Fica o dito pelo não dito

Por Victor Abramo

É tiro e queda. Ninguém escapa da imensa sabedoria contida nos ditados ou nos chamados ditos populares. Também pudera, são necessários muitos e muitos séculos de observação para alcançar tamanho nível de conhecimento sobre a natureza humana e descobrir, por exemplo, que devagar se vai ao longe e o apressado come cru ou pega as sobras. Tal método é mesmo pau pra toda obra e tão certo quanto dois e dois são quatro. Afinal, há muito mais segredos entre o céu e a terra do que pressupõe nossa vã filosofia.

Pra início de conversa é preciso entender que beleza não põe mesa e que laranja madura, na beira da estrada, tá bichada ou tem marimbondo no pé, o que equivale a dizer que é preciso desconfiar de toda facilidade para não acabar metendo os pés pelas mãos ou botando os carros à frente dos bois. Por isso observar criteriosamente o que acontece ao redor é tão importante, pois tá na cara que uma imagem vale muito mais do que mil palavras.

Também não pense que dá para levar tudo a ferro e fogo. Tenha sempre em mente que muito provavelmente a persistência sempre levará vantagem sobre a brutalidade, do mesmo modo que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Mudar a natureza das coisas nunca é fácil, pois pau que nasce torto cresce e morre torto. O que absolutamente não quer dizer que não possa ter seu charme, já que para quem de fato ama, o feio bonito lhe parece.

Tenha certeza de que em nosso dia a dia sempre está em vigor a lei da ação e reação, e por isso mesmo quem com ferro fere com ferro será ferido, ou pior, vai parar sete palmos abaixo da superfície da terra, metido naquele paletó de madeira. O melhor mesmo pra quem pratica essa observância natural é agir com generosidade, pois quem dá aos pobres empresta a Deus e é dando que se recebe. Será? Confesso que tenho cá minhas dúvidas.

De vez em quando as coisas parecem fora de lugar, assim como muitas vezes em casa de ferreiro se usa espeto de pau. Não, definitivamente ninguém deve cair no perigoso atoleiro do menosprezo, pois em terra de cego o caolho é rei e manda e desmanda ao seu bel prazer, ditando regras como aos amigos mais chegados o arquivamento do processo. E aos inimigos, todo o rigor da lei.

Só não acredito mesmo é nessa coisa de que os últimos serão os primeiros e um dia você, assim como eu, chega lá. Desconfio que o sentido óbvio desse dito tenha se perdido ao longo do tempo, e na realidade seja os últimos serão os primeiros a desistir e quem está na frente, estes sim, chegam lá, seja esse lá aonde for e custe a passagem quanto custar.
Pronto. Acabei de dizer que nem mesmo a imensa sabedoria popular está imune a mudanças. Aliás acho que o termo imune é o ó do borogodó desse mundo virtual do Século XXI, pois me faz lembrar da persistência da famigerada imunidade parlamentar e, via de regra, remete a um ditado popular que, adaptado aos dias de hoje, ficaria mais ou menos assim: ladrão de gravata que rouba ladrão de gravata fere o decoro, enche o bolso e sempre escapa.

Diante de tudo o que aqui foi dito, e ditado, fica a nítida impressão de que só nos resta partir para uma grande mobilização nacional com o intuito de provar que, sim, a união faz a força e a voz do povo é a voz de Deus. Quem sabe dessa forma mostramos de uma vez por todas a essa corja de larápios que o que aqui se faz, aqui se paga, e não aceitamos cheque de contas em paraísos fiscais, cartão de crédito em nome de laranjas, dólares encontrados na cueca de quem quer que seja e muito menos panetones.

Victor Abramo é Jornalista.

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