Filho de Bernadete critica programa de proteção em que líder estava inserida: ‘Não havia polícia constante’

Senador Otto Alencar disse que é “impossível garantir segurança de todos”

Bruno Wendel

Filho de Mãe Bernadete durante velório. Crédito: Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO

Diversas autoridades compareceram ao enterro da maior líder quilombola do país Bernadete Pacífico, de 72 anos, realizado na manhã deste sábado (19) na Baixa de Quintas – ela foi assassinada dentro de casa, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho.

Entre os políticos, estava o senador Otto Alencar (PSD). Questionado sobre a eficiência do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), do governo federal ao qual Bernadete estava inserida, ele respondeu que é impossível garantir a segurança de todos.

“O inesperado ninguém tem condições de evitar. Bandido mata um presidente da república, como aconteceu nos Estado Unidos com John Kennedy e Abraham Lincoln. A proteção individual de qualquer pessoa é impossível em qualquer país, sobretudo com uma população e dimensão territorial que tem o Brasil. Com tantas ameaças que existem nessa tensão pela posse da terra, é muito complicado”, disse ele.

No entanto, durante o sepultamento, o filho de Bernadete criticou o PPDDH. “Minha mãe também estava na rede de proteção, desde a morte do irmão (Binho do Quilombo, assassinado em 2017), mas de nada adiantou. Não havia uma polícia constante. Eles (policiais) passavam lá, cumprimentavam ela e iam embora”, disse Wellington dos Santos sobre o programa do governo federal, mas aplicado aqui na Bahia, pela Secretaria Justiça e Direitos Humanos da Bahia (SJDH).

O senador disse que o assassinato de Bernadete Pacífico será citado como necessidade para a votação marco temporal. “Na quinta-feira, um dos temas debatidos no Senado Federal foi o marco temporal, para a regularização dessas terras todas, ocupadas por povos quilombolas e indígenas. Precisamos votar isso no senado. Acho que isso deve ser colocador para discussão, deliberação e votação, para que o presidente Lula possa sancionar e pacificar essa luta no campo pela posse da terra, mas dando tranquilidade e segurança jurídica sobretudo, aos povos tradicionais”, pontuou.

O senador acredita que a execução tem ligação com a morte do filho de Bernadete Pacífico, Binho do Quilombo, que também foi assassinado. “Ela à Brasília defender os interesses do Quilombo Pitanga dos Palmares. Perdeu o filho, Binho, em 2017, e agora acontece esse fato que, realmente chama a atenção, porque ela defendia a missão dela como líder quilombola. Ela estava muito feliz porque conseguiu os equipamentos para a produção da agricultura familiar, na casa de farinha. Nós estamos desde que o filho foi assassinado tentando descobrir quem são os culpados. Na minha opinião, tem a ver com a morte do filho dela”, declarou.

Além de Otto Alencar, a deputada federal Líndice da Mata (PSB), que também estava no enterro, comentou o fato de agora a investigação sobre a morte da líder quilombola ser realizada pela Policia Federal. “Essa federalização é importante. Não é apenas encontrar os assassinos e seus os responsáveis, que serão presos. É ter medidas preventivas para que isso não volte a acontecer”, disse ela.

Compareceram também a secretária Ângela Guimarães, da pasta da Igualdade Racial do Estado e o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues. “ É lamentável em 2023 esse tipo de situação! Essa religiosidade que está aqui desde 1.543 tem que parar de ser perseguida, ameaçada. Uma senhora de 72 anos? Porque essa escalada da violência? Estou aqui representando a ministra Margareth Menezes. Mãe Bernadete era maior que o quilombo, maior que Simões filho, que Salvador, uma personalidade do Brasil, que o país não conseguiu proteger”, declarou João Jorge Rodrigues.

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