Estudante sofre acidente com divisória de mármore em campus da UFRB e alunos denunciam precariedade
Por Ronne Oliveira
Uma estudante de agronomia sofreu um grave acidente na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em meio à troca de aulas no Pavilhão 2 do campus de Cruz das Almas. A parede divisória de mármore desabou sobre sua perna, causando ferimentos graves no dia 12 de setembro. A aluna não conseguiu andar e precisou utilizar uma cadeira de rodas.
Camila Alcântara é uma estudante veterana do curso de Agronomia da UFRB, a mesma teve a oportunidade de representar a universidade até mesmo em programa de intercâmbio na França. Em uma manhã, ela saía de uma aula para outra, no Pavilhão 2, quando teve que usar o banheiro. Enquanto lavava as mãos, uma divisória de mármore caiu em cima de sua perna.
“Eu estava lavando a mão, uma colega entrou no banheiro para usar. A porta desse banheiro não fecha. Nesse momento uma das paredes da divisória caiu, por sorte eu não tava mais para trás, a ponta dessa parede caiu e na minha panturrilha. A dor foi insuportável”, conta a estudante em entrevista.
Fotografias do estado do banheiro do Pavilhão 2 | Foto: Reprodução / Camila Aiala Alcântara
Em entrevista ao Bahia Notícias, a estudante expôs os detalhes do ocorrido e denunciou a postura da universidade, que, além de demorar a tomar providências, demonstrou negligência diante de seus pedidos de ajuda.
“Eu sentia muita dor, não conseguia mais andar. E o meu calcanhar e a panturrilha foram inchando na hora, tanto que eu me apoiei na bancada da pia e uma colega puxou o sapato porque estava inchando. Foi quase que imediato o inchaço. Eu não consegui mais andar. Eu não consegui mais apoiar o pé no chão”, descreveu a estudante.
Momento em que a estudante recebe ajuda do funcionário até o estacionamento | Foto: Reprodução / Estudante da UFRB
Após sentir fortes dores, uma colega e um funcionário levaram Camila para o estacionamento em uma cadeira de rodas, demorando 50 minutos para conseguir cuidados médicos. Para Camila, não faz sentido culpar os funcionários e técnicos, pois eles não foram treinados para prestar ajuda.
“Na verdade, eles não sabiam muito bem, eu entendo a situação, eu não culpo eles. É um erro da universidade, [os funcionários] não têm treinamento para primeiros socorros. Não tem ninguém que tenha treinamento, nenhum protocolo. Ficaram sem sabe o que fazer e chamaram o Samu”, relata Camila sobre o caso.
Em meio a isso, ela procurou a UFRB na mesma semana e, após ser ignorada em diversos e-mails, a aluna recebeu uma resposta que não havia protocolo para lidar com a situação.
O primeiro atendimento que a estudante recebeu foi em uma Unidade de Pronto Atendimento de Cruz das Almas. Contudo, não havia um ortopedista que pudesse a ajudar. Camila Alcântara precisou desembolsar o valor do próprio bolso para conseguir o atendimento necessário em uma rede privada.
“Paguei por todo o procedimento. Paguei o ortopedista, paguei pelos exames e a resposta da universidade de início foi que eles não tinham protocolo para esse tipo de atendimento, que eles não sabiam muito bem o que fazer, como prosseguir, porque não tinha protocolo para isso, que era para eu aguardar. Depois de duas semanas enviando vários e-mails, a UFRB respondeu falando que eles me dariam um auxílio emergencial de 300 reais. Parcela Única”, detalha a estudante.
E-mail em que Camila detalha as dificuldades enfrentadas também sem resposta | Foto: Reprodução / Gmail da Estudante
O Bahia Notícias teve acesso aos e-mails trocados entre a estudante e a universidade. A instituição superior demorou mais de um mês para responder à solicitação da estudante, confirmando a participação nos custos do acidente ocorrido em 12 de setembro. Durante esse período, entre 12 de setembro e 14 de outubro, a estudante enviou diversos e-mails que permaneceram sem resposta.
