Família de Anne Frank tentou fugir para os EUA

Pesquisadores revelam que, antes de decidir buscar esconderijo, o pai da menina judia tentou emigrar, mas fracassou com o avanço da guerra, da perseguição nazista e devido às políticas migratórias americanas de então.

    
Anne Frank: menina judia morreu em campo de concentração nazistaAnne Frank: menina judia morreu em campo de concentração nazista

Com a ascensão do nazismo na Europa, a família de Anne Frank tentou várias vezes imigrar para os Estados Unidos, mas viu seus esforços fracassarem diante das políticas migratórias do governo americano de então.

A constatação foi feita pelo museu Casa de Anne Frank, em Amsterdã, e pelo Museu do Memorial do Holocausto, com base na análise de documentos relacionados à família judia na Europa e nos EUA.

O pai de Anne, Otto Franl, tentou duas vezes juntar os documentos necessários para obter vistos para os EUA. Depois, também teria tentado imigrar para Cuba. As tentativas, porém, foram em vão.

Sem alternativas para escapar, a família acabou tendo que entrar na clandestinidade, em 6 de julho de 1942, e buscar um esconderijo em Amsterdã.

“Eu me vejo forçado a olhar para a possibilidade de emigração e, pelo que estou vendo, os EUA seriam o único lugar para onde poderíamos ir”, escreveu Otto Frank em inglês a um amigo nos EUA, em 1941.

Os esforços da família para emigrar, porém, já começaram em 1938, um ano conturbado, em que os nazistas anexaram a Áustria e parte da Tchecoslováquia ao Terceiro Reich.

Em novembro daquele ano, nazistas mataram judeus, incendiaram sinagogas, saquearam e destruíram lojas da comunidade judaica. Aquela que ficaria conhecida no próprio jargão nazista como a “Noite dos Cristais” marcou o início do Holocausto, que causou a morte de seis milhões de judeus na Europa até o final da Segunda Guerra Mundial.

Em 1941, Otto Frank escreveu para o amigo Nathan Straus que havia sido rejeitada sua solicitação de visto feita junto ao consulado americano na cidade portuária de Roterdã, em 1938.

Na carta, ele conta que todos os documentos foram destruídos em 14 de maio de 1940, quando um bombardeio nazista destruiu o prédio do consulado. Mas mesmo com os papéis na mão, teria sido difícil para a família Frank entrar nos EUA.

Com centenas de milhares de pessoas buscando refúgio nos EUA desde a eclosão da Segunda Guerra, o governo americano dava apenas 30 mil vistos por anos. O processo em si durava anos e demandava uma montanha de papéis, incluindo de parentes nos EUA. Mesmo assim, o pedido ainda podia ser negado.

A guerra complicou ainda mais os esforços. Uma nova tentativa da família Frank, em 1941, de tentar entrar nos EUA fracassou porque todos os consulados americanos na Europa ocupada, inclusive na Holanda, haviam sido fechados pelo regime de Hitler. Uma solicitação de visto para Cuba daquele mesmo ano também jamais deu certo.

Segundos os historiadores, embora os EUA jamais tenham chegado a negar o visto para a família Frank, seus esforços foram minados pela “burocracia, a guerra e o tempo”.

“Como todas as tentativas fracassaram, buscar um esconderijo foi sua última tentativa de escapar das mãos dos nazistas”, diz Annemarie Bekker, do museu Casa de Anne Frank.

Em quatro de agosto de 1944, um ano antes do fim da guerra, todas as oito pessoas escondidas no número 263 da rua Prinsengracht em Amsterdã foram detidas e enviadas ao campo de extermínio de Auschwitz. Só Otto, pai de Anne, sobreviveu. A menina morreu no campo de Bergen-Belsen, em 1945, aos 15 anos.

Depois da guerra, Otto publicou o diário da filha, que se tornou um símbolo de esperança, resiliência e um relato importante dos horrores do Holocausto. A obra foi traduzida para dezenas de idiomas. A casa onde a família se escondeu em Amsterdã foi transformada em museu e é uma das atrações turísticas mais populares da cidade.

Anne Frank

QUEM FOI ANNE FRANK?

Fugindo dos nazistas

Em 1933, Anne Frank e a família fugiram da Alemanha para Holanda. Para escapar dos nazistas, eles tiveram de se esconder durante a Segunda Guerra Mundial. Viveram dois anos nos fundos de uma casa em Amsterdã. Mas alguém denunciou o esconderijo, e, em 4 de agosto de 1944, a família foi descoberta, presa e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz.

Anne Frank mit Schwester Margot. Foto:

A família

Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.

Anne-Frank-Haus in Amsterdam

Escondidos em Amsterdã

Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.

Deutschland Anne-Frank-Zentrum in Berlin

O esconderijo

No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome “Albert Dussel”. À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.

Anne Franks Tagebuch

Diário como confidente

O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. “O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada”, diz um trecho do diário.

Deutschland KZ zweiter Weltkrieg Befreiung von Konzentrationslager Bergen-Belsen

Morte no campo de concentração

Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.

Grabstein Anne und Margot Frank

Vida interrompida

Em Bergen-Belsen, há uma lápide com o nome de Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. “Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte”, diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.

Anne Frank Bücherregal der Stadtbibliothek im sächsischen Pirna

Famosa pelo diário

O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título “Das Hinterhaus”(“A casa dos fundos”). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. “Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo”, escreveu em 6 de julho de 1944.

Autoria: Iveta Ondruskova (ls)

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