O chamamento está sendo reforçado com publicidades em ônibus que circulam no Grande Recife, dirigindo-se especialmente ao Domingo de Ramos. O dia, que este ano será celebrado amanhã (24/3), é o Dia da Coleta Nacional da Solidariedade.
Os posicionamentos geraram voto de repúdio na Câmara de Vereadores do Recife, em uma proposição da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), e discurso na tribuna da Assembleia Legislativa de Pernambuco pelo deputado João Paulo Lima e Silva (PT). Entidades como o Instituto Dom Helder Camara (Idhec) e o Centro de Estudos Dom Helder Camara (Cendhec) também se solidarizaram com o comandante da arquidiocese, que de coração leve e consciência tranquila, reagiu às investidas dos ultraconservadores.
Ofensas a dom Paulo
Em vídeo postado no YouTube, intercalando trechos de um pronunciamento do arcebispo com pitadas de ironia, um representante do grupo extremista Centro Dom Bosco, que não se identifica, dispara ofensas ao sacerdote.
“O arcebispo resolveu criar divisões e atacar os leigos de todo o país ao transformar a Basílica de Aparecida e sua TV em instrumentos a serviço da Teologia da Libertação”, comenta, referindo-se à homilia proferida no fim de fevereiro, no santuário.
Aproveitando-se do tema da Campanha da Fraternidade deste ano – Fraternidade e Amizade Social, cujo lema é “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mateus 23,8) – o Centro Dom Bosco declara no vídeo que o arcebispo mostrou falta de amizade social com os leigos de todo o país. “Isso porque percebeu que eles estão fazendo análise detalhada da Campanha da Fraternidade, que continua com sua orientação materialista e dotada de inúmeros erros”.
Reclama do que chama ‘adulteração das sagradas escrituras’ ao acrescentar a palavra “irmãs” ao versículo 8 do capítulo 23, na passagem de Mateus. “Só para atender ao feminismo”, alfineta. O Centro Dom Bosco alega ainda que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) transformou a Quaresma em um período para formação de ativistas sociais. Veja aqui a íntegra do vídeo.
No Recife, o centro religioso Confraria Dom Vital – uma ramificação do Centro Dom Bosco – pagou para que ônibus circulem com banners na parte traseira. Na mensagem, uma convocação: “Não doe no Domingo de Ramos, à Teologia da Libertação, à Campanha da Fraternidade 2024. Prefira esmola, penitência, oração”.
Os religiosos não informaram o valor investido na publicidade. Em mensagem pelo WhatsApp disseram apenas: “Paz e Bem. Querida Betânia, estamos em período de quaresma, preferimos por enquanto ficar em silêncio e em oração. Peço-lhe que coloque o nosso pequeno apostolado, o nosso Bispo Dom Paulo e o Papa Francisco em suas orações”.
Segundo o professor Severino Vicente da Silva, o Biu Vicente, do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ataques e críticas à Igreja não são de hoje e que se intensificam e ganham outro formato com as mudanças que acontecem no mundo. “A questão é um tema que vem acompanhando a Igreja Católica Romana desde sempre e, em nossos tempos, desde o final da Guerra em 1945”. E observa não haver uma nova doutrina, mas uma nova maneira de analisar o mundo.. Leia aqui a íntegra do artigo.
Estudioso de religião e cultura, Biu Vicente, autor do blog biuvicente.blogspot.com , aponta as contradições das entidades extremistas.
“Apelam para que os cristãos não apoiem monetariamente as obras da Igreja Católica, mas defendem que essas doações sejam postas à disposição dos conservadores, que pretendem, como na Idade Média e início dos tempos modernas, resolver os problemas sociais com a prática da esmola”
Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Paulo Jackson Nóbrega de Sousa relata em carta compartilhada com a reportagem o tom do discurso que adotou no Santuário de Aparecida. Lamenta a existência de grupos que se opõem ao Concílio Vaticano II, ao Papa Francisco, à Conferência Episcopal. E destaca a importância das doações realizadas por fiéis “Com esses recursos, a Igreja mantém milhares de projetos junto aos pobres e deserdados pelo país afora”, pontua.
Sobre possíveis ações a serem tomadas em relação aos ataques, a arquidiocese ainda não decidiu o que vai fazer nem se caberá alguma medida jurídica. Para o arcebispo, a melhor resposta é “orar, jejuar e perdoar”.
“O que vamos fazer em resposta a estas campanhas contrárias? Nada! Melhor, o mais importante: orar, jejuar e perdoar, para que a dimensão social da fé não seja esquecida por nós. Nunca. Cristo continua sofrendo e continua necessitando de nós. Tudo isso feito, não por causa de ideologias baratas, mas por causa do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.”