FBC agora só teme a João Lyra no governo
Fernando Castilho
Na primeira semana de agosto, o vice-governador João Lyra Neto pôs sua melhor roupa e levou a mulher para uma fazenda no interior de São Paulo para assistir ao casamento do filho do ministro Fernando Bezerra que se uniria com uma Vidigal, tradicional família paulista. Lyra nem conhecia o menino que mora estuda e trabalha nos Estados Unidos, mas foi. Precisava ir. Para não ser descortês com FBC que lhe pediu pessoalmente a deferência.
E FBC não fez isso apenas pela reconhecida gentileza de sua família no trato social com seus amigos e correligionários. Sabe que a partir de 3 de abril de 2014, João Lyra Neto estará na cadeira principal do gabinete do governador de Pernambuco. E a última coisa que ele deseja é que, o então governador, não esteja alinhado com sua campanha para o governo do Estado. A partir daquela data, Lyra terá na mão o Diário Oficial e será forte e poderoso. Pode até não ajudar, mas se quiser atrapalha um bocado a vida de FBC. E Fernando Bezerra Coelho quer João Lyra Neto turbinando sua campanha.
Mas neste momento, João Lyra Neto, está feito jacaré na beira da lagoa esperando pacientemente a presa. Já FBC, se quiser entrar na água, sabe que precisa nadar. Até lá, vai ter que convencer Eduardo Campos e o próprio Lyra Neto que ele é o melhor para o projeto do PSB em Pernambuco. Ele até acha que já convenceu Eduardo Campos, mas sabe que João Lyra pensa diferente.
E, pensando bem, porque Lyra deveria abrir? É o vice-governador, estará na cadeira do chefe com direito a foto na galeria de ex-governadores e, se eleito, só poderá ficar um mandato. Além disso, sempre esteve na banda da esquerda pernambucana. Quer ser o candidato e priu!
Diferentemente dos Coelhos de Petrolina (sempre ligados à direita e que ao se dividiram levou FBC ao campo oposto), os Lyra sempre estiveram ligados à resistência. Do velho João a Fernando Lyra. Histórico, portanto, Lyra Neto tem mais que FBC. Certo, ele não tem a energia de FBC com seu estilo trator, mas e daí? Por que aparecer agora? Atrapalhar Eduardo Campos?
Isso é o que preocupa FBC. João Lyra já parte na frente mesmo parado. E é por isso que o ministro da Integração se mexe tanto. Do Sertão até o cais. De poço a aterro de praia. De barragem a adutora. Precisa gera fatos.
Bom, e o que Eduardo Campos pensa disso? Para FBC, ele também está monitorando os dois.
Hoje, parece claro, que FBC vai marchar junto com o governador esteja ele na oposição e virar candidato a presidente ou se ficar junto com Dilma.A conta que FBC faz é mais ou menos essa:
Se o governador sair candidato, ele desembarca junto com ele do Governo Dilma depois de ter feito o que puder até a hora do racha. Terá distribuído trator, poço e o que aparecer na frente. Hoje, ele tem a verba. E vai usar tudo isso até o momento que Eduardo Campos estiver na base aliada. Eduardo Campos, candidato a presidente, FBC será então um nome forte para fazê-lo ganhar em casa.
Se Eduardo fechar com Dilma, aí FBC vira o nome forte porque já está no governo federal. Ruim vai ser para o PT e para Jarbas Vasconcelos. Porque Eduardo vai passar como um trator em cima do partido escolhendo todo os cargos. Certo, o senador Jarbas Vasconcelos vai sair do campo do PSB de novo e com raiva. Mas fazer o que? Quem voltou para o campo de Eduardo foi o senador.
Nos dois casos, FBC estará sentado à direta de Deus Pai. E, a bem da verdade, parece cada vez mais claro que ele já se acertou com o governador. Isso explica porque o que antes era uma corrida paralela do ministério da Integração com o Governo de Pernambuco pelo interior e agora virou uma ação conjunta. O governador sabe o que FBC está fazendo e FBC sabe o que Eduardo Campos faz.
Quer um exemplo? Semana passada, FHC assinou com a Compesa a retomada da obra da Adutora do Agreste. Era do Governo Federal, Eduardo pediu a União porque achava que fazia mais ligeiro e agora FBC pediu a obra de volta porque acha que pode fazer mais rápido que Eduardo. Se acontecer alguma coisa até o ano que vem na obra, quem estará na foto é FBC. Eduardo Campos por sua vez cumpre a promessa de trazer água do Rio São Francisco até Caruaru.
Isso talvez explique a frase de Eduardo esta semana na obra da engorda de Barra de Jangada quando disse que “as pessoas estavam ansiosas com o pleito de 2014. E que eles não têm ajudado o Brasil”.
Nesse caso ele fala a verdade. Não tem que definir nada agora. Não precisa. No canto dele, tirando onda de candidato não declarado o PT não pode fazer nada com ele. Claro que o partido está hoje cuspindo brasa pelo fundo feito ferro de engomar. Mas, não dá para ninguém do partido atacar ele. O homem é da base.
Vem daí a tranquilidade do governador. Ele articula nas duas pontas. Ele é o único que pode sair e fazer estrago na base. É o único dessa “ninguenzada” da base aliada que tem um projeto de poder. É o único com quem Dilma pode conversar para pedir que fique. Partidos como PP, PR, PTB, PDT e PSD tem outra prioridade e estarão com o governo eleito seja quem for.
Resumindo: até o fim do ano, Eduardo Campos vai ficar nesse vai não vai. Conversando pelo Brasil, articulando e tentando se organizar. Se armar um palanque nacional como acredita que pode armar, ele vai para o pau e disputa a presidência. Nesse caso, FBC também desembarca e será o candidato.
Se Eduardo ficar na base de Dilma, FBC pode até não ser o candidato ao governo. Pode até disputar o Senado deixando o PT e Jarbas Vasconcelos chupando o dedo com João Lyra Neto disputando a eleição sem problemas.
E, nesse caso, Eduardo Campos vira deputado federal, elege um time com seus votos e tem vaga certa na presidência da Câmara dentro dessa onda de moralidade. Até porque ganhar de Henrique Eduardo Alves é como tirar doce da boca de criança. (Jamildo Melo/JC)