Uma atividade organizada pela escola de educação infantil do bairro São Bento, em Belo Horizonte, foi alvo de críticas e acusações de racismo por internautas nas redes sociais. Um grupo de alunos foi pintado com tinta preta, com o objetivo, segundo os professores, de vivenciar a experiência de ter a cor negra. A atividade foi registrada em fotos divulgadas pela própria escola, em sua página no Facebook, e foi reprovada por pais e outras pessoas que usaram a internet para cobrar explicações da instituição.
“Quem já mudou de cor? Essa semana a criançada experimentou ter uma cor diferente. Com tinta apropriada, pintamos nossos corpinhos e passamos a tarde vivenciando ter a cor negra. Foi um experimento estético muito interessante para a meninada. Eles se olharam no espelho, observaram uns aos outros e apreciaram o resultado”, dizia o post publicado pela Play Centro de Desenvolvimento Infantil, apagado após a enxurrada de críticas.
A atividade foi amplamente criticada por usar o recurso da “blackface” (”rosto preto”, em inglês), muito usado antigamente em produções artísticas, principalmente no teatro, como técnica de maquiagem na qual pessoas brancas pintam a pele com tinta preta para imitar negros de forma caricata. “Atividade racista! Blackface! Não consigo acreditar que vocês viram isso como algo positivo. Não vou questionar como as crianças negras foram pintadas porque visivelmente não tinha nenhuma. Passou dos limites de aceitação”, escreveu uma internauta. “‘Passamos a tarde vivenciando ter a cor negra’. Quer vivenciar ser negro? Se pintar de preto (que nem corresponde à cor das pessoas negras) é mole, quero ver ir para o tronco”, reforçou a crítica outra seguidora da página.
Após a repercussão negativa, a escola decidiu apagar a publicação e emitiu uma nota de esclarecimento, na mesma rede social. No comunicado, a Play se defendeu das acusações de racismo e disse que a atividade não se trata de “blackface”. Ao contrário do que informou quando divulgou a atividade na rede social, quando afirmou propôr às crianças a experiência de vivenciar ter a cor negra, a escola desta vez disse que a iniciativa não fez referência à raça negra. “Entendemos que a atividade não configura blackface, uma vez que não fez referência à raça negra, nem tampouco a representava de maneira pejorativa. Reconhecemos que a publicação das fotos foi acompanhada de um texto pouco esclarecedor que levou a interpretações dúbias. Lamentamos profundamente por isso”, diz parte do comunicado.
A explicação também foi criticada na internet. “Sabe, foi blackface. Vocês sabem que foi, mas, ao invés de serem educados e pedirem desculpas, vocês ficam com este papinho de aranha. Foi feio no início, e está ficando ainda mais feio. Errar é humano, mas assumir o erro é bem legal”, escreveu uma internauta. “ Racismo sim. Tenham vergonha e eduquem seus professores. Crianças não nascem racistas, mas escolas como essa as transforma em humanos preconceituosos. Que dia triste”, comentou outra pessoa, na rede social.
Houve também quem defendesse a postura da escola e dissesse que não houve racismo na atividade. “Sem dúvida não houve qualquer intuito de ofender quem quer que seja. A atividade teve uma consequência de “brincadeira de criança” como qualquer outra. Eu reafirmo também, como mãe de aluno, que acredito no propósito do Play e fico bastante chateada por terem sido alvo de uma grande injustiça!”, escreveu a mãe de um estudante da escola. Outras pessoas fizeram coro aos comentários em defesa da instituição: “Proposta pedagógica bem fundamentada que trabalha a integração de forma lúdica, de forma contrária à descriminação racial, como chegaram a dizer. Devemos procurar conhecer melhor uma proposta válida e inovadora como a dessa escola, que não conhecia”, comentou um internauta.
Confira a nota da Play Centro de Desenvolvimento Infantil, na íntegra:
Diante da polêmica causada pela interpretação equivocada de uma das atividades desenvolvidas pela equipe do PLAY, publicada no Facebook na semana passada, a direção da escola vem a público reafirmar que:
1- Uma turma de crianças de 2 a 3 anos do PLAY participou de uma atividade na qual nossa psicopedagoga propôs a construção de bonequinhas de isopor de 4 cores diferentes: preto, rosa, verde e marrom.
2- Como de costume em nossas atividades com tintas, os alunos começaram a pintar seus próprios corpos.
3- As fotos que geraram polêmica mostram exatamente o momento em que as próprias crianças espalhavam tinta preta pelo corpo, demonstrando ser um ato natural deles, não tendo sido influenciadas pela orientadora.
4- Entendemos que a atividade não configura “black face”, uma vez que não fez referência à raça negra, nem tampouco a representava de maneira estereotipada ou pejorativa.
5- Reconhecemos que a publicação das fotos foi acompanhada de um texto pouco esclarecedor que levou a interpretações dúbias. Lamentamos profundamente por isso.
6- Ressaltamos que a mencionada publicação foi apagada não para esconder o fato, mas para preservar nossos alunos que estavam tendo a imagem exposta.
7- Estamos sempre abertos para discussão do tema e aceitamos sugestões sobre como tratá-lo da melhor maneira com nossos alunos sem ofender a dignidade de ninguém.
Agradecemos o apoio e a compreensão dos pais, amigos e colaboradores que conhecem de perto a proposta pedagógica da instituição que se dedica à educação e formação de crianças justas, criativas e livres de preconceitos de qualquer espécie.
Fonte: Extra