Gordura faz mal à saúde?
Nutriente não deve ser excluído da alimentação
Por: Ney Cavalcanti*
Cada grama de gordura é capaz de produzir 9 calorias, ao passo que o açúcar, o carboidrato, apenas 4. Para que carregar um tanque pesado se podemos tê-lo mais leve? Todo alimento ingerido, proteína, carboidrato ou lipídio, é armazenado como gordura. E qual a razão por que cada vez a quantidade desde tanque vem aumentando em cada vez mais pessoas?
No fim de 1970, os americanos acharam que a população estava com sobrepeso porque estava ingerindo mais gorduras. Verificaram que em muitos países em desenvolvimento, a prevalência de excesso de peso, então, era muito baixa. Analisando o tipo de alimentação deles, constataram que era predominantemente de carboidratos.
Afinal, quanto mais pobre o povo, mais carboidrato ele consome. Por conta disso, as autoridades de saúde daquele país estimularam a sua população fazer mais uso deste tipo de alimentação. E, na década de 1980, houve um aumento de 1.800% na ingesta de carboidratos com o consumo de cereais.
O resultado todos conhecemos. Os Estados Unidos são o país mais gordo do mundo. Desde há muito, critica-se o consumo de gordura como responsável pela elevação do colesterol sanguíneo, um dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares.
Posteriormente, chegou-se à conclusão de que só um tipo delas era capaz de exercer esta ação maléfica. As gorduras saturadas, que são aquelas em que a junção de seus átomos de carbono se faz através de uma ligação simples. Depois se concluiu que nem todas as saturadas teriam esta ação maléfica.
Também foi falha a afirmação que as gorduras existiam quase que exclusivamente em alimentos de origem animal. O óleo de coco e de dendê, ambos vegetais, são extremamente ricos nos lipídios considerados maus. Durante muitos anos, considerou-se que a principal restrição dietética para os pacientes com colesterol elevado seria a restrição dos alimentos ricos nesta gordura.
A gema de ovo e os crustáceos eram os maiores vilões. Ledo engano. A biles fabricada no fígado é armazenada na vesícula biliar e, em seguida, chega ao intestino. Leva diariamente a este órgão, independente do que existir na dieta, o equivalente ao colesterol existente em dezenas de gemas de ovo. Algumas a mais não farão diferença alguma.
Não mais se recomenda a suspensão de ovo para paciente com hipercolesterolemia. Já se sabe há muito que o consumo de gorduras não saturada, mono ou poliinsaturada, não só não elevam o colesterol, muito ao contrário, diminuem. As “mono” têm apenas uma dupla ligação entre os seus átomos de carbono e as “poli”, várias.
Os óleos de arroz, milho e soja são fontes das poliinsaturadas, enquanto as gorduras existentes nos óleos de oliva e canola são predominantemente monoinsaturadas.
Estes últimos são considerados os mais saudáveis porque só diminuem o chamado colesterol mau, o da LDL.
Por outro lado, algumas pesquisas também têm demonstrado que apenas a restrição de gorduras saturadas não tem sido capaz de melhorar o prognóstico de doentes com fatores de risco para doença vascular; apesar desta dieta produzir uma redução discreta do colesterol sanguíneo.
A explicação que se tem dado é que esta diminuição não atinge a redução de partícula mais maléfica da LDL – a LDL pequena e densa. A restrição das gorduras torna o alimento menos saboroso. Para compensar, a indústria alimentícia aumenta a quantidade de açúcar. Este, sim, o grande vilão do excesso de peso.
*É endocrinologista e escreve quinzenalmente neste espaço