Esqueletos em jarros: os restos mortais dos ´seculos 3 e 5 encontrados em Córsega
No início do mês de maio, arqueólogos se depararam com 40 tumbas em um cemitério de quase 2 mil anos, datadas do fim do império Romano
Vestígios do Império Romano ainda hoje são encontrados nas mais inusitadas partes do mundo, oferecendo uma visão histórica sobre um dos períodos mais complexos e decisivos da humanidade.
Entre instalações militares, insúlas, artefatos, mosaicos e tesouros, um achado no início do mês de maio intrigou os arqueólogos. Trata-se de uma necrópole repleta esqueletos de adultos e crianças enterrados em grandes jarros. As ossadas remontam aos séculos 3 a 5, durante a queda do Império Romano.
Descoberta inusitada
Desde o final de fevereiro de 2021, arqueólogos escavam a cidade de Île-Rousse, localizada na ilha de Córsega, na França, devido a alta probabilidade de encontrar artefatos do passado. Assim, quando 40 tumbas foram localizadas, a sensação de conquista era notável.
Porém, ao abrir as sepulturas, os especialistas do Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva (Inrap), a cena encontrada foi inesperada. Em enormes vasos havia diferentes esqueletos, desde pessoas com idade mais avançada até bebês.
Os vasos, chamados de ânforas, eram frequentemente utilizados para transportar produtos, como vinhos, azeites e até mesmo picles. Usados desde o período Neolítico, há aproximadamente 4 mil anos, tais potes foram inseridos no cotidiano por romanos e gregos.
“Esta descoberta inesperada de cerca de quarenta tumbas renova o passado antigo da Île Rousse e, mais amplamente, da costa oeste da Córsega”, afirmaram os especialistas em comunicado divulgado no site do Inrap.
Grande parte dos cadáveres pertencem a crianças, embora alguns adultos tenham sido localizados por arqueólogos. As ânforas, então, serviriam como uma “cobertura” ao morto, um tipo de proteção, como sugerem os pesquisadores.
Ainda que os esqueletos tenham sido de pessoas moradoras de Córsega, alguns dos vasos foram fabricados em locais distantes, como a Tunísia e o Norte da África, isso pode ser concluído pelos desenhos característicos dessas regiões, de acordo com Jean-Jacques Grizeaud, líder das escavações, que concedeu entrevista ao Live Science.
Por conta do estado de conservação dos mortos, que não foi considerado bom pelos estudiosos, o trabalho para remover as tumbas foi redobrado. A existência de ladrilhos de terracota — comum em edifícios romanos — também dificultou a remoção das ossadas.
Além das tumbas inusitadas, alguns artefatos foram desenterrados nas escavações na cidade de Île-Rousse. O que mais se destacou para a equipe de arqueólogos foram as fossas sepulcrais escavadas em rochas e, ainda, túmulos decorados com azulejos romanos, bastante comuns e ainda assim valiosos historicamente.
O que o futuro mostrará
As escavações, por serem recentes, ainda estão em estado inicial. Análises primárias revelaram apenas a quantidade e período que os artefatos foram datados. Para entender mais sobre sexo, idade, condições de vida e motivo da morte dos cadáveres é preciso investigações com equipamentos de tecnologia avançada.
Em breve, os esqueletos serão submetidos a estudos científicos em laboratórios para que se tenha um conhecimento mais amplo sobre a região de Córsega. Até os resultados saírem, a expectativa é que os resultados indiquem que a área escavada tenha ligação com cultos de povos antigos, assim como acontece em cidades vizinhas como Mariana e Sant’Amanza.