Madrasta sem legado: uma tragédia cultural
No último final de semana, Juazeiro vivenciou um marco cultural significativo com a realização da 26ª edição do Festival Edésio Santos da Canção. O evento, tradicionalmente reconhecido por celebrar a riqueza artística da cidade, mais uma vez destacou o talento dos artistas locais, enchendo de orgulho aqueles que prezam pela cultura da nossa terra. No entanto, sob o brilho do palco e das apresentações, emergiram as sombras de uma gestão pública que, ao longo dos últimos anos, tem deixado muito a desejar no cuidado com o setor cultural.
Embora o esforço da equipe de produção seja digno de aplausos, foram evidentes as falhas estruturais no apoio ao festival por parte da administração municipal. A ausência de uma atração de peso, a divulgação insuficiente e a baixa participação do público ressaltaram a falta de compromisso da gestão atual com um evento que, no passado, trouxe a Juazeiro nomes de destaque como Jair Rodrigues, Flávio Venturini, Oswaldo Montenegro, Luiz Melodia, Baby do Brasil e tantos outros.
Esse descaso reflete um cenário mais amplo de abandono cultural. Nos últimos quatro anos, a prometida implementação do Plano Municipal de Cultura não saiu do papel, e o Fundo Municipal de Cultura permanece inexistente. Além disso, recursos importantes, como os da Lei Paulo Gustavo, foram utilizados de maneira controversa e obscura, incluindo a surpreendente aplicação da Lei Aldir Blanc 2024 no carnaval deste ano. Agrava-se o fato de que cerca de meio milhão de reais, que poderiam financiar livros, espetáculos, festivais e outras ações culturais, será devolvido ao governo federal por falta de execução, por má vontade mesmo.
Enquanto municípios vizinhos avançam no fomento cultural, distribuindo os recursos e fortalecendo a cadeia econômica da cultura, Juazeiro caminha na contramão do progresso das novas políticas nacionais de fomento à cultura. Essa negligência não afeta apenas os artistas locais, mas toda a comunidade, pois, ao negar o acesso à cultura como direito fundamental, a gestão nega o próprio direito de ser juazeirense, apagando sua memória, tradição e manifestações culturais tão importantes na formação da identidade de um povo.
É indescritível o sentimento que atordoa o coração dos fazedores de cultura da cidade, uma vez que perdemos o pouco que foi conquistado com tanta luta, enquanto a gestão fez uma campanha milionária e escarnecedora, que zombou e continua zombando da municipalidade, seja na falta de investimento na cultura, seja na ausência de serviços básicos que tem comprometido o funcionamento de toda a cidade.
Sem dúvida alguma, são muitos os desafios da nova gestão no âmbito cultural, esperamos enquanto artistas, que o prefeito eleito honre os votos depositados com a esperança de dias melhores, não só para a cultura mas para todos os setores da gestão municipal, a cidade está sofrida, judiada, suja, e clama por um novo olhar que prestigie o povo, em detrimento de sórdidos planos de poder.
Ainda sobre o Festival Edésio Santos da Canção, vale pontuar que a madrasta da cultura juazeirense nem os pés lá pisou, já o prefeito Andrei Gonçalves, em um gesto de grandeza, fez questão de prestigiar os artistas de Juazeiro, que brilharam muito, enquanto estrelas que são.
João Gilberto Guimarães Sobrinho, é Cientista social formado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, poeta e produtor cultural, editor e fundador da Editora CLAE.