Um estudo apontou que os traços de personalidade, acumulados ao longo do tempo de vida de uma pessoa, e não o seu estado emocional (como se imaginava), desempenham um “papel mais crítico” na ocorrência de pesadelos e na sensação de angústia causada por eles. Além disso, esse levantamento também apontou quais são os possíveis efeitos para o organismo humano.
Segundo o estudo, entre 2,4% e 12% da população adulta tem pesadelos regulares, que resultam em “sofrimento emocional, [surgimento de] sintomas de estresse pós-traumático, paranoia e aumento do risco de suicídio”. O objetivo desta nova análise foi resultado de um constante debate entre psicólogos sobre como traços de personalidades afetam os sonhos.
“Na minha pesquisa, descobri que os traços são melhores preditores de pesadelos em comparação com os estados, pelo menos quando examinados individualmente. No entanto, estudos anteriores tenderam a favorecer a angústia do estado como um melhor preditor em detrimento das características. […] Em nosso estudo, queríamos ver se a inclusão de características adicionais que parecem influências importantes dos pesadelos faria alguma diferença”, disse o autor do estudo, Liam Kelly, professor de aconselhamento clínico em saúde mental na Universidade Neumann, no estado americano da Pensilvânia.
Para o estudo, foram recrutados 166 estudantes universitários (com idade média de 20,8 anos e diversificados sexualmente) matriculados em cursos de psicologia em uma pequena universidade americana. Esses participantes recordavam “o número de noites em que tiveram pesadelos nas últimas duas semanas” e “o número total de pesadelos durante o período”.
A partir daí, foi avaliado o quão angustiantes para os participantes eram os pesadelos, avaliados por meio da Escala de Experiência de Pesadelos (que mede a tendência a ter pesadelos frequentes), com os entrevistados respondendo se se identificavam com afirmações como “Estou incomodado com os meus pesadelos”, “Pesadelos intensos são um problema para mim” ou “Muitas noites não consigo dormir por causa de preocupação ou tensão”.
Foi testado, entre outros fatores, a “capacidade de um indivíduo de gerenciar o estresse e manter a estabilidade psicológica”, “a capacidade de ficar profundamente imerso em atividades mentais” e “o nível de sofrimento psicológico experimentado pelos participantes na semana anterior à avaliação”.
“Os pesquisadores descobriram que a frequência dos pesadelos estava mais fortemente associada à propensão aos pesadelos e aos limites psicológicos. Curiosamente, pontuações mais baixas na escala de limites previram uma frequência mais elevada de pesadelos”, explica a publicação.
As análises sugerem que os “indivíduos com capacidades mais fracas para gerir o estresse e regular as emoções” sofrem mais com os seus pesadelos.
“Uma conclusão geral é que as experiências de pesadelo parecem mais influenciadas pela forma como a mente do indivíduo é organizada e como ele tende a responder às situações, em vez de quão angustiados eles estão em um determinado momento”, disse Kelly ao PsyPost. “É claro que poderia ser uma combinação de angústia estatal e características que influenciam os pesadelos, mas nossos dados não mostraram isso.”