Homem foi morto pela PM em Santos após admitir ter ficha criminal

Segundo relatos dos moradores, o homem foi perguntado sobre passagens na polícia e, quando admitiu, foi levado para o interior de um imóvel e executado

(Foto: Governo do Estado de São Paulo)

Flavio Sérgio Menezes Cabral foi fatalmente atingido por disparos de fuzil e pistola durante uma ação policial dentro de uma residência no Morro do Jabaquara, situado em Santos, no litoral de São Paulo. Os estrondos dos tiros ecoaram pela vizinhança na manhã da última terça-feira (1º), cerca de duas horas após a morte de um auxiliar de pedreiro no mesmo bairro. Dois moradores que residem aproximadamente a 20 metros de distância relatam que Cabral foi executado pelos policiais militares depois de confessar possuir um histórico criminal.

Os policiais envolvidos, que saíram ilesos, alegaram que responderam a disparos direcionados contra eles. Cabral se tornou uma das 16 vítimas registradas pela SSP (Secretaria de Segurança Pública) na Operação Escudo, que está em curso na Baixada Santista desde a última sexta-feira (28), informa a Folha de S. Paulo. Em resposta a questionamentos, a SSP afirmou que “as forças de segurança atuam em estrito cumprimento da legislação vigente” e que “todas as ocorrências fatais durante a operação resultaram das ações dos criminosos, que optaram pelo confronto, colocando em risco tanto as vítimas quanto os agentes da ação”.

Cabral não residia na casa onde foi morto e não era conhecido pelos habitantes do Morro. O imóvel, que é composto por um quarto e sala, é alugado por um porteiro de 22 anos que estava trabalhando no momento do ocorrido. Segundo informações do filho do proprietário, dois policiais do Batalhão de Ações Especiais (Baep) primeiro se dirigiram à residência onde ele mora, na Travessa José Fernandes Cruz, no Morro do Jabaquara. Ao questionar o jovem de 25 anos sobre seus antecedentes criminais, os policiais o liberaram após negativa. Eles saíram sem realizar mais perguntas, de acordo com o relato fornecido pelo jovem.

Em seguida, conforme relatado por duas testemunhas, os policiais entraram em um sobrado localizado a poucos metros dali. Lá, eles interpelaram uma mulher que vivia no local com seus filhos, que estavam na creche no momento da abordagem. Supostamente, os dois policiais encontraram Cabral quando estavam deixando o sobrado. Segundo os moradores locais, eles questionaram Cabral sobre seu envolvimento com a polícia, e ao ouvir a confirmação por parte do homem, o levaram para dentro da residência e abriram fogo. Testemunhas afirmaram ter ouvido mais de dez disparos e relataram ter ouvido Cabral implorar por sua vida. Não foram constatados sinais de arrombamento na porta da sala.

Os vizinhos também mostraram à equipe de reportagem que o morador da casa costumava trancar a porta por dentro ao sair para o trabalho, apoiando-se na janela sempre aberta. Dois membros da mesma família também afirmam que um dos policiais disparou em direção aos moradores que observavam a cena de longe. O registro da ocorrência indica que o incidente ocorreu às 10h45, e relatos dos moradores apontam que o corpo de Cabral permaneceu no local até por volta das 14h. Após a saída dos primeiros policiais do local, um grupo de PMs vestindo roupas camufladas e máscaras negras assumiu a guarda do local da morte.

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O corpo de Cabral foi transferido para o Instituto Médico-Legal (IML) sem identificação inicial, mas o boletim de ocorrência foi posteriormente atualizado com seu nome. O jornal descobriu um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) registrado em nome de Cabral como microempreendedor individual. O endereço comercial indicava a Vila Progresso em Santos, a poucos quilômetros do local onde ocorreu o homicídio. A atividade comercial registrada estava relacionada a serviços de entrega.

De acordo com informações do boletim de ocorrência, os policiais do 8º Baep alegaram que foram ao Morro do Jabaquara em busca de suspeitos, algumas horas após uma policial militar ter sido ferida em Santos. A presença deles na região se deu após receberem informações de que os responsáveis pelo ataque haviam se refugiado nas colinas da cidade. Alegadamente, os policiais foram recebidos com tiros provenientes do topo do morro assim que desembarcaram de suas viaturas.

Eles afirmam ter subido o morro e avistado um grupo de três homens, um dos quais estaria portando uma arma de fogo longa, e outro, vestindo uma camisa vermelha, estaria com uma arma curta. Os três indivíduos teriam fugido na direção do topo do morro, deixando para trás um RG (pertencente a uma pessoa não localizada) e um radiocomunicador. Seguindo o relato dos dois PMs, eles visualizaram uma porta entreaberta e decidiram investigar a residência. Afirmam ter encontrado a camisa vermelha jogada em um sofá, bloqueando a porta. Durante a busca no quarto e na sala, Cabral teria supostamente disparado um revólver calibre .38 da marca Taurus. Os policiais alegam terem revidado com tiros de fuzil e pistola. Não há menção a câmeras corporais no boletim. Todas as marcas de tiros na casa estão concentradas no quarto, localizado nos fundos do imóvel. Não há evidência de disparos em direção à porta de entrada, apenas no fundo do quarto, ao lado de uma cama, e na janela do quarto.

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