Major Denice é ‘outsider’ dos sonhos de Rui, mas não deve ter vida fácil em corrida eleitoral

Por Fernando Duarte
Major Denice é 'outsider' dos sonhos de Rui, mas não deve ter vida fácil em corrida eleitoral

Foto: Tiago Dias/ Bahia Notícias

O nome da major Denice Santiago ainda não está cravado como a aposta do PT para a prefeitura de Salvador, porém é tratado como uma realidade para os mais próximos ao governador Rui Costa. Ele conseguiu tirar um coelho da cartola ao costurar a apresentação da responsável pela Ronda Maria da Penha como o nome petista – ainda que formalmente Denice não seja filiada ao partido. Até aqui, é a aposta mais alta na corrida eleitoral da capital baiana em 2020. Rui fez a sua própria “outsider” para testar um elemento surpresa na disputa pelo Palácio Thomé de Souza.

A major é um nome que reúne os requisitos considerados ideais para o debate proposto pela esquerda em Salvador. É uma mulher, é negra e teve origem na periferia da capital baiana. Ainda possui uma carreira na Polícia Militar com grande relevância e impacto social, especialmente depois de assumir o comando da Ronda Maria da Penha. É um nome leve, desconhecido e ainda conseguiria penetrar em setores cuja esquerda tradicional sofreria resistência, uma classe média mais politizada e que reconhece as ações de combate à violência contra as mulheres.

Porém nem tudo são flores. Ao trazer uma figura de fora do PT, há o risco de não engajar a militância com a mesma facilidade de um petista “puro sangue”. Foi uma crítica recorrente quando o então possível candidato Guilherme Bellintani ainda estava no circuito. Para o petismo clássico, não era tão fácil deglutir alguém chegar de fora e querer sentar na janela. Com Denice, o argumento não estaria eliminado, apesar de ser muito mais fácil atrelá-la a pautas defendidas pelo partido – sem o ônus do nascimento político no grupo adversário, como seria o caso de Bellintani.

É preocupante, todavia, um dos argumentos que teria levado a elevação de Denice à condição de candidata. Segundo informações de bastidores, a informação errada de que a major seria a criadora da Lei Maria da Penha, que teria sido observada em uma pesquisa qualitativa, estaria incutida na mente de cerca de 30% da população soteropolitana. Usar a desinformação a favor de uma candidatura é algo que merece ojeriza, principalmente da esquerda, que acusa os adversários de fazê-lo com frequência, especialmente quando o presidente Jair Bolsonaro é o atacado da vez.

A comandante da Ronda Maria da Penha ainda não deu o aval definitivo para a candidatura. Apesar de parecer que ela não tem nada a perder, o estômago para enfrentar uma campanha eleitoral é algo que falta até mesmo para políticos profissionais. Para quem combater a violência contra a mulher se tornou uma realidade diária, Denice pode tirar de letra o ringue que se torna uma disputa por votos. Estaria ela disposta a brigar em um terreno desconhecido? (BN)

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