Servidores sem salários revoltados com exaltação de Governador
Raiva. Incredulidade. Revolta. A servidora aposentada do Estado do Rio Mariuza Apparecida, de 79 anos, cantando sua tristeza numa letra de jazz no fim da fila de distribuição de cestas básicas, no último sábado, mal conseguia acreditar que Luiz Fernando Pezão está tratando da saúde num spa de luxo em Penedo (RJ).
Conforme publicou o colunista Lauro Jardim em seu blog no site do “Globo”, o governador não se internou em nenhum hospital nesta semana que tirou de licença médica. Ele está no Rituaali, um local que se define como um “centro de bem-estar e saúde” para “renovar a mente, o corpo e o estado de espírito”.
Em nota, o governo do estado informou que Pezão se afastou por recomendação médica: “O governador Luiz Fernando Pezão encontra-se, desde domingo, em um centro de saúde, em tratamento de saúde com acompanhamento médico, atendendo à determinação do seu médico, dr. Cláudio Domênico Sahione Schettino. O tratamento será pago pelo governador com recursos próprios, sem qualquer benefício”.
— É revoltante demais! Pezão precisa tomar vergonha na cara. Que loucura! É até difícil acreditar. Deixar os servidores e os aposentados nessa agonia, nesse desespero, e ir para um spa. A gente sofrendo e ele, lá, numa boa! — desabafa a professora aposentada de Matemática e Ciências.
Assim como dona Mariuza, centenas de servidores reclamaram e desabafaram com a situação. “O RJ pegando fogo e ele curtindo a vida”, “Ele deve estar com o pagamento em dia”, ” Enquanto isso os servidores aposentados e pensionistas mendigando uma cesta básica pra não morrer de fome”, “Que absturdo” e “Enquanto ele está no spa , os hospitais não têm nem esparadrapo e gaze pra fazer um curativo1”, escreveram os servidores.
Mariuza enfrentou uma fila enorme, no último sábado, mas não conseguiu os alimentos. Antes de chegar sua vez, as cerca de 500 cestas doadas pelo Movimento Unificado dos Servidores Públicos já haviam acabado. Nem por isso ela deixou de cantar e encantou a todos com sua voz. A aposentada está entre os cerca de 200 mil servidores do Estado do Rio que estão com salários atrasados.
Enquanto Pezão se submete a um programa diário de refeições, atividades e terapias com água, argila e plantas medicinais — incluídas no pacote que varia de R$ 8 mil a R$ 14 mil, dependendo da acomodação na hotelaria cinco estrelas —, Mariuza tenta fazer o “milagre da multiplicação” com os R$ 200 que pegou emprestados com uma amiga para conseguir se alimentar.
— Não merecemos isso. Trabalhamos a vida toda e, por causa da minha idade, nem empréstimo posso pegar. O que esse governador pensa da vida? Se ele entregou o chapéu, devia pedir para sair logo — afirma Mariuza.
Aposentada desde 1985, a professora conta nunca ter vivido uma crise financeira tão grande como a que está enfrentando. Sem a pensão, a professora agora depende da ajuda de amigos e dos trabalhos como cantora para sobreviver, conta:
— Hoje estou com a minha vida financeira completamente acabada. A minha sorte é que moro em um apartamento próprio, que consegui comprar com meu trabalho como cantora. Quem olha a minha despensa ou a geladeira até se assusta. Estou conseguindo me alimentar porque uma amiga me emprestou R$ 200. Nunca imaginei que fosse viver nessa dificuldade.
Além do descaso do Governo, que não pagou os salários de maio, junho e parte do décimo terceiro de 2016, Mariuza sofre mais uma consequência da crise econômica, a redução do número de eventos no estado.
– Consigo tirar um dinherinho quando me contratam para cantar em algum evento, mas até isso está se tornando difícil — lamenta.