O Flamengo de 2023 tem feito o torcedor se perder no tempo. Na véspera de decidir a vaga na final da Copa do Brasil — contra o Grêmio, às 21h30, no Maracanã —, o clube viveu um dia de ringue de luta. E lembrou seus momentos de completo desmando em um passado não tão distante, quando o profissionalismo e a estrutura de ponta eram uma utopia e as receitas caíam pelas tabelas. O treino que antecedeu à partida que pode definir o rumo da temporada rubro-negra foi marcado por uma briga corporal entre Gerson e Varela.
O uruguaio saiu com o nariz quebrado após receber um soco do meia. Ambos, porém, estão relacionados e serão titulares para buscar a classificação. O clube deve puni-los apenas com multa.
Em campo, esta noite, o Flamengo pode perder por até um gol de diferença para avançar a sua nona decisão na História e tentar o pentacampeonato do torneio. Em caso de revés por dois gols de diferença, a vaga será resolvida nos pênaltis.
A queda uma semana após a eliminação na Libertadores representaria um baque de proporções inéditas na estrutura de todo o departamento de futebol, e a saída do técnico Jorge Sampaoli ganharia força. Mas não apenas isso. Pressionados, o vice de futebol, Marcos Braz, e o diretor Bruno Spindel estariam berlinda na como nunca estiveram.
Nos últimos dias, todos no Flamengo têm tentado se mobilizar para apaziguar os ânimos, justamente após um outro caso de agressão, o do preparador físico Pablo Fernández contra o atacante Pedro. O ambiente conturbado entre o elenco e Sampaoli ainda não era ameno, mas a ida à final se transformara em um objetivo único para salvar o ano. Agora, a confusão recente deu novos ingredientes à partida no Maracanã.
O tumulto nos minutos finais do treino teve direito a ginga de baile funk, socorro médico e jogadores atônitos para evitar que algo mais grave, além da fratura no nariz de Varela, ocorresse. Os próprios brigões alegaram que foi uma situação de treino. O uruguaio, que levou a pior, disse ainda que não queria prejudicar o clube.
Tudo começou por volta de 11h30, com uma reclamação de Gerson após receber uma entrada forte do zagueiro Pablo. O meia abriu os braços e cobrou o companheiro, mas o treino seguiria. Foi quando Varela se intrometeu. O uruguaio, que já havia recebido uma entrada do time de Gerson anteriormente, disse que não havia sido falta. O meio-campista, então, falou para o lateral não se meter.
Em seguida, Varela partiu para cima do coringa. A atitude do uruguaio surpreendeu. Baixinho, de voz mansa, ele tem perfil pacato e nada estourado. Mas, desta, vez gingou para cima do companheiro e tentou acertá-lo com um chute baixo.
No momento, o meia do Flamengo fez um movimento com o corpo para trás, armou a guarda e já voltou em direção a Varela com um soco no nariz. Relatos dão conta de que o sangue espirrou na hora. Médicos do rubro-negro correram em direção ao lateral para socorrê-lo. Os demais jogadores pararam o treino. Everton Ribeiro e Pablo seguraram Gerson, e cada um foi para um lado do campo. Sampaoli, então, reuniu os atletas no gramado, sem os brigões, e disse algumas palavras.
Em seguida, Varela e Gerson foram consolados por todos. Ninguém tomou partido. O lateral foi para perto do banco de reservas, e todos checaram como ele estava. Depois, foram ao outro lado falar com o volante.
Após a atividade, Sampaoli conversou com líderes do elenco, sem os dois jogadores que brigaram. Com a presença do diretor Bruno Spindel, ficou decidido que o caso seria tratado como algo “normal”. Varela foi encaminhado ao hospital, fez exames e descartou cirurgia. A pequena fratura será protegida por uma máscara dura hoje. E ele vai para o jogo, já que o Flamengo não tem Wesley, suspenso.
O clima de tudo ou nada fez Sampaoli acelerar a recuperação de Pulgar. O volante também está relacionado, mesmo tendo treinado apenas uma vez com o grupo após lesão muscular.
Na hierarquia do Flamengo, antiguidade é posto. Em mais um episódio de agressão, a falta de comando da diretoria abriu brecha para a voz mais respeitada. Filipe Luís tem ocupado a lacuna de poder no departamento de futebol e desempenhado junto aos jogadores uma cobrança maior que a dos profissionais que o clube paga para a função.
Depois da confusão no centro de treinamento, foi o lateral-esquerdo quem chamou os jogadores que ainda estavam em campo e pediu para que esse tipo de comportamento não aconteça. Em seguida, o veterano esteve reunido com Sampaoli e outras lideranças para uma conversa sobre o episódio de agressão.
Desta vez, Spindel estava no Ninho do Urubu e participou da condução da situação entre Varela e Gerson, embora não estivesse próximo da briga. Ao tomar conhecimento, lidou com o encaminhamento do uruguaio ao hospital para exames e ponderou junto ao clube o que fazer com ele e o volante. Já Braz não estava no local na hora do ocorrido e interferiu à distância, já que tinha sessão na Câmara dos Vereadores. Em seguida, o Flamengo enviou nota oficial em que tratou o caso como um “entrevero” durante o treino.