Depois que o EXTRA publicou imagens de Mário Gomes vendendo hambúrguer e batata frita numa carrocinha na Praia da Joatinga, na Zona Oeste do Rio, a vida pacata do ator de 65 anos sofreu uma reviravolta. Desde então, Mário recebeu inúmeros pedidos de entrevistas, uma proposta para ter seu próprio food truck e aproveitou toda a exposição para lutar por uma causa nobre: a melhoria da qualidade de vida dos velhinhos do Retiro dos Artistas.
Para falar de todo bafafá, o ator recebeu nossa equipe em sua casa e contou ainda como superou a síndrome do pânico e como lida com o envelhecimento. Ele ensina também a receita do sanduba, mas sem revelar a fórmula secreta do molho do sanduíche.
A repercussão
“Não esperava de forma alguma. Obviamente que a gente trabalha na vida para melhorar como pessoa e, às vezes, um gesto demonstra o teu caráter. Talvez eu tenha passado essa imagem com meu jeito mais despojado e desencanado, esse espírito consciente da realidade da vida. Temos que ir à luta, como é o caso do Retiro dos Artistas, onde fiz uma horta comunitária e estou organizando um show beneficente com a Helena de Lima para arrecadar fundos. Como diria o pensador Lao Tse: ‘Quem conhece os outros é inteligente. Quem conhece a si mesmo é iluminado. Quem vence os outros é forte. Quem vence a si mesmo é invencível’”.
O artista
“Tenho duas pernas, dois braços, energia, isso me mantém vivo. A atividade, fazer o carrinho, descer com ele, levantar, carregar, carregar pedra… Toda minha casa é de pedra, muitas delas fui eu que coloquei. Eu suava, mas isso me emagreceu, me deu saúde. Essa agitação me faz bem. Meu foco agora não é a televisão. Se pintar, maravilha, mas meu foco são projetos para ajudar as pessoas”.
Síndrome do pânico
“Tinha 14 anos quando estourou e nessa idade você não tem noção do que é. Era inseguro, despreparado, imaturo, isso tudo gera um pânico, um medo. Hoje, é considerado uma doença grave, na minha época, o cara era um idiota. Superei fazendo análise, mas quando a crise é muito aguda, o resultado é paliativo. Fiquei incomodado, não estava sendo o ator que eu gostaria. Atrapalha o trabalho”.
Arrependimentos
“Quando comecei na carreira de ator, era muito intuitivo, mas com as perseguições, fiquei perdido, achei que estava errado. A gente fica achando que errou. Fiz sucesso demais? Você não sabe, não tem o domínio dessa situação quando mais novo. Na vida também fazemos escolhas erradas. Acontece. A gente devia ter duas vidas, uma para ensaiar e a outra para viver”.
Passagem do tempo
“Como diz Fernanda Montenegro, envelhecer nunca é bom, mas tem um lado bom: você vive mais pleno, tranquilo, consciente. Você fica em condições de ajudar mais e ser mais útil, fica menos envolvido com seu próprio universo, pensa mais no outro. Era muito vaidoso, até pela minha insegurança. Mas meu sucesso não foi por acaso. Fui considerado o melhor em ‘Gabriela’, ganhei o prêmio de Melhor Ator na peça “Greta Garbo”, entre outros trabalhos”.
Entressafra
“Infelizmente, minha intuição caiu um pouco por problemas pessoais. Era muito difícil ter um cara contra você, que me deixou sozinho e disse que nunca mais eu ia fazer novela na minha vida. Me senti em dificuldade”.
Projetos
“Vai haver uma revitalização do Parque Garota de Ipanema e dei uma sugestão ao prefeito de colocarmos ali um bonde food. A ideia é boa porque reaviva o Rio Antigo, será um ponto cultural e terá todo um trabalho com fotografias, quadros, vamos poder fazer exposições. Já sobre investir em food truck, estou negociando com uma empresa. Vai ter até o hambúrguer de salmão”.
Paizão
“Ser pai dá muito trabalho. É difícil educar, ainda mais um homem. João, de 10 anos, é muito danado, toca violão muito bem, mas é dissimulado, safado, chantagista, canalha e pilantra, no bom sentido, claro. Foge da leitura. Ainda tenho a Linda, 24, que é atriz, a Talita, 20, e a Catarina, 7”.