Investigado por desvio de emendas, ‘Rei do Lixo’ teve acesso privilegiado à Câmara dos Deputados
Empresário fez 27 visitas em dois anos e se reuniu principalmente com nomes do União Brasil
A investigação, que foi remetida ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada, apura o elo entre parlamentares e um esquema de desvio de emendas parlamentares por meio de contratos públicos fraudulentos. Moura, apontado como articulador político da suposta organização criminosa, foi preso em dezembro de 2023 e liberado uma semana depois.
Filiação e influência política – De acordo com a PF, a filiação de Moura ao União Brasil, ocorrida em março de 2023, foi um passo estratégico para ampliar sua influência sobre decisões políticas no Congresso. “Marcos Moura, valendo-se de seu prestígio dentro do partido, utiliza suas conexões políticas para expandir a atuação da rede criminosa”, diz um relatório da investigação.
O líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), admitiu ter encontrado Moura em algumas reuniões na liderança do partido, mas afirmou não saber detalhes sobre as visitas. “Eu já encontrei com ele algumas vezes sentado lá na mesa de reuniões da liderança. Com quem encontrou ou deixou de encontrar, eu não sei”, declarou o parlamentar, que também possui um vínculo comercial com o empresário. Em abril de 2023, Elmar adquiriu um apartamento em Salvador de uma empresa ligada a Moura, transação que está sob investigação da PF.
Emendas suspeitas e laços familiares – Parte das emendas parlamentares suspeitas de desvio foi destinada ao município baiano de Campo Formoso, comandado pelo irmão de Elmar, Elmo Nascimento, também do União Brasil. A prefeitura local negou irregularidades e afirmou conduzir contratações “dentro das melhores práticas”. Contudo, o esquema revelou novos desdobramentos em dezembro de 2023, quando o vereador Francisquinho Nascimento, primo de Elmar, foi preso após ser flagrado jogando uma sacola com R$ 220,1 mil pela janela durante uma operação.
Circulação em outros gabinetes – Embora o foco das visitas de Moura tenha sido a liderança do União Brasil, registros mostram que ele também esteve em outros 12 gabinetes de deputados de diferentes siglas, incluindo PSDB, PP, MDB e PDT. O líder do PSDB na Câmara, Adolfo Viana (BA), que recebeu Moura seis vezes, classificou os encontros como “visitas de amigos”. Já o atual ministro dos Esportes, André Fufuca (PP-MA), negou ter se reunido com o empresário e afirmou que a liderança de seu partido é um “espaço coletivo e de acesso público”.
Outros parlamentares, como Leo Prates (PDT-BA) e Professor Alcides (PL-GO), também receberam Moura. Prates descreveu o encontro como “uma visita de cortesia”, enquanto Alcides afirmou que a visita foi motivada por um pedido de emprego para um conhecido do empresário.
Impactos e próximos passos – A amplitude das relações políticas de Marcos Moura e a gravidade das acusações tornam o caso um dos mais delicados envolvendo o uso de emendas parlamentares. Com o avanço da investigação no STF, há expectativa de novos desdobramentos sobre a rede de influência do empresário e sua relação com lideranças partidárias em Brasília.
Especialistas em política avaliam que o caso pode ter repercussões profundas no União Brasil e em outros partidos envolvidos, colocando em xeque a transparência das emendas parlamentares e reforçando a necessidade de maior fiscalização sobre os recursos públicos destinados a municípios.