Louis Armstrong grava ‘West End Blues’ e muda o curso da música nos EUA

O West End Blues de Armstrong apresenta um brilhante solo de piano pelo grande Earl “Fatha” Hines, um dos maiores amigos e colaboradores de Armstrong pela vida afora

Em 28 de junho de 1928, Louis Armstrong, então com 26 anos, entra num estúdio de gravação acompanhado de cinco colegas instrumentistas de jazz. Ao sair, tinha mudado a história da música popular. A gravação que Armstrong e seu Hot Five tinham acabado de realizar foi uma canção chamada West End Blues, composta e gravada alguns meses antes pelo mentor de Armstrong, Joe “King” Oliver.

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Louis Armstrong em 1953, com seu trompete

Oliver tinha tomado o adolescente Louis Armstrong sob seus cuidados ainda na sua cidade natal, Nova Orleans. Ensinou Armstrong a tocar de ouvido, convidou-o a participar de sua banda e levou-o, então, em 1922 a Chicago, a capital mundial do jazz àquela época. Armstrong deixou a banda de Oliver em 1925 para uma estada de três anos na cidade de Nova York, onde o seu jeito de tocar provocava um burburinho generalizado na comunidade do jazz. Todavia, somente em 28 de junho de 1928, com a gravação do West End Blues, foi que Louis Armstrong definitivamente deixou de seguir os passos de seu professor e registrou em disco o estilo revolucionário e a técnica virtuosística que faria dele uma sensação internacional.

O West End Blues de Armstrong apresenta um brilhante solo de piano pelo grande Earl “Fatha” Hines, um dos maiores amigos e colaboradores de Armstrong pela vida afora, e uma seção vocal pelo próprio Louis que é um dos exemplos registrados mais antigos de scat singing, ou seja, um modo de cantar palavras sem sentido, como dubidubidá, babedibabá, babedubidabedubabá.

Porém, mesmo sem considerar o restante desta histórica gravação, bastariam as primeiras notas dos 15 segundos de solo de trompete de oito compassos perto do final da canção para fazer dela uma das mais influentes peças musicais da história da discografia. A execução de Armstrong estabeleceu um novo padrão de complexidade rítmica e melódica, devido a sua técnica magistral e, mais importante, pela sua cristalina beleza e conteúdo emocional.

“Às vezes essa gravação me deixa tão triste a ponto de eu me derramar em lágrimas”, escreveu Billie Holliday, a grande cantora de jazz da época, sobre o West End Blues de Armstrong. “No entanto, outras vezes essa mesma bendita gravação me faz tão feliz”. Holliday também mencionou que a técnica instrumental de Armstrong teve uma enorme influência na formação de seu próprio estilo vocal. “Soa como se ele estivesse apaixonado por mim”, disse certa vez ao crítico de jazz Nat Hentoff. “É exatamente do jeito que eu quero cantar.”

A tecnologia imperante em 1928 não permitia o playback, ou seja, a reprodução da gravação fonográfica no estúdio de gravação, de modo que quando Louis Armstrong e o Hot Five concluíram a sessão em 28 de junho, não puderam sequer ouvir o registro, reconhecido pelo mundo musical como tendo uma crucial influência sobre a música popular mesmo sobre o rock and roll. Quando Armstrong e Earl Hines puderam finalmente ouvir o West End Blues, sabe-se que eles próprios ficaram extremamente impressionados como todos os demais.

Sua gravação assinalou uma clara tendência na direção de inovações e improvisos instrumentais como a força motora criativa do jazz. Porém mais do que isto, marcou o fim do jazz como uma simples forma de entretenimento popular e o começo do jazz como forma e estilo inquestionável de arte.

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