O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem usado a negociação dos ministérios com o Centrão para tentar diminuir o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como líder do grupo. As informações são do blog da Julia Duailibi
Lula já declarou pelo menos três vezes, num intervalo de menos de um mês, que não negocia com o Centrão, e sim com os partidos, como PP e Republicanos. Ele também tem reiterado que quer conversar com os líderes e presidentes dessas siglas.
Auxiliares do presidente afirmam que Lula quer passar a mensagem de que Lira é seu interlocutor para assuntos mais institucionais, como a pauta de votações no Congresso. O presidente até está disposto a falar com Lira sobre as trocas nos ministérios, mas não quer entrar em detalhes sobre os cenários.
A intenção do presidente, segundo assessores palacianos, é empoderar outros interlocutores. A ideia é retomar um paradigma de negociação mais parecido com o que havia nos dois mandatos de Lula.
Desfazer a ideia de que Lira é uma espécie de “presidente do sindicato dos deputados”, nas palavras de um auxiliar palaciano. A tarefa é difícil porque Lira acumulou muitos poderes nos últimos anos por atuar como uma espécie de gestor do orçamento secreto, que beneficiou centenas de deputados, inclusive do PT.
A postura e as declarações de Lula têm irritado Lira. Estava previsto, na última terça-feira (1º), um encontro entre os dois, que acabou não ocorrendo por desistência do presidente da Câmara — agora, há uma previsão de que a conversa ocorra nesta quinta (3).
Também na terça, interlocutores de Lira passaram a demonstrar, de forma reservada, descontentamento com a demora de Lula em encaminhar as mudanças nos ministérios, ameaçando inclusive a votação do marco fiscal na Câmara.
O Planalto atribui esses recados a Lira. Ele nega. Publicamente, tem dito que o arcabouço será votado na semana que vem e que cabe a Lula encaminhar a reforma ministerial.
Os recados do entorno de Lira, por sua vez, também irritam Lula, que, numa demonstração de poder, passa a reforçar a ideia de que não tem pressa para resolver as trocas no governo.
Uma peça importante nessa movimentação de Lula é o deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos. Pastor evangélico, Pereira quer disputar a sucessão de Arthur Lira em 2025 e busca apoio do PT.
Um auxiliar de Lula diz que ele só vai definir e propor ao Centrão quais ministérios vão ser negociados após se encontrar com Pereira. O deputado, no entanto, está no exterior, com previsão de retorno apenas no dia 15 de agosto.
Nesta terça-feira, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou, em entrevista coletiva, que Lula iria aguardar a chegada dos presidentes dos partidos que estão fora do país.
Marcos Pereira tem feito um movimento de aproximação gradual do governo. Além das negociações envolvendo o Republicanos, ele já esteve recentemente com Lula no Palácio da Alvorada e recepcionou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em sua casa em Brasília.