Expoente do apartheid, primeiro-ministro da África do Sul é assassinado

Hendrik Frensch Verwoerd foi responsável pela sentença a prisão perpétua de Nelson Mandela e pela criação dos bantustões no país

No dia 6 de Setembro de 1966, apenas 7 minutos após tomar posse como primeiro-ministro no Parlamento da África do Sul, Hendrik Frensch Verwoerd foi assassinado por Dimitri Tsafendas, deputado ultrarreligioso de mãe negra portuguesa e pai branco grego.

Wikicommons

Verwoerd foi o sétimo premiê da África do Sul

Verwoerd foi o sétimo premiê da África do Sul

Político e sociólogo sul-africano, Verwoerd foi primeiro ministro da África do Sul entre 1958 e 1966 e foi um dos criadores do sistema segregacionista do apartheid contra a maioria negra.

Foi também o principal artífice dos bantustões, forçando o deslocamento em massa da população negra. Apesar do seu importante papel na implantação das leis do apartheid, Tsafendas alegou que  ele não fez o suficiente a favor dos brancos.

Verwoerd nasceu em 8 de setembro de 1901 em Amsterdã e mudou-se cedo com a família para a África do Sul.

Foi professor de sociologia e editor de um periódico nacionalista africâner, até que foi eleito senador em 1948 pelo Partido Nacionalista. Ocupou vários cargos no governo até ser designado Ministro de Assuntos Indígenas em 1950.

Foi responsável pela sentença a prisão perpétua de Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano em 1964.

Em 1958, Verwoerd foi designado primeiro ministro da União Sul-africana. Deu início à criação de reservas territoriais – bantustões – para a população bantu. Proibiu o Partido do Congresso em 1960 e em 1961 separou-se da Commonwealth.

Quando Verwoerd foi assassinado em 6 de setembro de 1966, Mandela já estava na prisão. E o grande paradoxo, o que demonstrava que a África do Sul estava mergulhada no que de pior pode oferecer a condição humana, é que o assassino foi tratado meramente como um louco. Não se buscou uma motivação política, e o governo segregacionista pode ir adiante.Ninguém julgou que o assassinato de Verwoerd fosse uma conspiração, o tomaram como um caso isolado. Tsafendas trabalhava de porteiro no Parlamento. Naquela terça-feira, 6 de setembro, Tsafendas comprou um punhal em uma loja de cutelaria, onde tomaram-no por um pescador. De regresso à portaria do Parlamento, sentou-se na sala de espera. Às 14h e pouco antes que o primeiro-ministro tomasse assento, Tsafendas se inclinou para frente e, pensando todos que o porteiro lhe estava murmurando um recado ao pé do ouvido, cravou-lhe o punhal até o fundo.

O escritor Henk Van Woerden reconstruiu essa história, com as pertinentes reflexões políticas, no excelente livro “O Assassino” (Mondadori, 2001).

Conduzido a uma unidade de psiquiatria, Tsafendas foi interrogado:

– Poderia dizer-me por que você fez isso?
-Não estava de acordo com suas leis.
Nesse momento Tsafendas começou a chorar desconsoladamente.
-Por que chora?
– Não sei.
– Você se sente satisfeito com o que fez?
– Estou contente de poder falar com alguém como o senhor. Alguém de uma classe melhor.

Van Woerden se impressiona com o relato que marcava essa África do Sul com homens como Tsafendas a anular-se ante alguém de “uma classe melhor”. O escritor se reencontra com o assassino muitos anos depois, em uma clínica psiquiátrica. Tsafendas é um homem em frangalhos. Louco sim, nesse momento, porém com problemas que carregou por toda a vida. Um homem essencialmente abandonado, maltratado, um zé ninguém.

No entanto, “qual dos dois se poderia dizer que estava mais enlouquecido, Verwoerd ou Tsafendas?”, se pergunta Van Woerden, que descreve e analisa ao mesmo tempo também a África do Sul do final dos anos 1980 e primeira metade dos anos 1990. Mandela morreu, contudo a nova África do Sul é sua obra. Verwoerd é o obscuro passado que não voltará, e Tsafendas é um símbolo daquela tragédia.

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