Internet lenta prejudica conteúdo didático

Yuri Silva e Adriane Primo

  • Estudantes de escola municipal de Ilha Amarela utilizam computadores em sala de informática - Foto: Fernando Amorim l Ag. A TARDE

    Estudantes de escola municipal de Ilha Amarela utilizam computadores em sala de informática

A professora de ciências Rosa Lúcia Carvalho, que dá aula para alunos do 6º ano da Escola Municipal Manoel Henrique da Silva Barradas, em Ilha Amarela, se viu obrigada a idealizar um plano de aula que tenha a internet como ferramenta de pesquisa e realização de atividades.

O motivo da mudança após 15 anos como educadora foi uma nova realidade presente em quase todas as escolas: os estudantes estão cada vez mais conectados ao universo digital.

Apesar da boa vontade para elaborar conteúdo que se relacione com a vida prática dos alunos, a falta de qualidade da conexão e de capacitação foram alguns dos problemas que a professora enfrentou sempre que tentou usar o laboratório de informática da escola, problema que persiste até hoje.

“A realidade deles no que diz respeito à tecnologia é o universo conectado com todas essas redes sociais”, afirma Rosa Lúcia. “Não tem como trabalhar sem trazê-los ao laboratório de informática porque a lousa só não funciona mais”, admite.

A professora da escola do subúrbio ferroviário de Salvador se encaixa na regra quando o assunto é o uso de tecnologia para fins pedagógicos em escolas públicas municipais e estaduais. No Brasil, 81% das escolas públicas não têm internet rápida o suficiente para acessar conteúdos, segundo dados da Fundação Lemann.

Articulação

As dificuldades são tantas que quatro entidades sem fins lucrativos – Instituto Inspirare, Fundação Lemann, Rede Nossas Cidades e Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) – se juntaram para medir a velocidade disponibilizada nas escolas públicas do país e cobrar providências dos governos.

Foi criado assim o movimento Internet na Escola e um mecanismo para que diretores ou professores de instituições públicas testem a velocidade da conexão disponível. A medição é rápida e pode ser feita no site www.internetnaescola.org.

No final da iniciativa, com os dados da pesquisa, as entidades vão construindo o Mapa da Conectividade, documento que será entregue ao governo federal identificando os problemas que precisam ser sanados e onde eles estão concentrados.

Na Bahia, até agora, 31 escolas contribuíram com a ação participando da medição. Cinco delas são estaduais e 26 administradas pelos municípios, como a Escola Municipal Manoel da Silva Barradas, onde Rosa Lúcia Carvalho trabalha.

Problemas

A diretora da instituição, Jaqueline Mangueira, que também é professora em uma escola estadual, afirma que a lentidão da conexão  disponibilizada no local é “assustadora”. Na última semana, por exemplo, ficaram três dias sem acesso, por problemas técnicos.

Quando o sinal está funcionando, porém, a situação não é tão diferente. “Para baixar um vídeo, uma música, um filme para exibir em sala de aula, precisamos ter paciência porque demora muito tempo”, conta a diretora. “No tempo em que podemos produzir quatro aulas, fazemos uma só”.

O problema, diz Jaqueline,  desestimula alunos e professores.  Em vez de atrair a atenção, como planejado, afasta os estudantes.

No Colégio Estadual Governador Roberto Santos, no Cabula, a demanda de atividades administrativas somada à inauguração de uma rádio online produzida por um grupo de alunos vai gerar problemas de conexão.

Demanda

É o que calcula o diretor da unidade, Adson da Silva, que já pediu à Secretaria da Educação (SEC) um pacote de internet específico para o novo projeto, que será lançado na próxima quinta-feira.

Atualmente, conta o diretor, a utilização pedagógica da conexão já não é tão ampla. Resume-se, segundo ele, a pesquisas dos alunos do ensino médio regular. Além disso, estudantes do curso técnico em contabilidade usam programas de edição de texto e planilhas.

“Para um colégio tão complexo, com demandas administrativas, publicações de notas online e a inauguração da rádio-web, a velocidade devia ser maior. É preciso uma conexão independente”, diz Adson da Silva.

Ele destaca que, com as tecnologias, professores precisam conscientizar os alunos sobre o que é permitido na internet e o que é considerado inadequado.

Fonte: A Tarde

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