Implantes dentários podem custar o preço de um carro

Pessoas que perdem os dentes chegam a gastar o valor de um carro no tratamento. Produção de material no país barateou o processo. Clínicas parcelam o pagamento em até 36 vezes

Luiz Ribeiro/Marinella Castro

 

Aparecida Ruas trabalhou
Aparecida Ruas trabalhou “muito” para juntar o dinheiro e recentemente reparou oito de seus dentes. Luiz Ribeiro/EM/D.A.Press

Zenaide Soares, de 34 anos, nasceu em Manga, no Norte de Minas. Há 10 anos ela deixou sua terra natal e partiu para São Paulo, onde trabalha como babá para famílias de bairros nobres na região dos Jardins. Desde que chegou à capital paulista Zenaide tinha um plano que com determinação e disciplina conseguiu cumprir à risca. “Quando vim para São Paulo, eu tinha só dois dentes na boca. Fiz implantes e hoje tenho todos os dentes”, informa a babá, contando que fez poupança e investiu quase R$ 20 mil para cuidar do seu sorriso.

A adesão de brasileiros como Zenaide Soares aos implantes dentários, aliada ao barateamento da tecnologia com a produção nacional do material necessário, tem estimulado o surgimento de negócios especializados no segmento. Outro fator que contribuiu para impulsionar os implantes foi a transformação do mercado, que passou a atingir também as classes C e D. O grande desafio do setor agora é baratear o custo sem perder a qualidade para atender um número maior de consumidores.

Em Belo Horizonte, a Clínica Arcata, há quatro anos no mercado mineiro, inicia 250 tratamentos por mês, sendo que 90% são vinculados a implantes. A empresa atua desde o telemarketing até o tratamento do consumidor. A clínica tem unidades no Rio de Janeiro e BH. Ao todo são cerca de 900 implantes feitos por mês, sendo que 61% são dos clientes da unidade mineira. “Acredito que esta é a década da popularização do implante”, diz Renato Baldan, dentista e sócio da Arcata.

Especialista acredita que esta é a década da popularização dos implantes dentários no Brasil

O especialista afirma que hoje a tecnologia passou a fazer parte da cesta de sonhos dos brasileiros, atingindo especialmente a população a partir dos 35 anos, que compra em média de quatro a cinco elementos. Como o preço de implantes começa perto de R$ 1,5 mil, mas pode superar cifras de R$ 30 mil, a tecnologia concorre em valor com o carro novo. “Nosso maior concorrente é o automóvel, a prestação da casa própria e os novos eletrodomésticos, que também consomem a renda.” Segundo o executivo, a maioria do público prefere parcelar o tratamento. No cartão de crédito é possível pagar o serviço em até 10 vezes.

Aparecida Alves Ruas, de 50, moradora de Montes Claros, recentemente fez implante de oito dentes. Ela conta que não foi fácil realizar o desejo. “Trabalhei muito para juntar o dinheiro. Agradeço a Deus. Foi uma verdadeira graça que recebi.” Sem revelar o quanto gastou, ela compara: “Paguei o valor de um carro usado”.

As clínicas do estado estão criando meios para facilitar o acesso ao serviço. Surgiram diferentes modalidades de pagamento, que pode ser parcelado várias vezes no cartão de crédito ou boleto bancário. “Já existem empresas fornecedoras de material para implante que fazem parcerias com os dentistas e dividem o pagamento por parte do paciente em até 36 vezes”, afirma Robertson Batista, que é ex-presidente regional da Associação Brasileira de Odontologia (ABO) no Norte de Minas. 
Setor cresce e os problemas também
O dentista especializado em implantodontia Marcos Cardoso Leão está há 27 anos no mercado e figura entre os quatro profissionais mais antigos de Belo Horizonte, segundo ele mesmo. Marcos Leão diz que o implante que hoje custa próximo a US$ 660. Há 10 anos custava cerca de US$ 2 mil. No entanto, a despeito da popularização do tratamento, ele faz um alerta importante. O consumidor antes de se decidir pelo implante deve buscar informações.
“Como em todo segmento, à medida que o setor cresce, aumentam também os problemas”, alerta Marcos Leão. Segundo ele, consertar um dente chega a custar o dobro de um implante comum. Além disso, existem os riscos para a saúde. Nos últimos anos ele tem observado crescimento expressivo no número de clientes, que chegam ao seu consultório para consertar erros ou tratamentos malsucedidos, o que o tem preocupado. “Antes de realizar o implante os pacientes deveriam consultar o Conselho Regional de Odontologia (CRO), o Procon e por último verificar com o profissional se ele tem a especialização necessária para fazer o tratamento.”

O professor Robertson Wagner Carvalho Batista, do curso de odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), lembra que dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 26,2% dos brasileiros são desdentados totais e ajudam a expandir os negócios com implantes.

Marcos Leão acredita que a implantodontia deve continuar a crescer na esteira da população que perde os dentes. Mas à medida que as condições de acesso ao tratamento odontológico melhorarem o perfil deve mudar, com foco em setores como a reabilitação oral por acidentes ou causas distintas da prevenção. Ele lembra que um dado positivo divulgado pelo Ministério da Saúde é que 48% das crianças brasileiras com até 12 anos de idade não têm cárie. “Realidade bem diferente de algumas décadas atrás”, avalia.

Com o aumento da concorrência, já existem clínicas especializadas odontológicas que, além do parcelamento, oferecem “promoções” e descontos para quem realiza os implantes dentários. Mas, antes de iniciar o tratamento, a pessoa não deve olhar somente o fator preço e as condições de pagamento. “Para fazer o implante dentário, o paciente precisa estar bem de saúde. Trata-se de um tratamento que exige cuidado, pois depende da capacidade de cicatrização do organismo. É importante que a pessoa faça uma avaliação da saúde e um planejamento protético para saber qual tipo de prótese indicado”, orienta Robertson Batista.

Fonte: Diário de Pernambuco

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