste de fazer um exame que lhes permite ingressar nas universidades, é preciso saber o que tem desmotivado essa massa.

O ensino é um recurso fundamental na vida de qualquer pessoa, embora não seja determinante para o sucesso profissional. E o Enem pode ajudar ainda muito na educação nacional, na medida em que pode medir não só conhecimento, mas interesses. O interesse, por exemplo, dos que nem querem tentar a universidade. Ele pode seguir se aperfeiçoando e auxiliando a melhorar o que mais precisamos: educação de qualidade.

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