Por Leda Rivas
Não sabia que o político paraibano João Pessoa havia sido assassinado na sacada do Diário de Pernambuco, como informa conhecido blogueiro local em sua coluna de hoje. Tinha conhecimento, sim, do atentado de que fora vítima fatal, no histórico episódio do 3 de março de 1945 o acadêmico de Direito Demócrito Souza Filho.
Na ocasião, ocorria uma manifestação contra o Estado Novo. Na sacada do Diario, discursaram o jornalista Aníbal Fernandes, diretor do jornal, o sociólogo Gilberto Freyre e o estudante. Uma bala, supostamente, perdida, vinda da Praça da Independência, atingiu este último.
Ao fato e às suas repercussões dediquei um capítulo da minha dissertação de Mestrado em História pela UFPE, subordinado ao tema o Diario de Pernambuco e a II Guerra Mundial. Autor do disparo e alvo do projétil ainda hoje são discutidos. Gilberto Freyre me garantiu, quando do resgate oral da minha pesquisa, que a bala era para ele.
Quem ousaria, mesmo na ditadura, atentar contra uma já celebridade internacional? O estudante não era um “elemento perigoso”, segundo me contou o geógrafo e historiador Manuel Correia de Andrade, seu contemporâneo na Faculdade. Eu, que nem tinha nascido, na época, desconfio que o “dono” da bala seria o destemido diretor Aníbal Fernandes, que provocava o governo com matérias carbonárias.
Após o 3 de março, o jornal foi empastelado. Só voltou a circular 40 dias depois, com um editorial de primeira página, inteira: “Quiseram matar o dia seguinte”. Texto antológico, com a marca de Aníbal.
Quando, um dia, eu tomar vergonha na cara, vou retornar ao assunto e desenvolver uma tese de doutorado na Espanha. Pode ser de quatro dias, por que não?
Ah! E quanto a João Pessoa, ele tomou bala, também, no centro do Recife. Mas foi 15 anos antes, na Confeitaria Glória, num estranho inverno de 1930.