Entenda por que maternidades preferem realizar parto normal em Salvador

Pacientes denunciam que foram submetidas ao parto natural mesmo com encaminhamento para cirurgia

Por Maysa Polcri, do Correio

Maternidade Albert Sabin

Maternidade Albert Sabin Crédito: Divulgação

Mesmo com encaminhamento médico para realizar cesariana, Kevelli Barbosa, de 22 anos, foi orientada a ter parto normal na Maternidade Albert Sabin, em Salvador, na última sexta-feira (31). Depois de sete doses de medicação para dilatação vaginal, a gestante foi submetida a cirurgia para retirada do bebê, que não resistiu. A mãe morreu em seguida. O caso acende o alerta para uma prática comum nas maternidades de Salvador, onde as cesarianas são negadas e o parto normal acaba sendo induzido.

Apesar de o parto natural ser o mais indicado por médicos especialistas na maioria dos casos, algumas exceções podem levar os profissionais a recomendarem a cirurgia. “Quando o batimento cardíaco do bebê é alterado, nós entendemos que ele está entrando em sofrimento fetal e a indução deve ser interrompida. Qualquer circunstância que coloque a mãe ou o bebê em risco precisa ser avaliada”, explica Jaqueline Neves, ginecologista obstetra.

A indução pode levar, segundo a médica, até 36 horas, e a recomendação é que sejam administradas entre quatro e seis doses de medicamentos para dilatação. No caso de Kevelli, foram sete doses e 24 horas de espera até que a cesariana fosse feita, após os batimentos do bebê diminuírem. Os atestados de óbito vão determinar as causas das mortes.

Patrícia de Sena Teixeira, 33, conta que também teve o parto normal induzido, mesmo com a indicação médica para a cesariana, em julho de 2020. “A própria médica da maternidade [Albert Sabin] indicou que deveria ser cesariana, mas os plantonistas não quiseram fazer. Eles só deixam a gestante passar pela cirurgia quando não tem mais jeito”, denuncia.

Patrícia de Sena só foi levada à sala cirúrgica quando os batimentos cardíacos da bebê diminuíram, assim como aconteceu com Kevelli. A pequena Laura Sofia precisou ser reanimada após o parto, mas se recuperou bem.

Segundo ex-funcionários da Maternidade Albert Sabin, que conversaram com a reportagem sob condição de anonimato, a equipe médica tem preferência pelos partos naturais. Isso acontece, segundo eles, por conta do fluxo intenso de pacientes e falta de profissionais. O parto normal também oferece, na maioria dos casos, menos risco para as mães e bebês.

“Como a cesárea é uma cirurgia, precisa de uma sala cirúrgica específica e uma equipe disponível por, ao menos, uma hora para realizar o procedimento. Enquanto que o parto normal pode ser feito por enfermeiros obstétricos”, explica. Com a demanda intensa de pacientes, as cirurgias atrasam o atendimento de outras gestantes.

“É somente uma maternidade para atender toda a região de Cajazeiras e adjacências. Essa população cresceu muito, e precisaria de outras maternidades para desafogar o fluxo, que é muito grande. Quando a gestante entra em uma lista de prioridades de parto cesariana é complicado porque são muitas gestantes de risco que passam na frente”, conta uma médica que trabalhou no local.

A Maternidade Albert Sabin, localizada na Estrada do Coqueiro Grande, em Cajazeiras, é uma das seis localizadas em Salvador. Além dela, formam a lista: Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), Hospital Geral Roberto Santos, José Maria de Magalhães Netto, Maria da Conceição de Jesus e Tsylla Balbino.

A primeira maternidade municipal de Salvador está sendo construída, na Federação, pela prefeitura. Serão 200 leitos, entre clínicos e Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) foi questionada sobre se há relação entre as técnicas de parto induzido nas unidades e a sobrecarga do sistema, mas não houve retorno até esta publicação.

A ginecologista obstetra Jaqueline Neves analisa que cada parto possui características específicas, e que o desejo das gestantes devem ser respeitados.

“As pessoas costumam achar que o parto cesariana salva vidas e, na verdade, pode ser o contrário. As pacientes, quando vão para uma cirurgia, precisam saber dos riscos e benefícios”, avalia. Entre as complicações possíveis do parto normal, estão: embolia pulmonar, perda de sangue, infecções, trombose e lesões nos órgãos.

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