Energia solar: menina dos olhos

Usina Flutuante é importante aposta tecnológica para um Nordeste cada vez mais abastecido por energia limpa e sustentável

Desempenho de painéis solares no Lago de Sobradinho é comparado com placas em solo. Volume de água é determinante para resfriamento do sistema

O Centro de Referência em Energia Solar de Petrolina (Cresp) e a Usina Flutuante instalada no lago de Sobradinho são as meninas dos olhos da Chesf no que se refere à energia solar: juntos, os dois complexos envolvem investimentos da ordem de R$ 100 milhões. “A primeira etapa do Cresp, que é uma planta de 2,5 MW, já foi instalada e está em funcionamento. E agora estamos partindo para os projetos heliotérmicos, que vão servir para estudos. A planta flutuante solar também é experimental, para ver como essas placas se comportam, tanto do ponto de vista da influência da água como também para avaliar o impacto na vida dos peixes e das plantas do lago da usina. São projetos em parceria com universidades e centros de pesquisas, para favorecer o desenvolvimento de tecnologias e de mão de obra”, detalha o diretor de engenharia Roberto Pordeus.

Estruturalmente, o Cresp está dividido em quatro etapas. A primeira é a planta fotovoltaica comum, já instalada. A segunda começou a ser implantada no segundo semestre deste ano e inclui uma planta de meio megawatt, composta por diversos modelos e tamanhos de placas, para gerar dados comparativos em relação às placas fotovoltaicas tradicionais. A previsão é de que a montagem e instalação sejam concluídas até o início de 2020.

A terceira e quarta etapas, que serão desenvolvidas nos próximos cinco anos, envolvem a geração heliotérmica de energia. “A partir dos raios solares, aquecemos o que se chama de fluido térmico e com ele você gera energia elétrica. A diferença básica entre energia solar e energia heliotérmica é que, com o fluido aquecido, é possível acumular energia durante o dia para ser gerada à noite, coisa que a geração puramente solar não permite. Já sabemos que a geração heliotérmica tem uma eficiência muito maior, mas ainda é um campo de estudos bem novo aqui no Brasil. E é uma tecnologia de custo ainda alto, sem escala para propagar em grande volume. Por isso os estudos no Cresp são tão importantes”, defende Douglas da Nóbrega, superintendente de Engenharia de Geração da Chesf.

Cresp estuda possibilidades de geração solar e heliotérmica, no lago da usina de Sobradinho

A Usina Solar Flutuante também está sendo desenvolvida em fases. A primeira envolve uma planta de 1 MW, cuja implantação já foi concluída. Em junho, teve início o comissionamento, que é a etapa de testes com carga elétrica. Nóbrega detalha: “A depender dos resultados iniciais, a usina passa cerca de um mês em teste. Quando começar a gerar, a gente passa a fazer observações, mas precisamos de pelo menos alguns meses para ter resultados significativos. A usina, que foi inaugurada no início de agosto com a presença de ministros de Estado e do presidente da República, tem prazo estimado de seis a oito meses para atingir números seguros e uma base de dados suficientemente confiável”.

A segunda fase da Usina Flutuante vai incluir mais 1,5 MW, elevando para 2,5 MW a capacidade instalada total da usina a médio prazo.

O estudo da geração heliotérmica e da geração solar em plantas flutuantes é uma marca da inovação que o Cresp representa dentro da Chesf e também para o setor elétrico brasileiro. “As placas colocadas em Sobradinho formam a maior planta flutuante em lagos do Brasil. Existem outros centros de pesquisa que estudam energia heliotérmica, mas nada do porte que a gente vai fazer. As próprias universidades estudam alguma coisa, mas sem uma usina, sem uma instalação prática, são pesquisas teóricas. Quando o Cresp estiver totalmente concluído, com uma estimativa de até cinco anos, com certeza vai ser um dos maiores centros da América Latina de estudo sobre geração solar. Conheço poucas referências como essa ao redor do mundo, tão completas quanto o Cresp vai se tornar”, diz o superintendente de Engenharia.

Presidente Bolsonaro esteve em Petrolina para inaugurar Usina Flutuante.

Para o futuro, a Chesf trabalha em outros projetos de energia solar, todos de grande porte: uma planta de 30 MW a ser instalada em Bom Nome, distrito de São José do Belmonte, no Sertão pernambucano; e outra planta de 100 MW que será implantada em Bom Jesus da Lapa, na Bahia. “Junto com mais três projetos eólicos que estão no nosso planejamento de médio e longo prazo, nossos empreendimentos futuros em energia solar e eólica vão demandar investimentos da ordem de R$ 3 bilhões, envolvendo equipes que vão trabalhar em quatro Estados do Nordeste. Fora Pernambuco e Bahia, haverá investimentos na Paraíba e no Rio Grande do Norte”, afirma Roberto Pordeus.

PARCERIAS PARA PODER GERAR CONHECIMENTO

Almejando se tornar um modelo em termos de estudos sobre a geração de energia solar na América Latina, o Cresp pretende trabalhar em parceria com universidades do Brasil e do mundo. “Os pesquisadores brasileiros e estrangeiros vão utilizar toda a infraestrutura do Cresp para fazer seus estudos e esse conhecimento é compartilhado entre a própria Chesf, que tem profissionais envolvidos, as universidades e a comunidade científica”, explica Douglas da Nóbrega, superintendente de engenharia de geração da Chesf.

Uma vez que os objetos e métodos de estudo são definidos, os pesquisadores recebem resultados e relatórios de acompanhamento remotamente, dando continuidade a suas pesquisas nas universidades. “Entre os trabalhos que resultam dessas pesquisas tem-se diversos artigos técnicos que são apresentados em congressos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, nos quais não só pessoas da Chesf mas também da região onde o Cresp está instalado podem se envolver”, pontua Nóbrega.

LINHAS DE PESQUISA

Basicamente, duas linhas de pesquisa serão consideradas pelo Cresp: a geração solar e a geração heliotérmica. A geração solar terá como ferramenta prática as plantas instaladas nas duas primeiras fases do Centro, onde serão feitas as comparações entre os diversos tipos de placas fotovoltaicas. A planta padrão já foi implementada e iniciou a fase de testes. Até o início de 2020, a segunda fase será concluída, com a instalação de outras modalidades de placas.

Na sede do Cresp, linhas de pesquisa buscam opções mais eficientes, avaliando resultados da geração solar e da heliotérmica

Já a geração heliotérmica vai utilizar duas tecnologias: a calha parabólica e a torre central. Na calha, o fluido térmico é conduzido em tubos por trás das placas solares. Na torre central, um conjunto de placas é posicionado ao redor de uma torre e elas refletem toda a energia solar para um ponto específico, onde vai estar o fluido térmico. Após a captação da energia, a segunda parte é semelhante nos dois processos. O vapor gerado com o aquecimento do fluido térmico é levado para uma turbina térmica, que gera a energia.

“A calha parabólica é mais descentralizada. E na torre central, como o nome está dizendo, você concentra toda a energia solar em um ponto único. A diferença básica entre a energia heliotérmica e a solar é que, apesar de ser uma fonte mais cara, a geração heliotérmica consegue acumular energia para gerar durante a noite. E esse é um ganho enorme em termos de ciência”, defende o superintendente. (JC)

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