Filho é o principal acusado pela morte de cineasta pernambucano

  • Divisão de Homicídios confirma que filho do diretor foi responsável pela morte 

LUIZ ERNESTO MAGALHÃES

 

Eduardo Coutinho em foto do Festival do Rio de 2011; cineasta foi encontrado morto em casa neste domingo Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Eduardo Coutinho em foto do Festival do Rio de 2011; cineasta foi encontrado morto em casa neste domingo Domingos Peixoto / Agência O Globo

O cineasta Eduardo Coutinho, de 80 anos, foi morto neste domingo, em seu apartamento no bairro da Lagoa, Zona Sul do Rio. O delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, confirmou que um dos filhos de Eduardo, Daniel Coutinho, de 41 anos, foi o responsável pelo crime. Daniel, que sofre de esquizofrenia, tentou também matar a mãe e se matar. Ferido, ele está sob custódia numa das enfermarias do Hospital Miguel Couto e será encaminhado para a prisão quando se recuperar.

O velório de Eduardo Coutinho será realizado na Capela 3 do Cemitério São João Batista, em Botafogo, a partir das 10h. O enterro está marcado para 16h.

Detalhes da tragédia

Quando os bombeiros chegaram, por volta das 9h, o cineasta já estava morto. Daniel foi encontrado ferido com duas facadas no abdômen. A mulher do cineasta e mãe de Daniel, Maria das Dores de Oliveira Coutinho, também estava ferida – ela levou duas facadas na altura dos seios e três no abdômen, sendo que uma delas provocou lesões no figado.

Segundo informações da Secretaria municipal de Saúde (SMS), mãe e filho foram operados no Hospital Miguel Couto (Gávea), onde permanecem internados. O quadro clínico de Daniel era considerado estável, mas Maria das Dores está em estado grave, de acordo com as informações divulgadas até o começo da noite.

Na coletiva de imprensa realizada às 19h deste domingo, o delegado Rivaldo Barbosa afirmou que Maria das Dores só conseguiu se salvar porque se desvencilhou do filho e correu para o banheiro, onde se trancou. Segundo os vizinhos, Eduardo Coutinho chegou a interfonar para o porteiro para pedir ajuda, mas Daniel atendeu a porta e disse que estava tudo bem. Depois de cometer o assassinato, ele teria batido na porta de um vizinho e teria dito que “libertou o pai”. (Leia a cobertura da coletiva de imprensa aqui).

Uma ex-vizinha de Eduardo Coutinho, que pediu para não ser identificada, descreveu Daniel Coutinho como uma pessoa muito fechada:

— A gente suspeitava que ele tivesse algum problema mental. Ele entrava e saia sem cumprimentar ninguém. E volta e meia soltava gritos no apartamento.

Uma vida dedicada aos documentários

Nascido em São Paulo em 11 de maio de 1933, Coutinho era considerado um dos maiores documentaristas do Brasil. Entre seus filmes de maior sucesso estão “Cabra Marcado para Morrer”, “Edifício Master”, “Jogo de Cena” e “Babilônia 2000”. Em 2007, o cineasta foi premiado com o Kikito de Cristal, no Festival de Gramado, pelo conjunto de sua obra.

Seu amor pelo cinema começou nos anos 1950, quando se começou a se interessar por roteiro. Após abandonar a faculdade de Direito, ele foi para Paris estudar Cinema. Voltou ao Brasil em 1960. Dois anos depois, em viagem com caravana da UNE, conhece a viúva do líder camponês João Pedro Teixeira. Dois anos depois, filmou “Cabra Marcado para Morrer”, sobre a vida de Teixeira, que acaba sendo interrompido pelo Golpe Militar. O projeto só seria retomado em 1981, quando ele reencontra a família de Teixeira, volta a filmá-los e lança, em 1984, o filme completo.

Em 1971, ele acabou se afastando do cinema para trabalhar como redator e crítico no “Jornal do Brasil”. Cinco anos depois, assinou o roteiro de “Dona Flor e seus dois maridos”, recorde de bilheteria nacional na época. A partir daí, nunca mais abandona o trabalho com a produção audiovisual. Em 1975 foi trabalhar na TV Globo, em uma equipe que marcou o programa “Globo Repórter”. Lá, abriu caminho para o estilo de documentário que viria marcar sua carreira, sempre preocupado em mostrar as peculiaridades e as complexidades do ser humano.

Já premiado por “Santo Forte” e “Babilônia 2000″, dirige “Edifício Master” e “Peões”. “Jogo de Cena”, de 2007, foi descrito pelo crítico JC Bernardet como “um movimento sísmico de 7 graus no cinema documental”.

Em junho passado, Coutinho foi convidado, junto com José Padilha, a integrar a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar.

Veja os filmes de Eduardo Coutinho, por ordem cronológica:

– “O Pacto” (Episódio do longa “ABC do Amor”) (1966)

– “O Homem que comprou o mundo” (1968)

– “Faustão” (1971)

– “Cabra marcado para morrer” (1985)

– “Santa Marta – Duas Semanas no Morro” (1987)

– “Volta Redonda – Memorial da Greve” (1989)

– “O Fio da Memória” (1991)

– “A Lei e a Vida” (1992)

– “Boca de Lixo” (1993)

– “Os Romeiros do Padre Cícero” (1994)

– “Seis Histórias” (1995)

– “Mulheres no Front” (1996)

– “Santo Forte” (1999)

– “Babilônia 2000” (2000)

– “Porrada” (2000)

– “Edifício Master” (2002)

– “Peões” (2004)

– “O Fim e o Princípio” (2005)

– “Jogo de Cena” (2007)

– “Moscou” (2009)

– “Um Dia na Vida” (2010)

– “As Canções” (2011)

Fonte: O Globo

 

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