Estudante de direito é vítima de sequestro e espancamento em Pernambuco

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Somente quatro dias depois da estudante de direito Vatsyane Marques Ferrão, 43 anos, denunciar, pela sua página no Facebook, ter sido vítima de espancamento e sequestro, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social promete se pronunciar sobre o caso, que tem repercutido nas redes sociais nos últimos dias. A denúncia surge junto com outra acusação de violência policial, desta vez sofrida por integrantes de grupos que vêm se manifestando no Recife a favor do passe livre e da CPI do transporte público.

Hoje, a família, por meio do advogada, promete enviar um ofício relatando o caso ao Governo de Pernambuco, à Secretaria de Direitos Humanos, à Secretaria de Defesa Social e à Delegacia da Mulher, além de prestar queixa oficialmente na Corregedoria.

A estudante alega que a ação teria acontecido na manhã da última quinta-feira (22) e que os agressores seriam policiais lotados na Delegacia do Idoso.O advogado de Vatsyane Ferrão, André Henrique Gomes,contou que ela teria visitado a casa da mãe, no bairro da Boa Vista, no Recife, e as duas estavam saindo em carros separados para ir uma lavanderia.

“Eram 10h30. Ao olhar para o retrovisor, ela percebeu que sua mãe, a aposentada Zelani Marques, que tem 65 anos, foi abordada por dois homens que estavam gritando e empurrando a idosa contra o carro. Eles perguntavam por Vatsyani e ela dizia que não conhecia aquela pessoa”, conta o advogado.

A partir daí, a filha teria saído do carro e partido em socorro à mãe. André Gomes fala que a confusão chamou a atenção dos vizinhos, que foram às janelas dos apartamentos dos prédios da rua. Ele disse que a família quer manter o endereço em sigilo por segurança.

Os dois homens teriam puxado Vatsyani pelo cabelo e a colocado num carro escuro, sem nenhuma caracterização, cujo modelo ela não soube identificar. Neste momento, ela relata que foi algemada e ficou no banco de trás, com um dos homens. O outro conduzia o veículo.

“Ela começou a gritar e apanhar muito no rosto. Eles falavam que quanto mais ela gritasse, mais iria apanhar. Só que uma viatura da CTTU achou estranho o barulho e pediu para o carro parar ali nas proximidades da Avenida Conde da Boa Vista com a Rua José de Alencar”, narra o advogado.

De acordo com André, os agentes da CTTU abordaram o veículo e Vatsyani conseguiu perceber a localidade por onde passavam. Os homens teriam se apresentado como policiais da Delegacia do Idoso, mas não mostraram nenhuma documentação. “Os agentes, talvez pela inexperiência, não acionaram ninguém, mas falaram que anotariam a placa do carro. Eles foram liberados e retomaram as agressões, dizendo à estudante que ela só não ia morrer por conta disso. Mas chegaram a apontar um revólver para ela”, declarou o advogado.

A estudante de direito da Universo foi então levada para a Delegacia do Idoso e trancada numa sala. Depois, teriam lhe dito que poderia fazer uma ligação. Assim, mãe e advogado foram acionados. Embora a Delegacia do Idoso fique na Rua da Glória, também no bairro da Boa Vista, a suposta vítima teria ficado cerca de duas horas dentro do carro com os homens, desde que foi interceptada por eles ao sair da casa da mãe.

O advogado André Gomes conta que o delegado Eronildo Farias, titular da Delegacia do Idoso, teria aparecido neste momento e ficado “surpreso” com o ocorrido. “Ele parecia abalado e ciente de que alguma coisa muito errada aconteceu. Mas confirmou que os dois eram lotados na delegacia”.

Mãe, filha e advogado se recusaram a deixar o local sem a presença de alguém da Corregedoria, que teria enviado uma pessoa à delegacia. André fala que prestaram queixa na Delegacia de Plantão de Santo Amaro e foram atendidos pelo agente Edson José Alves, que registrou um boletim de ocorrência.

“Somente por volta das 17h30 que fomos liberados para ela fazer o exame de corpo de delito no IML. A impressão que tenho é que tentaram nos segurar na delegacia para ver se as marcas das agressões sumiam”, diz o advogado.

Apesar de detalhado, o depoimento não esclarece, no entanto, qual seria a motivação e quem seria o mandante do suposto crime, nem o porquê dos homens terem gastado duas horas circulando no veículo com a estudante. “Também não podemos divulgar muitas informações para não atrapalhar a investigação. Estamos chocados e assustados”, relatou o advogado. Ele não quis responder se a universitária participou das recentes manifestações de rua no Recife.

No final da tarde de ontem, Vatsyani Ferrão escreveu no Facebook que a “perseguição” teria relação com uma denúncia de roubo: “A raiva do mandante foi por que denuciamos um desvio de dinheiro com várias provas materiais. O mandante já tinha falado a minha mãe se ela não tinha medo de sair sozinha. Agora dá para entender o que aconteceu? Uma pessoa roubando e fomos denunciar.” ( Diário de Pernambuco)

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