Evo Morales vai lançar partido para tentar concorrer à Presidência na Bolívia

Por Folhapress

Foto: Arquivo/Roosewelt Pinheiro/Agência Brasi

Com a intenção de voltar à Presidência da Bolívia, o ex-presidente Evo Morales deverá lançar um novo partido de esquerda após romper com o Movimento ao Socialismo (MAS), no qual construiu a maior parte de sua trajetória política, mas se afastou devido à rivalidade com o atual chefe do Executivo, Luis Arce.

Evo deverá apresentar a nova legenda neste fim de semana na cidade de Chapare, seu reduto político no departamento (equivalente a estado no Brasil) de Cochabamba. O ex-presidente vai liderar um ato no local para decidir, em conjunto com seus apoiadores, o nome e a sigla do partido, segundo o líder camponês Vicente Choque, próximo do ex-presidente.
Para ser reconhecido de forma legal, o novo partido terá de passar por um processo extenso que inclui o registro de pelo menos 109,5 mil apoiadores.
No mês passado, Evo anunciou que disputaria as eleições presidenciais pelo Frente para a Vitória (FPV). A Justiça boliviana, porém, bloqueou a candidatura porque ele já cumpriu os dois mandatos que a Constituição permite. Ainda assim, o ex-presidente insiste em fazer campanha e agora tenta driblar a decisão dos tribunais para voltar à Presidência —as eleições no país estão marcadas para agosto.
Um dos políticos mais influentes da história boliviana, Evo Morales comandou o país de 2006 a 2019. Em 2019, ele se declarou vitorioso para um quarto mandato, mas a oposição não reconheceu o resultado, acusando fraude, e o líder renunciou, exilando-se no México. Quem assumiu o poder interinamente foi Jeanine Áñez, que dois anos mais tarde foi presa e condenada a dez anos de prisão sob a acusação de organizar um golpe de Estado.
Após deixar a Presidência, Evo apoiou a eleição de seu ex-ministro Luis Arce, com quem rompeu devido a disputas no MAS.
Em fevereiro, o ex-presidente renunciou ao partido que dirigiu por 26 anos. Evo atualmente está abrigado em Chapare depois que um tribunal ordenou, em janeiro, a sua prisão devido a um caso no qual é acusado de estuprar e traficar uma adolescente.
O escândalo veio à tona em outubro de 2024, quando o governo de Arce confirmou a existência da investigação contra o ex-presidente. Segundo a acusação, Evo teria estuprado uma adolescente de 15 anos em 2015 com o consentimento dos pais, que teriam colhido benefícios do governo —ele era presidente na época.

Segundo o Ministério Público, a adolescente teria tido uma filha em decorrência do estupro. De acordo com a investigação, os pais da vítima a inscreveram na “guarda juvenil” de Evo “com o único objetivo de ascender politicamente e obter benefícios em troca de sua filha menor”.

O Ministério Público se concentra em tentar condenar Evo pelo crime de tráfico de pessoas, que acarreta uma pena de 10 a 15 anos de prisão. Isso porque, como afirma a defesa do ex-presidente, a denúncia de estupro foi investigada e arquivada em 2020.

O racha entre o ex-presidente e Arce piorou depois da tentativa de golpe militar na Bolívia em junho de 2024. O general por trás da quartelada, Juan José Zúñiga, havia sido removido do posto por Arce um dia antes de cercar o palácio presidencial com tanques por se manifestar contra um eventual retorno de Evo à Presidência e ameaçar o ex-presidente.

Quando a situação foi distensionada e o general, preso, Zúñiga afirmou ter agido a mando de Arce —o presidente nega. Evo disse na época estar convencido que a ação do general foi uma tentativa de autogolpe por parte de Arce para evitar seu retorno ao poder.

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