Lula sanciona Programa de Escola Integral e diz que pretende criar “escola especial de matemática” para “acolher nossos gênios”
Presidente afirmou que o país tem “milhares de gênios” que, se acolhidos, “a gente vai fazer uma revolução ainda nessa primeira metade do século XXI”
O presidente Lula (PT) sancionou nesta segunda-feira (31), em cerimônia no Palácio do Planalto, o projeto que institui o Programa Escola em Tempo Integral. Em seu discurso, ele falou novamente na intenção de fundar no Brasil uma “escola especial” de matemática, para “acolher nossos gênios”.
O presidente disse que o país tem “milhares de gênios” que, se acolhidos, “a gente vai fazer uma revolução ainda nessa primeira metade do século XXI”. “O povo não tem noção do quanto de gênio tinha o Santos Dumont.E aqui no Brasil a gente não está habituado, não sei se é uma cultura nossa, mas a gente não está habituado a criar ídolos, símbolos, pessoas que deram importância. Na verdade, a gente só aprendeu com o Ayrton Senna depois que ele morreu e com o Pelé. Mas a gente não tem símbolos. E a história do Santos Dumont é uma história que merece orgulho. Ele que inventou o avião, o único que conseguiu fazer uma coisa mais pesada que o ar subir, e os americanos criaram a ideia que foram eles que inventaram o avião. Eu acho que nós poderemos ter milhares de gênios espalhados por esse país, que se a gente acolher, a gente vai fazer uma revolução ainda nessa primeira metade do século XXI. A gente não pode esperar para a segunda metade”.
Lula ainda rasgou elogios ao ministro da Educação, Camilo Santana (PT). “Haddad foi o melhor ministro da Educação que eu tive. Pelo que eu estou vendo, o Haddad precisa se preparar, porque eu acho que ele pode perder o pódio se você [Camilo Santana] conseguir fertilizar nesse país um pouco daquilo que é uma qualidade excepcional de um estado como o Ceará. Eu não sei se é porque as escolas de lá são melhores, se os professores são melhores. O dado concreto é que 40% dos alunos que entram no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) estudam no Ceará”.
Sobre a criação do Programa de Escola em Tempo Integral, o presidente admitiu que sua implementação vem com atraso. “A história do nosso país é triste porque a gente nunca fez as coisas no tempo que era necessário e possível fazer. Sempre se utilizava o discurso de que ‘isso é gasto, isso não pode fazer, gasta muito’. A gente nunca se perguntou quanto custou a gente não fazer. Nunca paramos para perguntar quanto custou não alfabetizar esse país no começo do século passado. É só lembrar que até 1920 a Argentina já tinha feito sua primeira reforma universitária e a gente não tinha sequer a nossa primeira universidade. Então no Brasil é sempre tudo muito atrasado. O voto da mulher demorou muito, a libertação dos escravos demorou muito, a independência demorou muito, a igualdade salarial entre mulher e homem só foi feita 20 dias atrás. Então tudo é atrasado. E a escola em tempo integral chega atrasada, porque quem sabe a gente pudesse ter feito há 20 anos, 30 anos. Mas não foi, certamente porque alguém dizia que custava muito. E assim a gente vai levando a vida, e quem vai ficando sempre para escanteio é o povo mais humilde”.
“A educação precisa ser enxergada como o mais importante investimento que pode ser feito. E aí a gente tem que levar em conta a necessidade de os professores terem salários razoáveis, pelo menos. A gente tem que levar em conta a mudança do feitio das escolas brasileiras, porque as escolas brasileiras em muitas cidades são quase como uma caixa em que o aluno entra e fica preso. Não é uma escola prevista para ser uma coisa prazerosa. Por que as crianças não gostam muito de ir para a escola? Porque não é atrativa. Às vezes as professoras e professores não são atrativos na questão de dar aula, o espaço não é atrativo. Então as crianças ficam desestimuladas. Precisamos então recriar essa coisa da criança ir para a escola porque ela está alegre, feliz, vai aprender, vai ter contato com as coisas. Obviamente que é importante a gente saber que [Pedro Álvares] Cabral descobriu o Brasil, mas ele já descobriu. Pronto. Agora, a questão do clima tem que ser discutida na escola, porque se não as crianças não ajudam a educar os pais dentro de casa. Tem um monte de coisa que a gente tem que discutir dentro da escola porque a criança pode mudar a cabeça do pai. O pai tem mais dificuldade de mudar a cabeça da criança do que a criança a cabeça do pai se a criança for orientada para isso”.