Governadores do NE pedem pacto federativo e crédito a Bolsonaro

Bolsonaro e Wellington Dias, governador do Piauí (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Bolsonaro e Wellington Dias, governador do Piauí (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ausentes na primeira reunião de governadores eleitos com o futuro presidente, Jair Bolsonaro (PSL), os gestores dos nove estados do Nordeste escolheram como representante Wellington Dias (PT), do Piauí, para representá-los. O petista, que foi reeleito para o quarto mandato, entregou a Bolsonaro uma carta do Fórum dos Governadores do Nordeste, em que eles pedem um novo encontro para abordar a pauta regional – a reunião desta quarta-feira (14) foi convocada por João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro. No Nordeste, nenhum apoiador de Bolsonaro venceu e o presidente eleito foi derrotado por Fernando Haddad (PT) em todos os estados.

Segundo Dias, em entrevista à Agência Brasil, a expectativa é de que Bolsonaro se reúna com os nove governadores eleitos na próxima quarta-feira (21). Um encontro dos representantes nordestinos já estava marcado para esse dia.

Na carta, os governadores eleitos pedem um novo pacto federativo, a abertura de crédito e a revisão dos regimes próprios de previdência. Além disso, põe no foco o problema da segurança pública – ressaltando que “o Nordeste concentra 4,5% dos casos (de homicícios), em sua maioria, provocados por armas de fogo” – e a retomada de obras como a transposição do Rio São Francisco e a Transnordestina.

Uma nova distribuição dos impostos arrecadados, de forma mais igualitária, foi promessa do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.

“O aumento da carga tributária no Brasil – tão criticado por vários setores da sociedade – se deu nas chamadas contribuições sociais, que não são repartidas com estados e municípios. Agora, é o momento oportuno para construir uma proposta de partilha que promova o desenvolvimento sustentável e inclusivo”, afirma o texto. “Entendemos que é de extrema necessidade a aplicação de pelo menos 28% dos investimentos anuais em Ciência, Tecnologia e Inovação na região Nordeste, inserindo a região nos grandes programas nacionais”, pede ainda.

No sentido contrário à pauta de privatizações de Bolsonaro, os governadores eleitos do Nordeste pedem que ele se oponha à venda da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).

Os governadores eleitos solicitam ainda na carta liberação de empréstimos para investimentos e operações de crédito especial com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A ausência de liberação de crédito foi motivo de críticas do governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), reeleito no primeiro turno, ao presidente Michel Temer (MDB). O objetivo do socialista, que se aliou ao PT este ano, era conseguir cerca de R$ 600 milhões para investimentos na Caixa Econômica Federal e no BNDES, mas o dinheiro não chegou. Paulo Câmara acusa Temer de perseguição com o Estado.

Oposição

Paulo Câmara foi um dos que não foram à reunião com Bolsonaro. O governador está de férias e no lugar dele na gestão está o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Eriberto Medeiros (PP). A vice-governadora eleita, Luciana Santos, deputada federal que é presidente nacional do PCdoB, seria a responsável por ir ao encontro com Bolsonaro em Brasília, mas faltou.

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, na Rádio Jornal, Luciana Santos afirmou que “os governadores do Nordeste, simplesmente, não aceitam terem como interlocutores os governadores do Centro-Oeste e Sudeste”. A afirmação foi em referência aos que convocaram a reunião, Doria e Witzel, além do governador eleito do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF).

“É uma articulação de caráter mais político e, por isso mesmo, os governadores tiveram o entendimento que era melhor apenas mandar um representante do Nordeste que será Wellington Dias, governador do Piauí, para poder se situar”, afirmou mais cedo. “O presidente da República e os governadores que são eleitos têm autonomia e cada um vai tratar dos seus interesses, independente, do convite dos governadores do Sudeste. Isso também faz parte da institucionalidade. Não serão três governadores que vão falar e ser intermediários da relação com o governo do Estado com o presidente eleito”.

Antes de ser eleito, em entrevista a Boris Casoy, Bolsonaro dava sinais de que não será fácil conseguir verba, afirmando que os governadores de oposição “mais radical” teriam “tratamento secundário”. “Não podemos penalizar o povo por uma questão ideológica da minha parte, você tem que respeitar a vontade popular. Mas, obviamente, tudo é priorizado. Vamos priorizar os problemas mais graves e os governadores mais afinados conosco. Um governador, por exemplo, de um partido que faz uma oposição radical nós vamos tentar não atrapalhar, não (deixar de) beneficiar a população, mas vai ter um tratamento secundário”, disse o futuro presidente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *