Idosos repudiam redução de assentos prioritários nos ônibus

A área reservada aos idosos, muitas vezes, não é respeitada. Eles alertam que, entrando pela porta traseira, terão que contar com o bom senso dos demais usuários ou viajar de pé, no caso de veículos lotados

A área reservada aos idosos, muitas vezes, não é respeitada. Eles alertam que, entrando pela porta traseira, terão que contar com o bom senso dos demais usuários ou viajar de pé, no caso de veículos lotadosFoto: Arthur de Souza

Os idosos já perceberam que, enquanto usuários do transporte público, terão mais um problema para administrar. Com a redução dos assentos reservados para eles, a disputa por um lugar ficou ainda mais acirrada. “Temos zero chance de ir sentados agora, pelo visto“, avaliou a copeira Francisca da Silva, 65 anos. Ela relatou que na última terça-feira fez toda a viagem de volta para casa, por duas horas, de pé – justamente no dia em que o Conselho Superior de Transporte Metropolitano aprovou, definitivamente, a redução dessas prioridades localizadas antes da catraca e o aumento das vagas para cadeirantes e cães-guia.

A autorização veio acompanhada da permissão para a abertura das portas central e traseira dos coletivos para embarque dos passageiros idosos. No entanto, observando a movimentação em várias paradas de ônibus do Centro do Recife, a reportagem flagrou motoristas que não cumpriram a norma. Em uma das paradas da praça do Derby, um grupo de idosos precisou bater no ônibus para ser atendido. “Essa diminuição de assentos é uma inconsequência. A população idosa é muito numerosa, isso vai gerar constrangimentos. Às vezes, prefiro esperar um ônibus que venha mais vazio do que disputar uma cadeira”, disse Maria José de Lima, 78.

Maria da Conceição Duarte, 71, contou que já pegou ônibus com apenas três assentos para prioritários antes da catraca e reprovou a mudança. “Fica muito apertado para o idoso entrar e ficar na frente. Embora tenha a obrigatoriedade de abrirem as outras portas, nem todos os motoristas fazem. Eu fico constrangida porque, geralmente, a parte de trás já está lotada com pessoas sentadas. Vamos ter que depender cada vez mais que outro usuário nos ceda o lugar.”

Folha de Pernambuco questionou o Conselho Estadual dos Direitos do Idoso em Pernambuco, ligado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado, sobre o novo formato. Por telefone, a vice-presidente do Conselho, Lucyana Moreira, disse que não poderia se posicionar porque a mudança ainda não foi levada à discussão. “Geralmente, recebemos a demanda do autor da lei ou do Ministério Público. Ainda não recebemos nada, então não temos previsão para colocar na pauta”, explicou.

O novo arranjo de cadeiras e vagas já estava em estudo em alguns veículos na Região Metropolitana do Recife desde o ano passado, mas a sugestão foi posta em maio de 2017. Um estudo buscou analisar se a redução para três cadeiras ajudaria a reduzir o tempo de embarque e desembarque, o tempo de viagem e a evasão de renda nos coletivos, mas observou-se que nenhum desses problemas tem relação com o número de assentos. Ainda assim, o novo layout foi aprovado. Ainda de acordo com as resoluções do conselho, nem todos os ônibus deverão reduzir suas cadeiras, mas as linhas e carros que serão modificados serão apontadas com o decorrer do tempo, sob a responsabilidade das empresas de ônibus.

Quatro empresas já possuem ônibus que circulam com a nova organização de espaço no Grande Recife. Juntas, a Metropolitana, Globo, Pedrosa e Transcol somam 44 ônibus. Os veículos BRT já possuem dois espaços em 88 deles desde 2014. Mais duas empresas deverão adicionar 150 veículos modificados à frota. De acordo com o Sindicado das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE), uma pesquisa 2015 e 2016 mostrou que um terço (1/3) dos passageiros ocupavam indevidamente a área dianteira dos veículos. O coordenador de operação do Grande Recife Consórcio de Transporte, Mário Sérgio Cornélio, lembrou que, segundo o regulamento, 10% dos assentos devem ser reservados para os idosos.

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