Filiação ao PSL deixa Jair Bolsonaro sem nexo
Josias de Souza
Há no projeto presidencial de Jair Bolsonaro uma insustentável teatralização do novo. A bordo do seu sétimo mandato parlamentar, o candidato apresenta-se como uma fulgurante novidade, única alternativa radical contra os maus costumes. Ajudou a apertar o nó que asfixiou o mandato de Eduardo Cunha. “Com a coerência de sempre”, votou duas vezes a favor da abertura de processos criminais contra Michel Temer. A teatralização da ética tornou-se escancarada no instante em que o capitão sentou praça no Partido Social Liberal, o PSL.
Dono de uma bancada nanica, o PSL compôs a milícia parlamentar de Eduardo Cunha. Seus dois deputados, o líder Alfredo Kaefer (PR) e Dâmina Pereira (MG) acompanharam o ex-presidente da Câmara até a beira do abismo. O mandato de Cunha foi interrompido por 450 votos a 10. Alfredo agarrou-se na beirada, optando pela abstenção. Dâmina pulou no precipício, votando a favor de Cunha.
No apreciação das duas denúncias criminais contra Temer, a bancada do PSL, engordada pela presença do suplente de deputado Luciano Bivar (PE), presidente nacional da legenda, juntou-se à ala dos coveiros da Câmara. Bivar, Alfredo Kaefer e Dâmina Pereira ajudaram a enterrar as acusações, impedindo o Supremo Tribunal Federal de converter Temer em réu, o que levaria ao seu afastamento do cargo.
Na sexta-feira, Bolsonaro e Bivar divulgaram uma nota conjunta. Nela, escreveram: “É com muito orgulho que o PSL recebe o deputado Jair Bolsonaro e sua pré-candidatura à Presidência da República. Outrossim, é com muita honra que o deputado se sente abrigado pela legenda, e muito à vontade em um partido onde existe total comunhão de pensamentos.”
Ogulhoso de seu passado militar, Bolsonaro costuma dizer que, eleito, proverá “ordem e progresso” aos brasileiros. Movimenta-se no palco, porém, como administrador de um regresso. Ou informa de onde vem a “comunhão de pensamentos” que o uniu ao PSL ou desfilará pelo palco de 2018 com um discurso desconexo.
Segundo colocado nas pesquisas, o capitão do social-liberalismo faz pose de contraponto extremo do general do PT. Sapateia sobre a derrocada moral de Lula, o favorito, sem olhar para o próprio rastro. Noutros tempos, era o petismo que rodopiava em cena como símbolo da nova moralidade. Em 2005, foi apanhado no mensalão. Em 2014, foi pilhado no petrolão. Ou seja: no Brasil, o novo é uma coisa muito antiga.