Livro reúne 22 poemas inéditos da enigmática Orides Fontela

Orides Fontela morreu em 1998, num sanatório em Campos do Jordão / Foto: reproduçãoOrides Fontela morreu em 1998, num sanatório em Campos do JordãoFoto: reprodução

Em 2009, o potiguar Gustavo de Castro teve um sonho com a poeta Orides Fontela (1940-1998), no qual ela o xingava e cobrava dele que fosse atrás de seus poemas perdidos. O escritor e jornalista tomara contato com ela pela primeira vez em 1998, por meio de um perfil publicado na revista “Veja”, em que já aparecia a personagem controversa, que se privou de tudo em favor da literatura.

O fato o motivou a iniciar a pesquisa que resultou no livro “O enigma Orides” (Hedra), contemplado no programa Rumos Itaú Cultural 2013-2014. O volume foi lançado em conjunto com “Orides Fontela — Poesia completa”, organizado por Luís Dolhnikoff, com 22 poemas inéditos descobertos durante a apuração do romance-reportagem.
— Aquele sonho ficou na minha cabeça — contou Castro, que disse ter ligado para um museu de São João da Boa Vista (SP), cidade natal de Orides, para saber se tinham informações sobre a poeta. — É uma espécie de memorial em homenagem aos ilustres personagens que nasceram lá. A pessoa do museu não sabia muita coisa, mas me passou o telefone do professor Antonio Candido, com quem falei depois por quase 40 minutos.
Candido impulsionou a carreira de Orides depois de se encantar com o poema “Transposição”, publicado em 1965 no jornal de São João da Boa Vista. Davi Arrigucci Jr., professor de teoria literária na Universidade de São Paulo, apresentara-lhe o texto. Ambos ficaram amigos da autora e, segundo Castro, chegaram a ajudá-la nos últimos anos de vida, quando estava doente e sem dinheiro até para o aluguel.
Por quatro anos, Castro entrevistou pessoas próximas a Orides. Entre as mais importantes cita Gerda Schoeder, que ficou com a extensa biblioteca da autora, e Renata Curzel, que acompanhou de perto os últimos anos da poeta.
— Renata conviveu muito com Orides nos últimos anos de vida — conta o autor de “O enigma Orides”, que se concentra nos últimos quatro anos da poeta. — Renata ia visitá-la todos os domingos, elas conversavam muito. Nesse período, Orides estava sem dinheiro e prestes a ser despejada. Renata levou-a para a Casa do Estudante, onde morava, e fez com que ela ocupasse o seu lugar.
O episódio foi marcante porque os estudantes decidiram pela expulsão de Orides, que tentou se matar. Em nova reunião, ela acabou sendo acolhida e dividiu um quarto com o estudante boliviano Grover Calderon. Mais tarde, a poeta foi enviada para um sanatório em Campos do Jordão, onde morreu, em 1998.
Em sua pesquisa, Castro se deparou, em 2011, com 22 poemas inéditos guardados em uma caixa sob os cuidados do advogado de Orides. As caixas tinham textos datilografados em folhas soltas e outros anotados nas contracapas de livros que ela lia.
— Esses poemas anotados nos livros eram como comentários dela. Deve haver outros por aí, porque a biblioteca dela, muito grande, ficou em poder da amiga Gerda Schoeder. E muitos desses livros devem ter sido descartados.
Fonte: Agência O Globo

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