Instituições sitiadas pelos militares

Falta ao Eduardo Villas Boas, assessor de Bolsonaro, moral e credibilidade para dar alertas ao país, a não ser como jogador de pôquer, blefando. 

Foto Rafaela Felicciano – Metrópoles

“Militares precisam ter garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”, declarou, na reunião do Conselho da República, em 19/02/2018, o na época comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas.

Quis alertar aos seus pares de farda que tomassem cuidado, pois virá uma comissão da verdade após o atual regime de exceção ser removido. E ao fazê-lo admitiu que na ditadura militar houve as graves violações aos direitos humanos, apuradas pela CNV, disto decorreu a sua aflição.

Sempre haverá a necessidade de uma Comissão da Verdade quando uma democracia emergir após um Estado autoritário, como o vigente Estado policial.

Numa ditadura há os mais e os menos radicais, mas todos partícipes dela. Os radicais querem o endurecimento permanente e estão à espreita de um motivo, que julguem razoável, para radicalizar a tirania.

Em 1968, usaram um discurso de menos de cinco minutos, de um jovem deputado do MDB, 32 anos, e a negativa da Câmara para que fosse processado, como a “razão” para a decretação do AI5.

O coronel Paulo Malhães, que com sua equipe foi responsável pela minha prisão, admitiu ter participado de sessões de tortura e de várias ocultações de cadáveres e mutilação dos corpos.  Cerca de um mês depois de prestar o depoimento à Comissão da Verdade, foi assassinado, por asfixia, em sua casa, localizada na zona rural de Nova Iguaçu.

Major Sebastião Curió e outros militares também já admitiram, em juízo, que as Forças Armadas jogaram napalm durante o confronto com a guerrilha no Araguaia, atingindo plantações e camponeses da área, assim como cortaram cabeças dos guerrilheiros abatidos.

No dia 16 deste mês de outubro, o mesmo general, agora na reserva e atual assessor do Bolsonaro, numa declaração típica de quem se acha tutor da República, tuitou:

Há de observar e sublinhar que ele, Villas Boas, assertiva que durante todo o século XX assolou o país a descrição de Rui Barbosa, de forma que, mesmo durante os 21 anos de ditadura militar, reconhece que as nulidades, as desonras e as injustiças devastaram o país.

O perigo persiste nas fileiras do Forças Armadas, General, lembre daqueles como o capitão Guimarães, tenente Ailton Joaquim, sargento Rangel, cabo Povoleri, sargento Torres e outros mais, que, além de torturadores e matadores do esquadrão da morte, tornaram membros importantes do crime organizado. E atualmente o tráfico de droga usando caminhões do Exército e até o avião de apoio do atual presidente Bolsonaro, mostra que faltou ao general, quando comandou o Exército, fazer um trabalho eficiente de saneamento das nulidades e desonras.

Falta ao Eduardo Villas Boas, assessor de Bolsonaro, moral e credibilidade para dar alertas ao país, a não ser como jogador de pôquer, blefando.

Quando percorri alguns estados do país, como membro da coordenação da Rede Brasil Memória, Verdade e Justiça, participei em Teresina de um debate, na qual se encontrava um coronel, que enfatizou que a ditadura militar foi operada por não mais de 400 militares, que desmandou sobre milhares de outros.   Outras pesquisas dão sustentação a afirmação desse coronel.

Militares são blefadores, aprendem a técnica de informação e contrainformação e quando na política usam da mesma; vale também lembrar do falso Plano Cohen, utilizado pelo governo da época para fechar o Congresso.

Não sei quais os remédios que o general da reserva, devido a sua doença, toma, mas declarar que a autoestima do povo está voltando, exatamente quando o país está sendo traído e o povo desempregado está passando fome, é alucinação ou muito cinismo.

E conclui o seu delírio esquizofrênico dizendo que “é preciso manter a energia que nos move em direção à paz social”. Que paz é essa com a pregação de ódio pelo bolsonarismo e a fome batendo na porta dos filhos desta mãe gentil, chamada Brasil?

As instituições estão sob sítio de militares de epiderme golpista, mas a Constituição não poder estar sitiada, pois está acima de todos e é dever dos brasileiros, sem distinção,  defendê-la e cumpri-la.

Risco de convulsão social, por ora não há, convulsão mental, com certeza há.

General, tome tenência!

Com todo respeito

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

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