Lira perdeu a compostura porque foi flagrado na descendente: não é Midas, é ouro de tolo
A diatribe verborrágica de Arthur Lira galvanizou apoios e solidariedades ao ministro Alexandre Padilha para além do PT, escreve Costa Pinto
Tendo saído do alçapão do baixo clero do Parlamento brasileiro para os píncaros da glória da presidência da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados num período de escassos cinco anos, o alagoano Arthur Lira conseguiu esconder até a noite da última quarta-feira o imenso rol de defeitos que compõem seu prontuário político. Como escalava a escadaria da fama, todas as iniciativas que abraçava, mesmo as mais iníquas e bárbaras, pareciam reluzir com a intensidade e a força de projetos áureos. Porém, ao ver confirmada por maioria de 277 votos em plenário a prisão preventiva de um colega igualmente egresso do pântano parlamentar, Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos autores intelectuais do duplo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, Lira perdeu a compostura e o verniz dourado que conferiam alguma majestade àquela pedra bruta.
Era ouro de tolo, ou pirita. A pirita é um metal semelhante ao ouro, mas custa uma fração mínima do original. No meio da bandidagem e nas feiras do rolo, até engana muitos desavisados por algum tempo. Depois, vira contrapeso a ser acomodado nas sacolas onde as almas sebosas carregam os bagulhos para seguir tocando a vida.
Para além da humilhação que sofreu com a derrota da tese bizarra e falsa que patrocinou – a de que manter Brazão, provável mandante de um crime político de repercussão internacional, feria a Constituição – Arthur Lira se incomodou com a emersão da evidência flagrante: não projeta mais nenhuma perspectiva de poder em Brasília e nem é ameaça constante ao sucesso do Governo, sua influência declina tão aceleradamente quanto se formam as alianças e blocos para a sucessão interna da Casa. Pior de tudo, na lógica tortuosa das máfias, foi que toda a tortuosa manobra para tirar o tal Chiquinho Brazão da cadeia jogou luz nos porões da Câmara e expôs a desfaçatez e liberalidade com que Eduardo Cunha, patrono e antecessor de Lira no exercício usurário da cadeira de presidente da Câmara, movimenta-se naquele submundo e coleciona lealdades. Para obnubilar tudo, para esconder os maus passos e para turvar a visão dos analistas que davam-no como derrotado evidente da manutenção de Brazão na cadeia, Arthur Lira então mirou no peito do ministro Alexandre Padilha e desferiu o tiro que julgava mortal. Não foi. O cão da arma de fogo trincou e o tiro saiu pela culatra, evidenciando ainda mais o modus operandi chantagista, desqualificado, desleal e atroz do personagem que ainda preside a Câmara dos Deputados.
A diatribe verborrágica de Arthur Lira galvanizou apoios e solidariedades a Padilha para além do PT – também dentro de partidos do “Centrão” partidário que possui três nomes já em campanha para presidir a Mesa Diretora da Câmara a partir de fevereiro de 2025. O chefe da Articulação Política do Palácio do Planalto, que é um dos integrantes do ministério, por ofício, mais próximos do presidente Lula, saiu-se muito bem ao citar Emicida – “rancor é igual tumor” – e recusar-se a “descer ao nível” do antagonista que o havia atacado desmedidamente durante uma feira agropecuária em Londrina no dia anterior. Alexandre Padilha angariou cumprimentos solidários até mesmo dos partidos e dos próprios deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antônio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL), adversários do preferido de Lira para a sua sucessão, Elmar Nascimento (União-BA).
As jazidas de sal gema mineradas pelo deputado de Alagoas no barro seco do Planalto Central renderam algum prestígio e muita influência por tempo já exagerado em face do despreparo e dos déficits de qualidade de Arthur Lira. Agora, as paredes e o teto das covas estão ruindo e podem soterrar junto o prontuário que ele jamais conseguiu converter em biografia.