Entre São Basílio e Lenin na Praça Vermelha de Moscou

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Se Sokurov mostra uma parte relevante (mas só uma parte) do Hermitage, Brad Bird mal focaliza a Praça Vermelha antes de destruí-la (felizmente, só nos efeitos de computador). Assim como o museu é o primeiro passo para conversar com o “rapazinho enfeitado” São Petersburgo, a praça resume as contradições e os hábitos da “velha caseira” Moscou, com policiais sisudos, atendentes ríspidos e placas ininteligíveis, todas em cirílico. Para piorar, o idioma às vezes parece sugerir que você foi surpreendido pelo inspetor da sala colando o resultado do Enem. Mas eu só queria saber onde fica a atração tal…

Há exceções e cenas simpáticas. A quantidade de gente, principalmente mulheres, com flores nas mãos pelas ruas dá a entender que o russo é mais doce do que rude. Turistas em geral, contudo, não ganham flores. Mas não é motivo para explodir a Praça Vermelha nem incomodar o sono profundo de Lenin. Na penumbra do mausoléu, próximo aos muros do Kremlin, só o corpo do antigo líder russo recebe a pouca luz. Os turistas entram em pequenos grupos, e se alguém ficar dez segundos parado observando, um dos muitos guardas cutuca o visitante, ordenando, em russo, que a fila ande. O encontro não dura mais que um minuto. A entrada é gratuita, você só paga o guarda-volume (40 rublos, ou R$ 2,50), onde deixa qualquer bolsa, celular e máquina fotográfica.

À direita de quem sai do mausoléu fica a colorida e labiríntica Catedral de São Basílio, o Bem-Aventurado, com uma decoração em cada cúpula. Na hora dos bilhetes, uma peculiaridade comum em atrações russas: você paga um ingresso para entrar e outro para também fotografar, e um valor maior para filmar e fotografar. São 250 rublos (R$ 16) para entrar e mais 160 rublos (R$ 10) para fazer fotos.

Os bilhetes para o Kremlin são vendidos em tendas perto dos Jardins de Alexandre. É só procurar uma fila. Há duas entradas, uma pela Torre Borovitskaya, próximo da Câmara das Armas, e outra pela Ponte Trinity, quase na muvuca da Praça Vermelha. No pátio das catedrais ficam as igrejas de cúpulas superdouradas: a Catedral da Anunciação (a maior delas), a Catedral da Assunção e a Catedral do Arcanjo. Para aproveitar tudo, é melhor comprar o ingresso duplo (1.050 rublos, R$ 68) para dá direito a entrar no complexo de catedrais e na Câmara das Armas, que guarda tesouros dos czares, do século XVI até quando a corte foi para São Petersburgo, por volta de 1711.

Se estiver cansado de atrações turísticas, é hora de cruzar a praça e visitar o shopping Gum, com lojas chiques, restaurantes (inclusive opções mais populares) e áreas de lazer. À noite, a iluminação do Gum é mais chamativa do que as luzes das torres do Kremlin.

A 20 minutos a pé da Praça Vermelha, a Catedral do Cristo Salvador (ou Redentor) brilha com suas cúpulas douradas com o Rio Moscou nos fundos. Perto dela fica o Museu de Belas Artes Pushkin, que exibe pinturas de Picasso, Van Dyck, Botticelli e Chagall. Mas atenção, existe um outro Museu Pushkin na mesma rua, maior, com outro tipo de acervo. O das pinturas tem uma entrada acanhada e é o mais próximo da igreja.

Também perto da catedral, mas do outro lado do rio, fica o Parque Gorky. Em Moscou, os parques são grandiosos, têm quilômetros de área, atrações de toda sorte (gratuitas e pagas), muito verde (ou branco neve, se você for nesta época do ano), jardins bem cuidados, banheiros, áreas para esportes, bares, quiosques, vendedores (raros com jeito de camelô), brinquedos e imensos portais que lembram o auge do comunismo.

