Livro contra FHC revela fonte que provou compra de votos
Um livro que faz críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) traz uma revelação histórica sobre a compra de votos no Congresso a favor da emenda da reeleição, em 1997. A obra desnuda o nome do homem que naquele ano gravou deputados admitindo a venda de votos. O Príncipe da Privataria foi escrito pelo jornalista Palmério Dória.
A denúncia foi levantada à época pela Folha de S.Paulo. A fonte era tratada nas reportagens do jornal como Senhor X. Ao autor do livro, ele assumiu sua real identidade. Segundo reportagem publicada na noite desta sexta-feira no site da Folha, trata-se do empresário e ex-deputado Narciso Mendes, 67 anos, dono de um jornal e de uma retransmissora do SBT em Rio Branco (AC). Em 16 anos, ele nunca havia falado publicamente sobre o assunto. A seu pedido, seu nome era preservado pelo jornal até hoje.
O depoimento de Mendes admitindo ter colhido as provas da compra de votos é tema dos capítulos 11 e 12 da obra. Na época, Mendes já era ex-deputado. Com bom trânsito na bancada do Acre, ele afirma que aceitou gravar os colegas e entregar o material ao repórter Fernando Rodrigues, autor da série de reportagens da Folha sobre a compra de votos, porque era “intransigentemente contra” a emenda que viria a favorecer FH. O então presidente foi reeleito no ano seguinte, em 1998.
Seu único pedido era a manutenção do anonimato, condição que o jornal aceitou por entender que o interesse jornalístico se sobrepunha à necessidade de revelação de seu nome. Com a iniciativa do próprio em revelar sua identidade, a Folha informa entender que o acordo está encerrado.
Segundo a reportagem no site da Folha, há outra informação polêmica no livro, na Carta do Editor, assinada na introdução por Luiz Fernando Emediato, dono da Geração Editorial. Emediato diz que, em 1991, quando denúncias contra o então presidente Fernando Collor começaram a surgir, ouviu uma confissão de uso de caixa dois da boca do próprio FH numa viagem aos EUA.
Ele afirma, de acordo com a Folha, ter ouvido de FH o seguinte: “A diferença entre nós e eles (a turma de Collor) é que nós gastamos o dinheiro em campanhas, enquanto eles enfiam uma boa parte em seus próprios bolsos”. Por escrito, o assessor do Instituto FHC Xico Graziano afirmou que o ex-presidente não se lembra de ter estado com Emediato nos EUA. Graziano classificou a frase atribuída a ele como “absurda” e disse que ela “jamais teria sido por ele pronunciada”.
Histórico
— Nas gravações do Senhor X em 1997, dois deputados do Acre, Ronivon Santiago e João Maia (ambos do PFL, hoje DEM) diziam ter votado a favor da emenda da reeleição em troca de R$ 200 mil, o equivalente a R$ 530 mil hoje.
— Outros três deputados eram citados de forma explícita nas gravações. As conversas sugeriam que dezenas teriam participado do esquema.
— A denúncia causou abalo no governo tucano, mas o assunto nunca foi investigado. A tentativa de criação de uma CPI foi abafada. O então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, não pediu a abertura de inquérito.
— Em 21 de maio de 1997, oito dias após o caso ter sido publicado, Santiago e Maia renunciaram. Os ofícios enviados ao presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), eram idênticos. Ambos alegaram “motivos de foro íntimo”. (Zero Hora)