Governo e oposição concordam: vai ter que provar

Por Rudolfo Lago

Em um ponto, coincidem as avaliações entre governistas e oposicionistas a respeito do depoimento do hacker Walter Delgatti à CPMI dos Atos Golpistas: o que ele disse terá que ser comprovado. A partir daí, diferem as análises quanto à gravidade do que foi dito. Para os governistas, Delgatti “deu cores mais vivas” ao que combinou e negociou com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Para os oposicionistas, o hacker é uma pessoa “desprovida de credibilidade”. Assim, sem as provas, o que ele afirma não se sustentará por muito tempo. Delgatti já terá uma chance de comprovar o que fala: à Polícia Federal, que o intimou outra vez. O hacker voltaria à PF já na sexta-feira (18). E a tarefa da PF será desdobrar a investigação a partir do que Delgatti disse à CPI.

A CPMI irá quebrar sigilos. Mas mesmo os governistas avaliam que cuidados podem ter sido tomados nas conversas telefônicas ou na troca de valores. Mais possibilidades podem sair do cruzamento de agendas, comprovando encontros, e em acareações entre os envolvidos.

Na oposição, a avaliação vai na linha da comprovação. Uma coisa seria o encontro com Bolsonaro, que efetivamente aconteceu. Outra o que se disse. Se somente perguntou se as urnas eram fraudáveis, a gravidade é menor. Se contratou para tentar fraudar as urnas, maior.

Assim, para a oposição, se não se avançar da mera comprovação de que Delgatti esteve com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, não haverá maior agravamento. E o hacker ficará com o ônus da prova. Há, porém, um consenso: Carla Zambelli é uma trapalhona, que complicou a vida de Bolsonaro. Por que ela foi contratar o hacker da Vaza-Jato? Por que inventou de levá-lo até o Alvorada para falar com Bolsonaro? No PL, a avaliação é que isso é mais um ponto a complicar a vida de Zambelli, a quem o comando da campanha de Bolsonaro já reputava boa parte da responsabilidade da derrota. Avalia-se: “É boa de voto, mas um problema”.

Na sucessão de trapalhadas, Zambelli chegou a levar Delgatti também à sede do PL, para falar com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto. Zambelli apresentou Delgatti como alguém que poderia “contribuir com o partido”. Valdemar, porém, desconversou.

Logo depois que Delgatti saiu, o presidente do PL chamou sua equipe de comunicação e comentou: “Imagina se eu vou contratar esse maluco”. Na quinta-feira, o presidente do PL estava tranquilo. Nada teria a temer quanto à conversa que teve com o hacker.

Um ponto, porém, preocupava as rodas oposicionistas. E se Delgatti gravou a conversa com Bolsonaro? Se levou ao Alvorada algum dispositivo para registrar o que dissera o presidente? Hoje, há equipamentos sofisticados para isso, que poderiam ser escondidos.

E Delgatti é um especialista em equipamentos eletrônicos. Essa era uma possibilidade que preocupava na quinta-feira (17) integrantes do PL. O surgimento de uma gravação poderia gerar novos contornos. Delgatti sabe das consequências de mentir a uma CPI.

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