Do outro lado da Rua Krymskiival fica o Parque das Artes, uma área repleta de esculturas e estátuas dos mais diversos autores e retratando as mais diferentes figuras, com uma parte no fundo reservada a monumentos retirados das ruas da cidade; ou seja, muitas estátuas de líderes comunistas que foram os maiorais em determinadas épocas, e que hoje não merecem mais figurar em cada esquina. Entre eles Stálin, Brejnev e mesmo ele, Lenin. Esse lugar dos bronzes esquecidos pós-revolução fica ao lado do Gorky e é chamado nos guias de viagem de Jardim dos Monumentos Depostos. Se quiser conhecer outro parque semelhante, vá ao VDNKh (ou Centro de Exposições de Toda a Rússia), mais distante do centro histórico e vizinho ao Museu da Cosmonáutica (ou das conquistas espaciais). O ingresso para o museu custa 200 rublos (R$ 13).

Se São Petersburgo tem o Mariinskyi, Moscou tem o Bolshoi. Aqui vale a mesma dica: compre seu ingresso antecipadamente pelo sitebolshoi.ru/en. Por fim, seja você homem ou mulher, evite fazer como Tom Cruise em seus filmes. Usar salto alto não é recomendável para as longas caminhadas que a cidade exige.

As suntuosas estações do metrô

Um ótimo serviço on-line em Moscou é o de compra de passagem para o Aeroexpress, trens que saem dos principais aeroportos de Moscou (Sheremetyevo, Domodedovo e Vnukovo) para três diferentes estações de metrô no Centro da cidade. Custa 320 rublos, no cartão de crédito, equivalentes a US$ 10. Basta imprimir o comprovante, com o código de barras. Com ele (principalmente em Sheremetyevo) você dribla o assédio de dezenas de ávidos taxistas que agem livremente no saguão do aeroporto à caça de turistas, falando em russo, inglês e até português.

Ao descer em Sheremetyevo, saia para o lado esquerdo do saguão. Pegue o elevador para o primeiro andar e siga as placas em formato de seta no chão rumo às plataformas E ou F. Não tem erro. As informações estão também em inglês. Os trajetos do Aeroexpress são: Sheremetyevo-Bielorruskaya; Domodedovo-Paveletskaya; Vnukovo-Kievskaya. Pode-se comprar também no caminho inverso, saindo das estações rumo ao seu aeroporto de embarque.

Todo (bom) metrô de grandes cidades lembra emaranhados e causa estranheza à primeira vista. Se ele só tiver informações em cirílico, então, tudo parece mais difícil. O metrô de Moscou é abrangente, mas requer atenção e paciência. Comprar bilhetes nos guichês é fácil, basta fazer mímica para pedir um tíquete com cinco viagens (135 rublos, R$ 9). O cartão é magnético e quando você passa, a roleta informa quantas viagens restam. As escadas rolantes parecem intermináveis. As placas em cada plataforma indicam as próximas estações, da esquerda para a direita, no sentido do trem. Abaixo dos nomes de cada estação estão os outros destinos das diferentes conexões. São 11 linhas, identificadas por números e cores, e quase 200 estações.

A maioria da população circula de metrô; então, tem sempre movimento. Mas não fica lotado como no Rio. A explicação talvez seja simples: em horários de pico, conforme a linha, o intervalo entre um trem e outro cai a menos de um minuto. Sai uma penca de russos e russas e entra outra. Sem muita turbulência nem disputa para arrumar onde se segurar.

Em São Petersburgo, usa-se moedas do metrô nas roletas, e todas as estações têm sinalização também em inglês. Outra curiosidade do sistema metropolitano na cidade: duas linhas passam numa mesma plataforma. Na estação Teckhnologichesky Inst, por exemplo, a linha vermelha vai para Devyatkino; a linha azul vai para Parnas. Os dois destinos ficam ao norte. Aqui as linhas se encontram e depois seguem quase paralelas. Ou seja, não passa um trem para um lado e outro no sentido contrário. Há uma outra plataforma, com outro acesso, com o mesmo Teckhnologichesky Inst no nome, com duas linhas para o sul. Parece complicado, mas tem sua lógica.

Nas duas cidades, há estações que lembram palácios. Mármores, bronze, mosaicos, lustres e amplidão são comuns no metrô, cuja construção começou nos anos 1930, durante o regime comunista da antiga URSS.

Moscou e São Petersburgo são repletas de grandes avenidas. Use e abuse das passagens subterrâneas. São seguras e ainda têm quiosques diversos.

Fonte: O Globo


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