Luana Piovani: “Se cada uma contasse o seu caso, aí o bicho pegava”

Na continuação da entrevista, a atriz critica suas colegas porque não denunciaram nominalmente diretores, produtores e atores de cinema e TV que praticaram assédio sexual – e diz que vai contar tudo quando fizer sua autobiografia

Crédito: Gabriela Reis / IstoÉ

Luana Piovani é o caso raro da atriz famosa que não estabelece embargos e censura prévia em entrevistas. Ao longo de mais de uma hora e meia de conversa, realizada no fim de setembro no terraço de um hotel em São Paulo, ela não se negou a responder nenhuma pergunta. Fora da televisão e cada vez mais engajada nas redes sociais, ela se prepara para se mudar para Portugal. Em janeiro, ela, o marido, o surfista Pedro Scooby, e os três filhos vão se estabelecer em Cascais. Na continuação da entrevista, ela conta como vai se virar em Portugal, lamenta a situação do povo brasileiro, aborda o feminismo de última geração, critica a hipocrisia dos protestos das atrizes brasileiras contra o assédio sexual e se diz favorável à liberação das drogas e do aborto, apesar de se declarar evangélica. Em meados 2017, um grupo de atrizes e artistas de televisão se juntou em torno do lema/hashtag “Mexeu Comigo Mexeu Com Todas”. O motivo era protestar contra o assédio sexual do ator de novelas José Mayer contra a figurinista da Globo Stu Tonani. Mas, segundo Luana, enquanto Stu teve coragem de nomear o assediador, as outras não se manifestaram “para não perder o emprego” – atitude bem diferente das atrizes de Hollywood que, em outubro do mesmo ano, lançaram o movimento #MeToo e derrubaram diversos nomões da indústria do entretenimento americana. Segundo Luana, as denúncias deveriam ter o mesmo teor no Brasil –

O fato de ter saído da televisão mudou sua vida?

Não. Isso fez com que eu tivesse mais tempo para mim e fazer coisas que eu tenho vontade. Se eu fosse contratada por uma emissora, duvido que eu tivesse esse tempo para variar.

Você parece ser uma mãe carinhosa com seus três meninos. Você pretende se dedicar mais à família?

Eu nasci para ser mãe. Fui mãe em tudo o que fiz, desde a minha primeira produção, a minha primeira peça de teatro aos 19 anos. Sempre tive essa coisa.  Na verdade é um espírito produtor que nasceu em mim. Gosto de servir, pensar no que as pessoas vão comer, onde elas vão sentar, se a temperatura está boa, se elas estão confortáveis e à vontade. Elas a gente, a equipe, seja qual for o trabalho. Esse é um lado maternal. E ainda fiz teatro infantil. Agora então tenho filhos, imagina? Descobri que definitivamente é minha maior vocação, meu maior talento.

Você tem algum candidato para presidente nestas eleições? Qual deles poderia solucionar os problemas do Brasil?

A solução do Brasil é a educação, não é candidato nenhum. A solução é a gente entender que quem manda é a gente, porque paga o salário do político. Então a gente tem que escolher pessoas de ficha limpa que sejam comprometidas com a democracia para não cometer o mesmo erro mil vezes – e prezar pela educação. Enquanto nosso País for feito de rebanho e não de uma nação de cidadãos, a falta de educação faz com que o brasileiro não saiba que é detentor de direitos e deveres. O Estado não faz com que o cidadão se sinta capaz de crescer, de evoluir, estudar, opinar, de nada. Os políticos querem rebanho, é muito lucrativo.

Você diz que teatro é o que você mais gosta de fazer. Mas por que você se destacou mais na televisão e no cinema?

Depende de como você avalia. Se você partir do princípio de que novela eu só fiz duas, eu trabalhei muito pouco na televisão. Fiz muitas participações em programas e minisséries, como “Comédias da Vida Privada”, “Sai de Baixo”… Essas participações te expõem. Mas fiz mais cinema e teatro do que televisão. Sempre me dizem que sentem minha falta na TV e me perguntam quando eu vou voltar.

Hoje em dia, o ator é muito condicionado pela emissora em que ele trabalha?

A televisão envelopa as pessoas. Acaba que na TV você acaba fazendo o mesmo perfil de personagem.

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