Lucien Paulo, eterno apaixonado por Juazeiro

Ação Popular
O saudoso poeta, escritor, publicitário e artista cultural, Lucien Paulo teve a maestria em saber conduzir e realizar seus trabalhos com perfeição. Em um de seus textos, Ele mostra o seu sentimento de amor e carinho que tinha por sua terra natal: Juazeiro da Bahia. Neste texto ele exalta sua gente, veículos de comunicações, a cultura, suas edificações, em fim, o eterno amor que ele teve por Juazeiro até os últimos dias de sua vida.
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Confira:   
O meu nome é Lucien Paulo, sou de uma cidade, às margens direita do rio São Francisco, no interior da Bahia, chamada Juazeiro. Eu já estava cansado de ouvir falar que a melhor coisa de minha cidade era a vista de outra com seus prédios altos. Não suportava mais ouvir nos veículos de comunicação o quanto a vizinha pernambucana era perfeita, suas avenidas largas, seu shopping majestoso, seus políticos dedicados.
lucien e joselia
batucadas
Lucien foi um grande carnalesco, amou sua gente, sua arte, diviu alegria e amor
Cansei de ouvir: O River é o shopping, o Águas Center é o Junior. Olhava para o rosto do povo do outro lado e via neles tanto ou mais progresso do que na face de nós juazeirenses. Centro de Convenções, suntuosos viadutos, biblioteca futurística, belíssima orla, avenidas lindas, enormes projetos de irrigação, aeroporto internacional, universidade de medicina, além de outras, e para completar um são joão monumental.
pulando no rio cheio
Juazeirense visceral, resolvi passar uns dias nessa quase metrópole para vê de perto essa desigualdade que tanto nos incomoda. Pensei até em me mudar para o torrão pernambucano. Peguei a barquinha e fiz a minha travessia quase turística, desembarquei na casa de um amigo, na Avenida Souza Filho. Era uma segunda-feira e passei o dia caminhando pelas ruas cheias de gente que eu não conhecia, me senti um anônimo veneziano.
Durante a semana visitei a maioria das suntuosas obras que tanto enaltece a grande cidade, percebi que a noite era uma tortura, depois das 22 horas, era um deserto. Onde estaria o povo que faz dessa cidade uma das mais populosas do Pernambuco?
rio sao francisco ponte a noite
Na sexta-feira cheguei à orla quase as cinco da tarde e percebi que o por do sol era diferente, olhei para Juazeiro e o meu coração ficou aos pulos, não conseguia entender que angústia me tomava e comecei a enxergar uma Juazeiro que poucas pessoas conhecem, mas que involuntariamente mora na minha alma senti arrepios.
SORVETERIA IGLU
Como vou viver sem meus amigos? Sem as pessoas que me cumprimentam? Sem as lembranças de Gustavinho e as tiradas de João Doido? Sem o acarajé de Neidinha, sem os freqüentadores de plantão do Bar de Manelão, sem a efervescência da orla, sem os acordes de Xibiu e seu 5.0. Como viver sem a alegria do Armazém Café, e o por do sol no Buraco de Calú? Como viver sem as brigas políticas e o Hino de Nossa Senhora das Grotas? Sem a Ilha do Rodeadoro e as peripécias de Seu Né e Zé Nilton? Como iria viver sem os comentários maliciosos de desafetos no Blog do Geraldo José? Sem as matérias do Jornal de Paganini, do Ação Popular e da Folha do São Francisco? Não poderia viver sem o povo mais bonito e mais alegre do País? Em Juazeiro as ruas são feitas de gente e não de concreto, em Juazeiro a terra produziu filhos em outros lugares, em três décadas a minha terra mandou três grandes desportistas para o mundo (Luiz Pereira, Nunes e Daniel Alves), e aqui continuam brilhando em todas as constelações as estrelas de Dozinho, Artur Lima, Caboclinho, Feijão, Damião, Baé, Carlitão e o maestro da bola, Bengalinha que deram vida ao nosso estádio Adauto Morais.
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barcas antigas
Foi saindo de Juazeiro que Ivete deu acordes de magia à música do mundo, e João criou a bossa, como vou viver sem ouvir Mauriçola em parceria com Assunção cantar que É Imperativo Amar, mesmo a Preta Pretinha de Luiz Galvão. Sem O forró de Sérgio, Raimundinho, Tinho, Wanderlei e Flávio Baião.
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Paulo César e Mauriçola, amigos de Lucien
Onde vou encontrar a inteligência de tantos jovens que derramam saber? Como suportarei a ausência de um carnaval que iguala todos os homens na crítica e na alegria? Ainda sinto o vibrar dos tambores e repiques da Cacumbú, Voz do São Francisco, Piratas Rei do Samba, Pirados do Alto e Imperatriz Juazeirense, nos intervalos desfile dos blocos, Os Inofensivos, Pacíficos da Vila, Tombantes, Turma do Bêco da Porrada e Se Cair Fica.
Revolvo as cinzas e encontro a irreverência de Mato Grosso, Nêgo Dedê, Hilton Bolão e seu Sax, além dos carros alegóricos que faziam de Juazeiro o quinto carnaval do Brasil.
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Nego D’água
Como viver sem os questionamentos com Negão do Edson, Adalberto Mariano, Geraldo José e Cida, Wilson Duarte (O Brocoió) na orla sob o olhar distante do Nêgo D’agua, edificado pelo artista juazeirense Lêdo Ivo?
Não é possível, viver sem os acordes de Targino, a poesia de Manuca, o Grupo Juá multicultural, o teatro de Hertz Felix e Devilles! Nem pensar. Não agüentaria deixar de discutir com meus pares a lembrança de Orlando Pontes meu quase pai, Ermi Ferrari, Edilberto Trigueiros, Edson Ribeiro, Jorge Duarte, Zé Custódio, Gilberto Bandeira, Ultanor Biquiba Guarani, Raimundo Medrado Primo, Saul Rosa, Pedro Raimundo, Chico Romão, Agostinho Muniz, Edésio Santos sinônimo de Amor e Canção, José Mauricio (Diadorim) e saber que eles e outros continuam vivos nas nossas discussões.

Em 28 de maio de 2012 a dupla Neto e Mundinho é recebida por Rolando Boldrin, que toca ”São Francisco”, de Moraes Moreira. Músico acompanhante: Mestre Alvino (pandeiro).

festival auj

Esses poetas, escritores, professores e compositores orgulharam e orgulham a história de todos os juazeirenses. Viver sem a lembrança dos festivais da AUJ não é viver. Sem as Carrancas, os congos, o Reis de Boi, O Auto da Liberdade a Paixão de Cristo, Penitentes, o Samba de Veio, os Ternos da Professora Dinorá, as apresentações no Centro de Cultura João Gilberto, a genialidade de Neto e Mundinho e o cantar de João Sereno entre tantas outras manifestações que fizeram e fazem de Juazeiro um manancial inesgotável de crenças e cultura.
joao gilberto e caetano
Não poderia viver sem estar perto do meu Colégio Rui Barbosa onde tanto aprendi com Eusébio Medrado, Edilson Monteiro, Valni, Professora Perpetinha e Wanda Guerra, Alberto Mariano entre tantos mestres do saber, sem passar quase todos os dias pelas calçadas do Colégio Dr. Edson Ribeiro e também reverenciar o Paulo VI e a sua fanfarra magistral, como viveria sem a presença de Antonilio e Antogildo, principalmente de Bebela filha e mãe da educação e cultura da minha terra?
palacio ideal
Viver sem a proteção das Carrancas e a visão do Vaporzinho, não é viver. Então senti que vivo no melhor pedaço do Brasil.
A FLOR QUANDO CAI DO GALHO, MORRE DE SAUDADE DA RAIZ.
Entendi o porquê da minha angustia e enxugando lágrimas de alegria, entrei na barquinha e voltei para Juazeiro, o grande amor da minha vida. Comemorarei todos os dias o seu aniversário até o último dos meus dias.
Lucien Paulo

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