E-mail não respondido sobre reunião com a UFRB sobre o acidente | Foto: Reprodução / Gmail da Estudante
“Só uma consulta foi 290 reais. Eu gastei uns R$ 500 ou R$ 550 em consultas pelo que vi. Além do que posso comprovar com nota fiscal, fiquei mais de uma semana sem conseguir fazer as coisas. Não tinha como importunar as pessoas o tempo todo, fazer as coisas para mim. Pedia comida e um amigo tinha que buscar para mim”, explica Camila sobre as condições financeiras não atendidas.
E-mail da UFRB com uma resposta definitiva agendada, 1 mês após o acidente | Foto: Reprodução / Gmail da Estudante
No final de setembro, Camila, uma estudante em vulnerabilidade social, enviou um e-mail solicitando acesso ao Restaurante Universitário (R.U) da UFRB. O R.U oferece alimentação para estudantes bolsistas, mas a solicitação de Camila não obteve resposta até o momento.
“Fiz uma solicitação a universidade de auxílio do Restaurante Universitário, sou uma aluna em vulnerabilidade econômica comprovada. Não liberaram o acesso apara mim, eu não poderia ir, mas um amigo poderia pegar para mim”, conta a estudante.
E-mail respondido parcialmente sobre acesso ao Restaurante | Foto: Reprodução / Gmail da Estudante
O Bahia Notícias conversou com diversos estudantes do campus de Cruz das Almas questionando sobre as condições de infraestrutura das unidades da federação. Alguns temem represálias por parte da instituição e pediram anonimato.
Para uma estudante de 2° semestre de Agronomia, a infraestrutura sempre foi antiga e deixa a desejar, destacando sobretudo os prédios dos pavilhões de aulas. Além do Pavilhão 2 que Camila Alcântara sofreu o acidente, os outros dois pavilhões responsáveis por abrigar aulas também estão em precaridade.
“O 1 está bem precário em estrutura, tanto nos sanitários, quanto em sala de aula. Tem algumas partes dos pavilhões antigos que possuem muita umidade na parede, piso quebrado. O campus possui 3 pavilhões de aulas e o melhor em infraestrutura é o 3, porque é o mais recente”, conta a estudante em entrevista.
Além dos prédios, a universidade conta com um sistema interno de transporte público que não é da melhor qualidade para mesma estudante. Em entrevista ao Bahia Notícias, ela comentou que: “Já cansei de várias vezes passar pelo ônibus e ver ele com mais gente do que a capacidade máxima. Não tem ar condicionado, é apenas um ônibus e super antigo. Ele é muito pequeno para quantidade de alunos que circulam no ônibus”.
Para Mikael Nunes, estudante no mesmo campus, além do descaso “notório” da infraestrutura dos pavilhões de aula, os estudantes não têm se manifestado o suficiente, reivindicando o final de precaridades por todo o campus.
“Os forros das salas costumam ter buracos, muito abandono de material, cadeiras, equipamentos de informática. Fora os laboratoriais. Aqui normalmente os estudantes não se unem. Como, por exemplo, outros campus, como de humanas em Cachoeira. Aqui é muito difícil no sentido do interesse dos alunos mesmo”, comenta Mikael.
Em nota oficial divulgada na última terça-feira (15), a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) alertou para os graves impactos dos recentes cortes orçamentários sobre suas atividades. Segundo a instituição, “o bloqueio de recursos anunciado pelo governo federal está comprometendo o pagamento de contas básicas, como energia elétrica, e pode levar à interrupção de serviços essenciais e à paralisação de atividades acadêmicas”.
A UFRB ressaltou que a situação financeira das universidades federais já era crítica antes mesmo dos novos cortes, e que a falta de recursos coloca em risco a qualidade da educação pública no país. Para a estudante que sofreu o acidente, isso não pode ser usado como justificativa de uma negligência em seu atendimento e a falta de manutenção constante.
Trechos da Nota publicada na última terça-feira pela UFRB | Foto: Reprodução / Site da Reitoria
“Acredito que esse corte do governo, essa limitação de verbas obviamente vai impactar na infraestrutura. Mas acho que tem mais de coisas também que precisam ser pagas de imediato, sabe? Água, luz. Mas a manutenção dos pavilhões ela está péssima há anos”, questiona antecipadamente a estudante.
A equipe de reportagem do Bahia Notícias, além de buscar um posicionamento da reitoria, encaminhou as denúncias e queixas dos estudantes do campus, porém, até o momento, não houve retorno.