Ilha onde Paquetá nasceu é abalada por acusações de envolvimento do meia em esquema de apostas

Por Lucas Guimarães – Extra

Famosa pela tranquilidade de suas ruas, pelos blocos de carnaval e pelos passeios de, agora, carrinhos elétricos, que substituíram as tradicionais charretes, a Ilha de Paquetá ganhou o noticiário por outro motivo. Segundo investigação da Football Association (FA, a federação inglesa), revelada pelo jornal britânico The Sun, foi daquele pequeno pedaço de terra que saíram as suspeitas apostas para que Lucas Paquetá, meia do West Ham e da seleção brasileira, recebesse cartão amarelo em quatro partidas da Premier League. Com apostas entre 7 e 400 libras (R$ 2,6 mil), os ganhos dos apostadores chegaram a 100 mil libras (quase R$ 670 mil).

Na ilha, onde o silêncio faz parte do dia a dia dos moradores devido a ausência de carros, a inquietação tomou conta devido à peculiaridade do assunto envolvendo o jogador, nascido e criado nas ruas de terra e paralelepípedo.

Almir Souza é amigo de infância do pai de Lucas Paquetá e conhece toda a família do jogador — Foto: Leo Martins
Almir Souza é amigo de infância do pai de Lucas Paquetá e conhece toda a família do jogador — Foto: Leo Martins

Sentado em frente ao seu restaurante com amigos e família, Manoel Eduardo, de 70 anos, disse não conseguir acreditar que o “jovem que praticamente criou” estaria envolvido no esquema. Maneco, como é conhecido, foi treinador de Paquetá no Municipal Futebol Clube, tradicional time da ilha.

— Eu fiz um trabalho comunitário aqui em Paquetá de treinar os meninos. Quando o Altamiro, avô dele, começou a ter problemas de saúde eu assumi o cargo de treinador. Vi ele crescer. Não acredito que ele tenha feito isso. Ficamos muito tristes por aqui com tudo que tem chegado sobre ele — disse ele.

Assim como Maneco, sua esposa Neuza, de 67 anos, também esteve presente no crescimento do atleta e parecia não acreditar na situação:

— O Lucas é cria nosso, sabe? Desde novo sempre foi um menino honesto e de família, com boa índole. Quando vem aqui ele é ovacionado, principalmente pelos turistas. Da última vez, quando veio antes da última Copa do Mundo, a Guarda Municipal teve que fazer a escolta dele. Não é possível que ele vai ser banido do esporte que sempre amou.

Municipal Futebol Clube, onde Lucas Paquetá deu os seus primeiros passos no futebol — Foto: Leo Martins

Municipal Futebol Clube, onde Lucas Paquetá deu os seus primeiros passos no futebol — Foto: Leo Martins

O The Sun teve acesso a documentos da acusação da FA, que incluem a recomendação de que o meia seja vetado do esporte em caso de condenação por manipulação de partidas para beneficiar apostadores.

Clima abalado na família

Apesar da acusação, os moradores ainda creem na inocência daquele que carrega o nome da ilha para o mundo. Quando criança, Lucas Paquetá trabalhou como guia turístico na Pedra da Moreninha, onde ajudava os turistas a subirem o morro enquanto contava curiosidades sobre o local. O motorista Almir Souza, 53 anos, amigo de infância de Marcelo, pai do atleta, comentou que o clima familiar de Lucas foi abalado pelas acusações:

— É óbvio que isso está fazendo mal a eles. Volta e meia eu e Marcelo conversamos, e já cheguei a tocar no assunto, mas não é um clima bom. Tanto que nem ele e a esposa têm vindo para cá. Fui criado desde novo com ele, sei que o núcleo familiar é o melhor possível.

Paquetá se diz inocente sobre o ocorrido e nega ter cometido quaisquer irregularidades. Ele é suspeito de forçar o cartão amarelo nos jogos contra o Leicester, em 2022, e contra Aston Villa, Leeds United e Bournemouth, em 2023. Estima-se que cerca de 60 pessoas tenham apostado que o brasileiro seria advertido pelo juiz em um ou mais desses jogos.

Morador ‘cobra’ de Lucas Paquetá

Apesar do saudosismo, quem mora há menos tempo que os demais conterrâneos acredita que o atleta poderia fazer mais pelo local onde nasceu, que é visto como abandonado por muitos.

Morador da Ilha de Paquetá, Patrick Xavier reclamou do jogador do West Ham e da seleção brasileira — Foto: Leo Martins

Morador da Ilha de Paquetá, Patrick Xavier reclamou do jogador do West Ham e da seleção brasileira — Foto: Leo Martins

— Estou morando em Paquetá tem seis anos, e desde que estou aqui não vi melhoria alguma na ilha partir dele. Não custava nada chegar e reformar o Municipal, o clube está em uma situação precária. Acredito que esse dinheiro não faria falta alguma a ele. O que não queremos é que ele acabe com a carreira dele, mas podia dar uma atenção para quem sempre esteve com ele — cobrou o guia turístico Patrick Vieira, de 21 anos.

O jogador do West Ham tinha até a última segunda-feira para enviar uma posição com os argumentos a serem avaliados na investigação, mas os advogados solicitaram mais tempo e foram atendidos. Ainda não ficou definido quando o recurso precisará ser apresentado. Enquanto isso, o meia serve à seleção brasileira em amistosos preparatórios para a Copa América. No sábado, o Brasil enfrenta o México, às 22h (de Brasília), em College Station, no Texas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *