Mais um professor toma coragem para denunciar stalinismo na UFPE

Universidade federal de Pernambuco
Universidade federal de Pernambuco

 

Com algum atraso, o jornal Folha de São Paulo abre suas páginas para tratar do stalinismo na UFPE. Curiosamente, o texto não é escrito por nenhuma das vítimas, como o professor Rodrigo Jungmann ou outro, mas um aliado do atual reitor, leniente e omisso desde o começo com as nefastas ocupações.

Stálin Nunca Mais!

Por Ernani Rodrigues de Carvalho, na Folha de São Paulo desta sexta-feira

No dia 23 de dezembro de 2016, os prédios da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) que estavam ocupados em virtude de protestos contra a PEC 55, que estabelece teto de gastos públicos, foram desocupados. O caso ganhou repercussão nacional por causa do rastro de destruição deixado em dois dos centros ocupados (Filosofia e Artes).

Os prédios foram pichados, secretarias de departamentos e gabinetes de professores tiveram suas portas arrombadas, livros e equipamentos furtados, documentos de pesquisas perdidos e em algumas salas ameaças foram expostas para alimentar medo e terror, como “vai morrer” ou “Stálin matou pouco”.

Mas não parou por aí. No mesmo dia, dois professores foram agredidos fisicamente ao tentar sair da sala de reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Bom registrar que boa parte das ocupações não seguiu esse mau exemplo.

Quais seriam as causas de tamanha violência? Esse desvirtuamento do movimento se restringe a Pernambuco? Difícil explicar sem perder algumas nuances, mas de fato, a polarização política em que o país se encontra no pós-impeachment é o tempero desta opereta.

Inclusive esse tensionamento tem ampliado e vocalizado os extremos à esquerda e à direita. São diversos os eventos de agressões contra políticos, partidos e instituições, um “show” de intolerância em todo o país.

Portanto, não é um sintoma da vida universitária, mas de toda a sociedade brasileira.

Outro elemento igualmente explosivo é o aumento significativo da “partidarização” das universidades brasileiras. Os reitores são eleitos pelo voto e administram orçamentos significativos, o que tem atraído agremiações partidárias e movimentos radicais de diversos matizes ideológicos. Tais movimentos buscam no controle destes orçamentos ampliar sua “hegemonia”.

A esses dois elementos se agrega o discurso de segregação racial e econômica instrumentalizados como um “canto das sereias”, um salvo conduto para justificar suas “ações revolucionárias”.

Esse discurso é tão poderoso que tem ganho respaldo inclusive de esferas institucionalizadas do Estado, tais como a Defensoria Pública e o Ministério Público Federal.

Existe ainda o incentivo de colegas da universidade afeitos à “luta” desses movimentos. Na verdade, alguns deles são verdadeiros “messias”. Interessante como grupos tão críticos são cegos, surdos e mudos na obediência aos seus líderes.

A nota do Movimento Ocupe, que demorou vários dias para sair, é, no dizer de um professor do Centro de Artes que teve equipamentos furtados, “no mínimo insólita”. Seu argumento, engenhado para produzir ilusão deliberadamente enganosa, apoia-se num direito bizarro para justificar seu “procedimento”. A nota está disponível nas redes sociais e definitivamente não possui a grandeza dos movimentos populares. Tenta justificar o injustificável.

Mas o que aconteceu na UFPE não é fato isolado. Em vários Estados e universidades essas violências se concretizaram. Pró-reitores ameaçados, esbulho possessório, professores perseguidos, depredação do patrimônio público, queima de livros ditos de “direita”.

Voltamos à Idade Média? Não há dúvida sobre a necessidade de uma profunda reflexão, bem como a tomada de medidas necessárias para que estes lamentáveis incidentes não voltem a ocorrer.

Ernani Rodrigues de Carvalho é professor associado e pró-reitor para Assuntos de Pesquisa e Pós-graduação da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

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