Lava Jato recebeu empresa isralense que queria vender aparelho de grampo ultrassofisticado
Mensagens apreendidas pela operação Spoofing revelam que, em 2018, empresários de Israel se reuniram com procuradores da força-tarefa no Rio e Curitiba
Novas mensagens da operação Spoofing, que consistem nos arquivos do Telegram de Deltan Dallagnol acessados por Walter Delgatti, revelam que a Lava Jato recebeu uma empresa de Israel com o interesse de comprar equipamento para escutas telefônicas.
A conversa é do dia 24 de janeiro de 2018. Às 18h19, o procurador Júlio Noronha posta no grupo Filhos de Januário 2:
“Pessoal, a FT-RJ (força tarefa do Rio de Janeiro) se reuniu hj com uma outra empresa de Israel, com solução tecnológica super avançada para investigações”, escreveu. “A solução “invade” celulares em tempo real (permite ver a localização, etc.). Eles disseram q ficaram impressionados com a solução, coisa de outro mundo”, prosseguiu.
Julio Noronha diz ainda: “Há problemas, como o custo, e óbices jurídicos a todas as funcionalidades (ex.: abrir o microfone para ouvir em tempo real). De toda forma, o representante da empresa estará aqui em CWB (sigla aeronáutica para Curitiba), e marcamos 17h para vir aqui. Quem puder participar da reunião, será ótimo!
Diogo Castor de Mattos – procurador cuja demissão o Conselho Nacional do Ministério Público determinou por um caso que envolve autopromoção da Lava Jato e falsidade ideológica – concordou em participar.
“Tô dentro”, respondeu. “Vi uma matéria sobre este software. Os italianos usam para escuta ambiental da máfia”, acrescentou. Um procurador identificado como Paulo acusou dor de consciência para usar um equipamento como o que estava sendo negociado com a empresa israelense.
“Confesso que tenho dificuldades filosóficas com essa funcionalidade (abrir microfone em tempo real, filmar o cara na intimidade de sua casa fazendo sei lá o quê, em nome da investigação). resquícios de meus estudos de direitos humanos v. combate ao terrorismo em londres”, declarou.
Júlio Noronha, por sua vez, disse que era importante que todos acompanhassem a demonstração da empresa. “Inclusive serve para ver o q podem/devem estar fazendo com os nossos celulares”, escreveu.
Não é possível afirmar que os procuradores, efetivamente, compraram o equipamento. Porém, na análise dos depósitos feitos em acordos de leniência, o juiz Eduardo Appio não conseguiu rastrear o destino de grande parte de mais de R$ 3 bilhões que estavam em contas abertas pela 13a. Vara Federal de Curitiba.
Ele constatou que, por ordem de Sergio Moro, mais de R$ 6 milhões foram destinados à 6a. Vara Federal do Rio de Janeiro, que na época tinha Marcelo Bretas como titular. A Vara do Rio de Janeiro, no entanto, não respondeu a um ofício de Appio em que ele perguntava sobre o dinheiro repassado pela 13a. Vara de Curitiba.