Estado em guerra civil silenciosa

Opinião

Há mais de seis meses, a governadora Raquel Mandacaru Lyra (PSDB) anunciou um plano para inglês ver, pelo qual até o final de 2026 a criminalidade seria reduzida em 30%. Ao contrário do que prevê as metas do projeto, os homicídios crescem numa velocidade assustadora. O abril vermelho, como ficaram conhecidas as invasões de terra pelo MST no País, em Pernambuco se revelou num abril sanguinolento.

Nada menos do que 324 almas vivas foram para o além. No geral, os números são extremamente preocupantes, enquanto se observa uma gestão completamente perdida, com um plano oco, sem chances de dar certo, a tropa da PM nas ruas desestimuladas pelos baixos salários, delegados reclamando da falta de condições de trabalho, enfim, um caos na segurança pública.

Neste ano, o Estado já contabilizou 1.312 casos de Mortes Violentas Intencionais (MVIs). Novamente, a Região Metropolitana do Recife (RMR) e o Agreste concentraram a maior quantidade de assassinatos, isoladamente, contribuindo para a elevação dos números gerais da violência. A bandidagem não tem cor, não nem raça nem muito menos grau de instrução.

Um dos maiores casos de repercussão foi a morte do vigilante aposentado Antônio Lima do Nascimento, de 76 anos, vítima de bala perdida no bairro de Jardim Jordão, em Jaboatão dos Guararapes. O crime aconteceu na noite do dia 22, após a vítima sair de um culto evangélico.

Na última quinta-feira, perto da meia-noite, seis assaltantes entraram em um ônibus BRT da linha TI Camaragibe/Conde da Boa Vista, na Avenida Guararapes, e anunciaram um assalto. Na altura da Avenida Caxangá, um passageiro reagiu e esfaqueou um suspeito até a morte. Outro suspeito tentou fugir, se acidentou e sofreu traumatismo craniano. Os demais foram pegos por populares e espancados. O homem que inicialmente reagiu foi embora antes da chegada do policiamento.

Esta tem sido a dura e cruel rotina dos pernambucanos expostos ao medo. Um Estado em que muitos saem de casa para o trabalho sem a certeza de que voltarão vivos. Ao invés de reagir, a governadora Mandacaru prefere se preocupar com o seu cachorrinho Magno, levado para o adestramento em Caruaru.

Uma barbaridade atrás da outra – Na mesma quinta-feira, mais cedo, outra tentativa de assalto foi registrada em um ônibus que fazia a linha Camaragibe/Macaxeira. O coletivo passava nas proximidades da reitoria da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e do bairro do Sítio dos Pintos, quando um assaltante entrou e anunciou a investida criminosa. De acordo com testemunhas, um policial militar da reserva de 54 anos reagiu à tentativa de assalto e atirou no suspeito, atingido na região do testículo. O militar também acabou ferido à bala.

Episódio doloroso – Uma câmera de segurança filmou o momento em que o idoso Antônio Lima do Nascimento, de 76 anos, foi assassinado. Ele andava pela Rua Nossa Senhora do Desterro, quando dois homens passaram correndo perto dele. O homem de camisa escura atirou contra o outro que estava sem camisa, mas o tiro atingiu o aposentado, que caiu no chão e morreu. Vítima desta guerra civil silenciosa, Antônio deixou cinco filhos e nove netos. Até quando Pernambuco vai continuar assistindo, passivamente, essa crueldade?

Campeão imbatível 1 – Em 2023, primeiro ano da gestão Raquel Mandacaru, o arbusto que não dá sombra nem encosto para ninguém, Pernambuco teve a segunda maior taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) por 100 mil habitantes do Brasil, ficando atrás apenas do Amapá. No Nordeste, foi o Estado de maior índice. A categoria inclui homicídios, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios, que são roubos que acabam em mortes.

Campeão imbatível 2 – Os dados são do Monitor da Violência, levantamento do G1, site do Sistema Globo de Comunicação, com base nos números da Secretaria de Defesa Social (SDS). Foram registrados 38,8 crimes violentos a cada 100 mil residentes em Pernambuco, no ano passado. A taxa média do Brasil no mesmo período foi de 19,4. Único estado com um resultado proporcional maior, o Amapá contabilizou 45,2 crimes a cada 100 mil pessoas.

Por: Magno Martins

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