Tamires inicia o vídeo, que em 24h já chegou a mais de 6 mil compartilhamentos, falando do relacionamento abusivo que viveu com o ex-companheiro por 12 anos, Segundo ela, eram frequentes cenas de violência física, sexual, verbal e patrimonial, que foram transferidas para a filha, fruto do relacionamento dos dois, quando os sinais de abuso começaram quando a filha tinha apenas seis meses de idade.
“Os sinais de violência foram passados para a nossa filha, que hoje tem três anos e nove meses. Pensei que após a separação, quando ela tinha um ano e seis estaríamos finalmente livres dos maus tratos, pois a vida seria somente eu e ela. E foi aí que a nossa vida se tornou um verdadeiro filme de terror, pois ela passou a conviver com ele. Como ela ia se defender dos gritos, apertões, mordidas, sacudidas sozinha?”, desabafou ela.
Após a separação, a criança começou a ir três vezes na semana na casa do genitor, e logo após a convivência passou a demonstrar resistência para encontrá-lo. Tamires conta que a pequena “chorava muito e demonstrava muito medo dele” antes de ficar com o pai, e com o tempo, passou a ficar irritada e agressiva.
Além da insônia, falta de apetite e comportamentos diferentes que se estenderam para a escola da filha, a mãe conta também que, a pequena passou a voltar da casa dele sempre com marcas roxas na pele atrás das pernas e debaixo do braço, marcas de unha na cintura próximas à nádegas, até que apareceu com uma marca nas partes íntimas.
“Eu o questionava, e quando ele me respondia, só sabia gritar e dizer que eu tinha que aceitar a nova vida dele, que eu não ia estragar o novo relacionamento dele e nunca me respondia sobre os roxos, os choros.
Tamires conta que em julho de 2022, em um dia de sábado, o ex-companheiro havia entregado a filha chorando muito. “Tentei me aproximar para trocar a fralda e dar banho e ela só sabia chorar dizendo “não mamãe” e com muito medo. Ela tapava o rosto e fazia uma barreira na cintura com os travesseiros, cruzou as pernas e não me deixava tirar a fralda de jeito nenhum”, desabafa ela.
A fonoaudióloga conta que depois de conversar e insistir muito, ela conseguiu tirar a fralda da filha e presenciou vermelhidão nas partes íntimas da pequena. “Eu entrei em desespero. Me veio um filme pela minha cabeça e nesse momento eu desconfiei que a minha filha estava sofrendo violência sexual. Quando eu o questionei, ele disse que poderia ter sido a mulher que estava com ele na época. Eu disse que eu daria uma queixa contra ele”, continua.
Ainda de acordo com o relato de Tamires, as idas da filha na casa do genitor estavam condicionadas à presença de uma babá da sua confiança. Ela conta que a pequena só queria ficar com as profissionais, mas que o ex-companheiro driblava a presença das babás para ficar sozinha com a criança. “Ele passou a deixar a babá cedo em casa e sair sozinho com a minha filha. Só entregava a minha filha às 19h30, 20h”
Em um desses dias, Tamires conta que o genitor resolveu dar folga a babá e ficar dois dias com a criança, sem avisar à fonoaudióloga. No dia de devolvê-lá, Tamires relata que a avó materna da filha foi dar banho nela e presenciou a criança fazendo gestos obscenos em si mesmo, de cunho sexual. “Perguntamos onde ela tinha aprendido aquilo. Ela sorrindo e achando graça, disse que foi com “Foi o papai. É o papai que faz”. Na hora me veio um misto de raiva porque eu tive uma prova concreta de que ela estava passando por uma violência sexual”, relatou ela.
Denúncia
Tamires conta que no dia seguinte ligou para o advogado e agendou para ir ao conselho tutelar. Foi prestada uma queixa contra o genitor da criança, assim também como foram realizadas consultas com diversos órgãos como o IML e CREAS. A fonoaudióloga conseguiu uma medida protetiva contra o ex-companheiro, mas conta que a pequena ainda não tem o recurso, e que não conseguiu afastar a filha do genitor.
“Foram 10 meses desde que eu prestei queixa. Ela mantém o contato com ele através da escola. De uma hora para a outra a escola esqueceu de tudo referente à minha filha, passando a tecer elogios a ele e fazendo questionamentos incabíveis, informando que as visitas foram supervisionadas. Mas um dia cheguei e ele estava só com a minha filha em uma sala sem ninguém estar olhando”, continua a mulher.
Ela relata ainda que após as visitas do ex-companheiro na escola da filha, a pequena passou a se automutilar, arrancando pedaços da gengiva com o dente e até se furar com um garfo. “Ela passou a se recusar a ir à escola e passou a associar o pai com um monstro, que esse monstro gritava com ela e apertava o braço dela. A escola está ciente da situação e diversas vezes pedi relatório e sempre me dizem que eu preciso de uma ordem judicial, através do Ministério Público e para o genitor a instituição fazia sempre que ele pedia”, desabafa Tamires.
A fonoaudióloga conta que logo após prestar queixa contra o genitor, ele também abriu uma ação contra ela por calúnia e difamação, afirmando que tinha ciúmes do novo relacionamento dele. Tamires conta, entretanto, que as situações que ela passou e as ameaças que recebeu dele foram os motivos que ela encontrou para provar que a ação dele não era cabível.
“Quando eu tinha sete dias de pós parto, ele literalmente me estuprou, me obrigou a fazer sexo com ele. Eu estava com três lacerações. Não é fácil para mim relatar essas coisas. Em dia também, quando eu estava amamentando a minha filha, que estava de dois meses na época, ele deu um tapa em meu rosto”, relata a fonoaudióloga.
Como única forma para buscar forças e encontrar ajuda para enfrentar a situação, Tamires denuncia também o processo das ações na justiça, que segundo ela, foi arquivada por falta de provas concretas
“A polícia o indiciou por crime de estupro de menor vulnerável, e o Ministério Público abriu um inquérito para a polícia devolver o caso para ouvir os pais dele e a escola. O que causou estranheza para mim porque não quiseram ouvir outras pessoas que conviveram com a vítima”, inicia Tamires.
“O genitor solicitou um relatório para a escola, ao invés da escola ser convocada para depor pela polícia, ele anexou o relatório e os juízes, desembargadores deram o seu parecer baseado nesse relatório e no depoimento da babá. Não levaram em consideração o depoimento da minha mãe, não levou em consideração o relato da vítima e nem em consideração o meu relato”, finaliza ela
Tamires relata ainda, que apesar de tudo que foi relatado e mostrado para a justiça, o desembargador deu parecer para guarda compartilhada.
“Estou aqui não só por mim e por minha filha, mas por milhares de mulheres e crianças que passam por situação de violência doméstica a todo o momento e não tem voz porque não tem mais força. O sistema é falho. O sistema não acolhe. O sistema protege o abusador. Isso tem que acabar. Os órgãos foram criados para proteger as vítimas, mas estão fazendo o oposto”, finaliza ela.