Ex-aliada confirma ordens de Anderson Torres para blitze contra eleitores de Lula: ‘todo mundo na rua’

PF aponta tentativa de Anderson Torres de influenciar resultados no Nordeste durante o segundo turno de 2022

Anderson Torres na CPMI dos Atos Golpistas
Anderson Torres na CPMI dos Atos Golpistas (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado )
A ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, revelou em depoimento à Polícia Federal (PF) que o então ministro Anderson Torres ordenou mudanças no planejamento de segurança para o segundo turno da eleição presidencial de 2022. As declarações, obtidas por Aguirre Talento, do UOL, reforçam as suspeitas de interferência eleitoral em favor de Jair Bolsonaro (PL). Torres, segundo Marília, determinou o aumento ostensivo de policiamento em locais estratégicos, especialmente na Bahia, estado onde o presidente Lula (PT) teve forte desempenho eleitoral.

No relatório final da investigação enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF indiciou Anderson Torres pelo crime de restringir ou dificultar o voto de eleitores, apontando atos de violência política nas ordens de aumentar o efetivo policial em áreas próximas às sessões eleitorais. A investigação concluiu que as ações careciam de fundamento técnico e tinham como base notícias falsas sobre crimes eleitorais.

Ordens polêmicas e tentativa de mudança no planejamento – Marília, delegada de carreira da PF, relatou que Torres realizou uma reunião após o primeiro turno da eleição com integrantes do ministério e diretores da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Durante o encontro, o ministro determinou o aumento do efetivo nas ruas para o segundo turno. “E aí o ministro falou, não, mas tem que aumentar o efetivo, tem que ser 100%, eu quero todo mundo na rua”, declarou Marília à PF.

Ainda segundo o depoimento, Torres criticou o planejamento da PF, que concentrava a maior parte das equipes nas capitais, e pediu a elaboração de um novo plano, focado em áreas específicas. Em um dos momentos destacados, Torres solicitou informações detalhadas sobre a distribuição de agentes na Bahia.

Suspeitas de interferência eleitoral no Nordeste – As ações determinadas por Torres levantaram suspeitas na corporação, uma vez que a Polícia Federal não realiza policiamento ostensivo. A PF classificou as ordens como tentativa de direcionar o trabalho das forças policiais para intimidar eleitores em regiões onde Bolsonaro enfrentava rejeição significativa. A Bahia, estado prioritário no planejamento do ministro, era um dos maiores redutos eleitorais de Lula.

Além disso, Marília revelou que Torres chegou a visitar a Superintendência da PF na Bahia antes do segundo turno e pediu diretamente a ela cópias de documentos sobre o planejamento no estado. “Teve várias testemunhas sobre isso. Eu não vejo lógica de fazer isso sem uma determinação do ministro”, enfatizou a ex-diretora.

Blitze rodoviárias e conexão com o plano de golpe – Os desdobramentos da investigação apontaram vínculos entre o plano de interferência eleitoral e as operações da PRF no Nordeste. A corporação é acusada de realizar blitze ostensivas no dia da votação para atrasar ou impedir o acesso de eleitores às urnas. O inquérito também destacou ligações entre a atuação policial nas rodovias e o suposto plano de golpe articulado por aliados de Bolsonaro.

Torres, em seu depoimento à PF, negou as acusações e afirmou que o novo planejamento foi elaborado sem seu conhecimento, por iniciativa de subordinados. Marília, por outro lado, rebateu a versão de seu ex-chefe e reafirmou que as ordens partiram diretamente dele. “Tanto é que ele foi à Bahia, e pediu para ser mandado o planejamento lá naquele momento para o superintendente”, destacou.

Relatório final e possíveis desdobramentos – No relatório enviado ao STF, a PF concluiu que Anderson Torres “promoveu o direcionamento de forças policiais” de forma coordenada para atuar ostensivamente em áreas estratégicas, sem justificativa técnica, mas com claro objetivo eleitoral. A investigação ainda apontou que Torres utilizou recursos do orçamento federal para viabilizar suas ações.

A defesa de Torres afirmou que irá se manifestar somente após a análise do relatório final.

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